Mc Brinquedo:
A vanguarda vestida de funk ousadia

/NandaChavz
Medium Brasil
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5 min readApr 28, 2015

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Quando o talento se sobrepõe à idade e ela passa a ser um número meramente obsoleto

Por @nandachavz

Vinícius era um típico menino da periferia de São Paulo: família humilde, aluno de escola pública e que passava suas tardes brincando, fazendo peraltices e zanzando pelas vielas e ladeiras de seu bairro…

Essa história se repete e passa batido aos ouvidos e mentes das pessoas, tendo em vista que há milhares de crianças e adolescentes em todo o país que vivem situação semelhante. Mas já adianto:

Essa não é qualquer história e este não é qualquer garoto.

Vinícius, como muitos guris, era fã do universo funk. E isto não atinge só a massa da periferia, não: transite no universo infantil da atualidade de qualquer classe social e pergunte quais são seus artistas preferidos. Analise o guarda roupa da molecada e veja se não vem de encontro com a proposta que o funk acredita. De Annita a Mc Gui, o ritmo dançante não escolhe cor, credo, poder aquisitivo ou faixa etária. O funk sai da favela e vai para o mundo.

Mas, o funk tem raiz na favela. E Vinícius, oriundo dela, foi além: Ele começou a compor e cantar funk. E funk dos bons, funk ousadia. Daqueles que “pega as novinha de quatro”. E assim conquistou a posição de artista ícone dessa genuína categoria.

Sejamos francos: ele é criativo.

“Mas oras, um guri de 13 anos? Cantando pornografia? Opa, pera lá!”
Sim, e daí?
“Artista? isso é arte?”

Claro que é. E vamos debater isso aí.

Vinícius conquistou seu espaço sim. Pois pra cantar suas rimas, tem de ter moral.
Não pode vacilar.
Não pode dar bobeira.
E Vinícius não é qualquer um: ele é malandrão.

E meça bem suas palavras antes de falar dele, parça.

E esqueça também a parada de chama-lo de Vinícius, porque hoje ele é o Mc Brinquedo.

O garoto de cabelo azul e rosa, que conquistou fama e sucesso, é responsável por mais de 10 milhões de acessos em seus vídeos no youtube. Mc Brinquedo faz das suas rimas cômico-pornográficas um grande sucesso da nova safra de Mc’s mirins do universo do funk.

Há os retrógrados que, ao ouvirem, ficam pasmos ao assimilar as letras proferidas por um garoto de 13 anos. Mas, como a função aqui é fazer você se questionar, eu te pergunto: Qual o problema de um garoto de 13 anos cantar temas acerca de sexualidade?

Onde há especificação de regras sobre faixa etária e conteúdo cantado num funk ousadia?

Mas, o que representa afinal, a idade quando se é um ícone genuíno da arte? Sim, eu falo de arte!

Arte, por conceito, é qualquer forma de expressão que tem como finalidade o entretenimento!

E isso ele sabe fazer como poucos na atualidade.

Fora que, o guri está tendo a possibilidade de mudar o próprio destino e a história da sua família para muito melhor. O dinheiro tá entrando e sua mãe, em entrevistas, relata que ele está migrando para uma escola particular e a familia começa a dispor de melhor condição de conforto. É a verdadeira ascensão de classe social. E com relação a isso, meus caros, não há discussão. Ele se agarrou na chance de ouro da vida dele. Aplausos, e de pé!

Parto do princípio de que Mc Brinquedo (ou Vinícius, como queira) é um diamante bruto que precisa ser lapidado, e isso não é pela pouca idade. É pela gestão da criatividade (que é oriunda da realidade onde ele vive) dessa nova estrela do cenário nacional. Há de se preocupar sim, não pelo conteúdo do que ele canta, mas sim com o gerenciamento de carreira (e que ele não caia no esquecimento como tantos meninos prodígios que apareceram por aí), e uma possível exploração de agentes e empresários que possam explora-lo fisico e psicologicamente, mas que não parece ser o caso. Mc Brinquedo parece ser muito satisfeito com a produtora que o descobriu. Sua mãe que se mostra muito presente, também.

Defendo o estrelato do Mc Brinquedo em especial pelo seu enorme carisma (o moleque é iradíssimo!) , mas confesso que tenho um apreço especial a tudo que vem do improvável, porque soa heróico.
Mc Brinquedo não venceu pela voz, pela beleza, por indicação de um peixe grande.
Ele venceu porque ele é carismático e criativo.
Ele venceu porque tem estrela.

Sem contar que veio da periferia, lugar que é tão pouco assistido pelas lideranças do nosso país. Lugar muitas vezes tão sofrido de gente que rala e luta, e que tão pouco tem a chance de crescer na vida por falta de condições. E ele desponta, aos 13 anos, cheio de alegria, marra, banca e alto astral.

Qual o problema de um garoto pobre descobrir a fama de maneira precoce, seja cantando o que canta?

Sinceramente falando, o que realmente importa: O que ele canta (e a condição de melhoria de vida que ele começa a ofertar a si e aos seus) ou o que ele poderia estar fazendo sem a fama? (eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando…) afinal, sabemos que a realidade pra quem vive na periferia é dura, e é muito difícil conquistar um lugar ao sol.

Portanto, turminha dos bons costumes: Peguem leve. Tirem essa banca de meter juiz pra proibir o Mc Brinquedo de fazer baile. Ele é só um garoto que faz sucesso sem prejudicar ninguém. Criança e adolescente não aprende “maldade” com as músicas dele não. As novelas e a nossa politicada já dão exemplo de sobra pra essa galerinha aprender o que é a putaria de verdade. Então, baixem a bolinha, não levem a sério e vão se divertir assistindo a performance dele no youtube. O guri é show de bola.

Que venha o Emmy para o Mc Brinquedo. E todos os prêmios e sucesso que ele merece. Que continue medindo as minhas e as suas palavras. Que continue me deixando feliz, embalando minhas tardes de trabalho frustrado, porque bem diferente do Mc Brinquedo que tem a sorte do estrelato, tenho um emprego de merda, ganho uma mixaria e meu sucesso é zero.

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/NandaChavz
Medium Brasil

Uma maravilhosa harmonia criada quando juntou-se o que é aparentemente desconexo: Crônicas, opiniões, teorias e papo de maluco.