I Origins, um olhar diferente para o universo do cinema atual

Odemilson Louzada Junior
Medium Brasil
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2 min readJun 12, 2015

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I Origins, que em português recebeu o título de “O Universo no Olhar” perdendo o trocadilho do original em inglês, foi é um filme que me surpreendeu. Achei nele não uma obra prima, mas um filme admirável e honesto, um filme em certa medida até muito simples. O que faz com que ele seja o tipo de filme que você não esquece obrigatoriamente 5 minutos depois que termina a sessão, é trazido pela sutileza, adjetivo que está cada vez mais raro, seja por conta do superlativo do cinema pipoca, seja por conta da exigência de um caráter de “performaticidade e chocância revolucionária” do cinema dito “de arte”. Assim, poder assistir uma história suficientemente inteligente por explorar a tão batida dicotomia entre ciência e espiritualidade com a raríssima habilidade de fazê-lo sem tomar partidos nem parecer condescendente com nenhum dos dois lados é digno de nota.

Sim, os cientistas também amam.

O roteiro é intrincado na medida certa, complexo sem ser pedante, com apenas um ou dois momentos em que a mão pesa um pouco no texto, mas que de maneira alguma comprometem o desenvolver de uma bela história. O filme traz uma atuação competentíssima de Michael Pitt (não por acaso um ator experiente em interpretar personagens conflituosos ou perturbados) dosando na medida certa o caráter científico e racional de seu Ian Gray com um toque de humanidade sempre presente, o que fez com que seu cientista soasse crível, humano, e sensível, a despeito de ser um homem nada, digamos espiritual. Um excelente drible no estereótipo idiota tão difundido no cinema do “cientista frio e calculista”, e qualquer um que conviva com alguém da área da pesquisa científica vai saber exatamente do que estou falando.

A direção de arte, a fotografia e a trilha sonora atmosféricas também contribuíram para dar o tom poético e onírico que muitas vezes foi necessário para alimentar a experiência que é o filme, que sem essa combinação se tornaria uma obra muito mais seca, o que atrapalharia demais o equilíbrio de seu propósito.

Por fim, recomendo fortemente! Trata-se de um filme onde um raro equilíbrio de forças consegue criar uma peça que se destaca no oceano de mesmice que em certas épocas acomete o mundo do cinema. Uma peça de cinema que consegue estimular o pensamento e possui elementos que agradarão tanto aos amantes da razão quanto aos servos da emoção.

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Odemilson Louzada Junior
Medium Brasil

Desde 1974 driblando a lei de Murphy. Conseguindo na maioria das vezes.