Matheus Laneri leu: Morri Para Viver

Matheus Laneri
Medium Brasil
Published in
5 min readAug 20, 2015

Depois de Matheus Laneri entrevista e Matheus Laneri entrevista (por Whatsapp), chegou a hora de um novo espaço aqui: o Matheus Laneri leu. E essa estreia já analisa o livro mais importante do mercado brasileiro em 2015: Morri para viver — meu submundo de fama, drogas e prostituição de Andressa Urach.

Como todos bem sabem, este espaço no Medium acompanha de perto a carreira de Urach com enorme respeito e admiração. Cheguei até a lançar um questionamento de quem poderia substituir o furacão loiro no jornalismo de fofocas brasileiro, onde encontrei uma possível candidata, mas que ainda tem muito a mostrar.

Andressa Urach é a personalidade brasileira que todos amam odiar, mas que também amam ler tudo o que sai sobre sua vida desde que estourou para o mundo em 2012 quando foi vice-Miss Bumbum, um dos concursos mais importantes do país. Ao noticiar que lançaria uma biografia contando a sua tumultuada vida, muitos desconfiaram do que viriam por aí.

Essas suspeitas aumentaram quando trechos do livro começaram a ser divulgados para os grandes portais, com histórias do naipe da modelo/barraqueira/vice-Miss Bumbum incorporando a POMBAGIRA para fazer anal sem lubrificante, sexo com cachorro, com o meio-irmão entre outras histórias no mínimo pitorescas.

Mais do que um livro com histórias absurdas, Morri Para Viver é um grande exorcismo que Urach colocou no papel. A gaúcha dividiu o livro em quatro partes, começando pelo fim narrando todo o episódio envolvendo o hidrogel e o que aconteceu no Hospital Conceição em Porto Alegre; depois, a modelo analisa seu passado, a escalada para a fama e a descida para o inferno particular e, por fim, a grande redenção.

Ao abrir o livro já temos na orelha uma comparação entre Urach e a mãe do rapper Kanye West que foi feita pelo conceituado Washignton Post e só com isso você já sente que vem coisa boa. Toda a história envolvendo o que aconteceu no episódio do hidrogel é incrível, com direito a uma cena que eu espero sinceramente ver nos cinemas que é o encontro de Andressa e Deus. Essa parte é quase que surreal, algo meio Preacher de Garth Ennis (uma série de gibi da Vertigo, recomendo a leitura), com a gaúcha desempenhando um papel de Jesse Custer conversando com o Criador e sendo mandada de volta à Terra.

O livro então se aprofunda no passado de nossa heroína, com a revelação de seu trágico passado, com direito a abusos por parte do padrasto, espancamentos por parte da mãe, cachorro lambendo a parte íntima dela, sexo com o meio-irmão e por aí vai. Analisando seriamente essa parte fica claro que todo o histórico de Urach foi o que transformou ela na pessoa que acabamos conhecendo pela mídia.

Mas o crème de la crème do livro é realmente quando ela tenta conquistar a fama a qualquer custo com direito a banho de mel e sal grosso, discussões com garotas que fazem amor por dinheiro, macumbas e as 14 cirurgias plásticas que realizou. Ela também explica o porquê de ter ganho o apelido de Wolverine: de tanto fazer transformações em seu corpo e sempre se recuperar de maneira espantosa — além de ter algumas cicatrizes — ganhou o apelido do mutante canadense mais famoso da Marvel. Assim como Wolverine, Andressa Urach tem suas cicatrizes externas, mas outra similaridade que compartilham são as cicatrizes internas. Principalmente aquelas que não cicatrizam: a da alma.

Nessa parte o livro vira um grande blog da Fabiola Reipert em que a grande diversão é descobrir quem são as pessoas com quem ela transou que não têm os nomes citados. Alguns são fáceis de descobrir, outros exigem um trabalho mais acurado dos detetivões. Todo o episódio envolvendo o seu affair com Cristiano Ronaldo e a desastrosa tentativa de armar um flagra em um hotel é também um grande destaque

No final a obra é meio que uma panfletagem da Igreja Universal, que obviamente foi quem financiou o livro. Inclusive rola uma analogia velada e intrigante entre Andressa e Raabe, a prostituta que foi perdoada por Deus. Na verdade o livro inteiro é meio que uma panfletagem dela, se você parar pra pensar.

No final das contas, a história de Urach vale a pena ser lida, mas fica difícil acreditar em alguns trechos do livro, pois não há como comprovar. Em alguns casos fica parecendo uma grande fanfic, cabendo ao leitor acreditar ou não se aquilo é verdade. A obra também é recheada de preconceito contra religiões africanas, como a passagem que Andressa deixa implícito (ou explícito) que se transformou em prostituta sem escrúpulos por conta de um pacto/ritual.

Outro fator negativo é que, por conta da sua atual persona religiosa, diversos pontos foram deixados de lado ou não foram aprofundados. É nítida a falta de Cacau Oliver no livro, que foi quem transformou a gaúcha em uma máquina de notícias e até de outros nomes como Rebeka Francys (a miss bumbum evangélica), Indianara Carvalho e Denise Rocha, por exemplo.

Seria interessante ler uma versão alternativa da biografia sem a pegada religiosa, com Urach realmente interessada em contar a história de sua vida de uma maneira sem limites e freios morais. Acredito que seria um livro muito mais divertido, algo na linha de “Identidade Frota”.

Mas o importante é que Andressa está feliz e uma passagem do livro resume isso com uma fala do seu cirurgião plástico: “A maior plástica pela qual ela já passou aconteceu na sua alma”.

UPDATE 24/08

Tive o enorme prazer de conhecer Andressa Urach na sessão de autógrafos que aconteceu em São Paulo. Muito simpática, Andressa realmente parece outra pessoa, até o seu tom de voz mudou. Realmente Deus perdoou essas pessoas ruins.

Espero que suas fanfics (ou não, vai que é tudo verdade mesmo. Espero que sim) façam muito sucesso nesse mundão.

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