‘Love’, nova série da Netflix. Assista!

Leobaldo Prado
Medium Brasil
3 min readMar 1, 2016

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Sabe aquela série que cativa logo nos primeiros minutos? Não, essa aqui não é assim não. É preciso um pouquinho de paciência para que você acredite naquelas pessoas comuns. Como é que uma princesinha tão fofa como a Mickey pode ter um namorado/ex-namorado Grau máximo na escala Bolsonaro-Dolabella de homens escrotos e repulsivos?

Mas aí os episódios vão passando rápido e você descobre que faz todo sentido: a autodestruição é um dom, fina arte exercida por poucos exemplares humanos com tanta excelência, e Mickey é um desses seres. Ela é linda. É chata. É mala. É um desastre. É adorável.

E tem o Gus, uma espécie de Woody Allen desencanado, sem o peso daquela dissertação de mil e duzentas páginas sobre Nova Iorque, o sexo, o incesto e a questão judaica. Gus também faz terapia e também tem aquele jeitão de quem acredita que o bacana é perder, mas as semelhanças acabam aí. Ele é legal, é decente, acredita no amor e e tem amigos de verdade, do tipo que você chamaria para jogar Academia (lembra desse jogo?), para o bem ou para o mal.

Por que ver Love, com tanta coisa pra ver?

Isso aqui não é um review, portanto, não espere comentários bem informados sobre Judd Apatow e a tendência pós-moderninha de optar por losers e desajustados como protagonistas. Pra te explicar isso tem o Omelete e outros sites ótimos com críticas.

Tudo que eu sei é que “Love” é a história de duas pessoas de trinta e poucos anos, com talentos diferentes para alcançar quase sempre o mesmo resultado, por mais que se esforcem: derrotas e solidão. Isso explica a série, mas é um tanto injusto, pois assim você não teria razões para assistir. E vale muito à pena!

É sobre o amor? Não. É sobre ser nerd? Não. É sobre ser jovem? Não. Uai, então é sobre o quê?

Ok, talvez seja sobre o amor, mas acho que a série tem mais a ver com aceitar as cagadas que se acumulam semana após semana e que, em conjunto, chamamos de vida, quando acrescentamos uma ou outra risada, um ou outro beijo. Se pareceu meio deprimente, aí é que está. Não é.

É uma comédia, afinal. E lembramos disso especialmente quando surgem figuras como Bertie, a australiana que divide a casa com Mickey. Ela é tão boa que você quase começa a torcer pra série ser dela. Se alguém merece ser feliz, é essa criatura. Só mesmo alguém como a Mickey pra magoar alguém como a Bertie.

Um pouco de contexto

Mickey é produtora de um programa de rádio sobre conselhos sentimentais e terapêuticos apresentado por um idiota. Gus é professor de estrelas mirins no set de uma série de TV imbecilóide chamada Wichita, que se passa nos anos 50 e tem algo a ver com meninas que se tornam bruxas e ganham poderes quando vem a primeira menstruação (!!).

Os dois ambientes dão ótimas deixas para as pequenas tragédias que alimentam as delícias e as desgraças de estar vivo. O encontro entre os protagonistas é fortuito e o caso entre eles é improvável. Tem momentos em que funciona, e em outros, não. Mas o mérito, no meu modo de ver, não está no romance central, que quase nem existe mesmo…

O mérito está em fazer você acreditar que aquelas pessoas poderiam estar vivas. Que você poderia encontrá-las num domingo qualquer, na padaria ou na loja de conveniência. Elas não te veriam, mas você as seguiria o dia todo…

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Leobaldo Prado
Medium Brasil

Jornalista, locutor / narrador. Produtor e apresentador do podcast de literatura ‘Verso da Prosa’