Garçom, traz um malbec… pensando melhor, pode ser aquela jarra de água grátis.

Quando até os mais simples exemplares nacionais são tratados como néctar divino, pedir vinho num restaurante pode ser considerado desprendimento material.

Akminarrah
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Como consumidor e apreciador de vinho, além de garimpar garrafas em mercados e lojas online, passei a procurar a bebida também em restaurantes e bares por onde passo.

Apesar da minha frequência nesses lugares não ser lá tão grande, devido aos preços altos e serviços ruins oferecidos no Rio de Janeiro (os quais me recuso a patrocinar), reparei que há uma boa variedade de rótulos oferecidos na cidade. Obviamente não estou falando das casas que trabalham com a alta culinária internacional e suas amplas adegas com controle de temperatura, além de sommeliers para auxiliarem na harmonização dos pratos. Falo daquele local limpinho com pratos entre R$25 e R$45, que dentre suas opções de bebidas figuram tintos nacionais, chilenos, argentinos e, vez ou outra, do velho mundo, ou que chegam a oferecer carta de vinhos com uma boa variedade de rótulos. Entre eles há uma ligação: o preço do vinho.

E é nessa hora que acontece a puxada de tapete. Ao mesmo tempo que parecem te dar a oportunidade de curtir sua refeição acompanhada de uma taça de tinto ou branco, eles impõem seus preços astronômicos, praticamente dizendo que você não pertence àquele lugar se não puder pagar três vezes o valor de mercado da garrafa.

Entendo que o “serviço” tenha seu preço, afinal o garçom abre a garrafa, coloca dentro de um balde com gelo, te serve e, com muita sorte, te serve novamente quando sua taça esvaziar (essa última parte é tão rara que nem precisava ter sido escrita, mas achei que valia mencionar).

Quando penso em pedir um vinho, instintivamente comparo os preços cobrados com os que encontro no varejo. Considero uma ação natural pra avaliar o quanto estou pagando a mais num produto que já conheço. Lojas tem sua margem de lucro, supermercados que compram em atacado tem outra, pela internet é quase sempre mais barato (sem contar o frete), mas os restaurantes nunca trabalham com menos de 150%. Isso significa encontrar um Almadém (a linha mais simples da Miolo) de R$10 sendo vendido a R$25.

Exposto “desde sempre” sobre o balcão, na vertical, com luzes fluorescentes fazendo a festa através do vidro da garrafa, à temperatura ambiente de 35ºC no Rio, você inevitavelmente se pergunta “por quê?”.

Não é possível que haja uma explicação satisfatória para os valores cobrados pelos vinhos nesses restaurantes. Se o custo de se manter algumas garrafas na despensa (percebam que nem falei em adega climatizada) fosse realmente tão elevado e os estabelecimentos dotados de garçons com o mínimo de preparo (novamente estou utilizando o parâmetro mais básico) com noções de como servir, saber informar se todos os vinhos oferecidos pela casa estão disponíveis e, por último, não raptar a rolha após a abertura do vinho, talvez se justificasse parte do sobrepreço que nos é empurrado, mas não é assim.

Talvez o que motive os proprietários desses estabelecimentos a cobrar valores tão altos seja o equivocado glamour atribuído aos vinhos, que faz com que sejam tratados como símbolos de status e sofisticação. Criando com isso a falsa impressão de que as pessoas estão dispostas a pagar qualquer preço para desfrutar deles. De fato alguns estão, mas não sei se o fazem porque não dispensam uma taça em suas refeições ou por total desconhecimento do valor real daquelas garrafas.

Especulações à parte, só tenho uma certeza: pagamos caro para receber um serviço ruim harmonizado com Sangue de Boi a preço de Chateauneuf du Pape.

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Akminarrah
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Eu sou a pessoa mais parecida comigo que conheço!