ELETROCARDIOGRAMA PAULISTA.

Um poema cardíaco. g., 9–8–16

Gabriel Schincariol Cavalcante
Medium Brasil

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São Paulo tem um grande coração

E por seus átrios e por seus ventrículos

Entram e saem uma porção

De litros de sangue

Feitos de fumaça

Feitos de asfalto

Feitos de concreto

E de loucura

e poluição.

São centenas de anos

Trabalhando continuamente

Para bombear todo esse sangue

Toda essa gente

Pelos órgãos, pelas vias

Pelas ruas, avenidas

Da capital paulista

Do mundo-cão.

São veias e artérias

Preenchidas e entupidas

Pelo sangue de preto

E de pobre

E de puta

E de homem

E de polícia

E de ladrão

É sangue de gente

É sangue de bicho

Sangue humano, sangue sujo,

Sangue limpo, sangue azul

Todos canalizados

Pelo centro, pela favela,

Interrompidos pelo ódio, pela miséria

Bebidos pela boca sedenta

Da corrupção.

São tantas doenças

Acometendo a cidade

Mas ela não deixa de pulsar

E pulsar

E pulsar

E gritar em português

Inglês, francês, japonês,

Ô liberdade!,

Espanhol, crioulo,

Qualquer que seja a língua

Entre os edifícios

Correndo pelo asfalto

A voz é uma só

É a voz da insanidade

Da esperança

Da infelicidade

Da luta

Da bonança,

É a voz do homem e do menino,

Das moças pelo caminho,

Do gari e do prefeito,

Da cidade de São Paulo

Gritando os seus feitos.

São tantas pontes

Servindo de teto

Para tantas famílias

Com tantas histórias

Todas famintas e sozinhas

No meio da multidão diária

E embaixo da terra

Ainda há sangue correndo

Dentro de cada vagão, cada partida,

Cada estação uma história de vida,

Palmeiras-Barra Funda, ou no

Butantã,

É gente de monte correndo

Atrás do dia de amanhã.

São os carros, os ônibus,

As faixas, o trânsito,

De fora tudo parece

Parado, atravancado,

Lento, mutilado,

Mas olhe bem.

Olhe bem, bem de perto,

Olhe nos olhos dessa cidade

E da sua gente e da sua história

Ouça atentamente

O pulsar

Pulsar

Pulsar

De São Paulo.

Olhe

Ouça

Vê?

São Paulo é movimento.

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