Falha crítica
Meu oxigênio está acabando.
O visor do traje mostra que tenho menos de três minutos antes de começar a respirar o meu próprio gás carbônico.
Surpreendentemente, estou lidando muito bem com o fato de que tenho menos tempo de vida do que a duração da música Mystery do Turnstile.
I know you’re scared of running out of time
But I’m afraid too
Sim, estou ficando sem tempo. Mas não estou com medo. O que eu sinto nesse momento é uma tristeza profunda por todas as “últimas vezes” que deixei passar sem saber que seriam as últimas.
O último beijo.
O último sorriso, tão forte que iluminaria a escuridão ao meu redor.
O último cochilo à tarde, sentindo-a se ajeitar em meus braços procurando a melhor posição.
Me disseram que os riscos eram mínimos.
Que a probabilidade de dar errado era de uma em dezesseis milhões.
Acreditei.
Se tudo desse certo eu poderia voltar e consertar as coisas. Afinal, não existe cobaia melhor do que uma pessoa desesperada.
Dentre todos aqueles desesperados, fui o vencedor.
Era um acordo simples: se der certo, comprovamos a nossa teoria e você terá a chance de consertar tudo o que precisa.
Se der errado — e as chances disso acontecer são mínimas — ninguém saberá o que aconteceu com você.
Sem pagamentos, sem indenizações. Apenas a chance de voltar e corrigir algumas coisas.
Voltar… corrigir… minha consciência começa a fraquejar.
Sinto como se estivesse no espaço. O meu corpo é leve. Mais leve que uma pluma. E fica mais leve a cada segundo.
Estou sentindo fisicamente a sensação de ser esquecido. Quero chorar, mas já me falta ar.
Já se passaram quase seis minutos. Meus olhos se fecham e a escuridão me abraça.
Um último abraço.