Falha crítica

Rafael Barbosa
Medium Brasil
2 min readOct 10, 2023

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Meu oxigênio está acabando.

O visor do traje mostra que tenho menos de três minutos antes de começar a respirar o meu próprio gás carbônico.

Surpreendentemente, estou lidando muito bem com o fato de que tenho menos tempo de vida do que a duração da música Mystery do Turnstile.

I know you’re scared of running out of time
But I’m afraid too

Sim, estou ficando sem tempo. Mas não estou com medo. O que eu sinto nesse momento é uma tristeza profunda por todas as “últimas vezes” que deixei passar sem saber que seriam as últimas.

O último beijo.

O último sorriso, tão forte que iluminaria a escuridão ao meu redor.

O último cochilo à tarde, sentindo-a se ajeitar em meus braços procurando a melhor posição.

Me disseram que os riscos eram mínimos.

Que a probabilidade de dar errado era de uma em dezesseis milhões.

Acreditei.

Se tudo desse certo eu poderia voltar e consertar as coisas. Afinal, não existe cobaia melhor do que uma pessoa desesperada.

Dentre todos aqueles desesperados, fui o vencedor.

Era um acordo simples: se der certo, comprovamos a nossa teoria e você terá a chance de consertar tudo o que precisa.

Se der errado — e as chances disso acontecer são mínimas — ninguém saberá o que aconteceu com você.

Sem pagamentos, sem indenizações. Apenas a chance de voltar e corrigir algumas coisas.

Voltar… corrigir… minha consciência começa a fraquejar.

Sinto como se estivesse no espaço. O meu corpo é leve. Mais leve que uma pluma. E fica mais leve a cada segundo.

Estou sentindo fisicamente a sensação de ser esquecido. Quero chorar, mas já me falta ar.

Já se passaram quase seis minutos. Meus olhos se fecham e a escuridão me abraça.

Um último abraço.

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Rafael Barbosa
Medium Brasil

Eu escrevo. Às vezes sai algo legal. Insta: @rafabarbosa