Lucas Teixeira
Medium Brasil
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2 min readMay 3, 2015

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Apenas mais uma das quedas de minh’alma. A capacidade de escolher entre o Rivotril e o LSD. As vadias cantantes, autoconsagradas as novas sufragistas. Os garotos aleijados. Os prodígios da linguística. A perspectiva assustadora da probabilidade, ou como um dos meus professores costumava chamar, a Entropia. Todos os fantasmas. Bruna, Julia, Marina. O livro do apocalipse ante aos ponteiros digitais que marcavam rigidamente, 11h42 –como o chamam, o dia de hoje.

Ainda pouco fechei as cortinas do meu quarto para que a claridade não chegasse aos meus olhos, e esse é o tipo de barganha que apenas os covardes conseguem lidar.

Nada parece bom o suficiente de manhã para me fazer deixar o seio dos lençóis e fronhas. Não a sede. Não a velada vontade de fumar, e não a rotineira ereção matinal, além do mais tudo parece irrelevante sobre a ótica das minhas expectativas.

São aqueles dias de sábado, vocês me entendem? Quando a brisa é fria e quase nos convence de que essa é uma boa cidade para se viver. Mas o dia insiste em seguir então me banho. Ponho algumas roupas, definitivamente não as melhores do meu guarda-roupa, uma camiseta que roubei de um dos meus amigos estampada com o Ray Charles e uma bermuda caqui mais curta do que se entende como aceitável para um homem tão alto e peludo como eu. Perfumo-me, porque talvez eu queira impressionar alguém, talvez a chaleira ou a pilha de papéis em cima da cabeceira da cama. E desço até a cozinha, descalço, porque convém e é de meu agrado. A geladeira está cheia mas nada parece me agradar, honestamente, de quem é a culpa? Leite sem lactose, iogurte de morango, queijo do tipo frescal, e tigelas com todos os tipos de restos, feijão de quarta-feira, macarronada de anteontem, risoto de ontem, como eu disse, muitos restos.

Não me senti bem esta manhã. Não me senti bem na terça-feira. E as irmãs Melancolia e Ansiedade fizeram reservas para o resto da semana pelo que parece. É um concerto programado, executado de maneira previsível.

O grande maestro, regente da mais elegante forma de autopiedade, não veste smokings e sapatos italianos. Não, ele anda de ônibus. Ele sorri e dança aos sons da juventude. Ele mantém o suor de suas mãos nos bolsos das calças. Ele brinda à Húbris. Dirige um Corsa Classic 1.0. Ele fuma Marlboro, e se parece bastante com você e eu.

Fotos de dias amarelados, os teus sorrisos tortos e o acalanto dos dias.

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