Mindhunter: alguém anotou a placa do serial killer?

Odemilson Louzada Junior
Medium Brasil
Published in
3 min readNov 15, 2017

(sem spoilers)

Quem gosta de séries adultas com temática policial, psicopatas, serial killers e afins, ou ambientadas em períodos específicos do passado (nesse caso os 70's), ou ainda simplesmente séries bem escritas e interessantes, faça-se um favor e assista.

Mindhunter está pro tema “crime” exatamente como Masters of Sex esteve para o tema “sexualidade humana”. E digo mais: se próximas temporadas tiverem a qualidade dessa primeira, desbanca facilmente Masters of Sex (que começou muito bem, mas foi ficando cagada em ritmo crescente da S03 em diante).

O foco da série é o período seminal da pesquisa dos métodos dos criminosos mais insanos, na investigação de em que eles se diferenciavam dos criminosos “comuns” para cometerem crimes que ficaram folclóricos por seus requintes de violência e crueldade. A narrativa é construída em torno do trabalho de uma equipe disposta a contribuir para a evolução do combate e prevenção a esse tipo de crime (e também aumentar a compreensão da mente e das motivações dos assassinos especialmente brutais). Esse acaba por ser o melhor aspecto da série, e o que a torna diferenciada mesmo tratando de um assunto já tão explorado pela TV e pelo cinema.

Ao evitar de maneira elegante (e consciente) seguir o caminho fácil de chocar através do grotesco ou do mórbido, as mentes criativas por trás da série optaram por focar a motivação de roteiro e narrativa partindo de um sentimento de admiração, descoberta, curiosidade científica e na interação desse impulso com uma maior compreensão da dinâmica criminal. É justamente nessa escolha acertada de tom narrativo que a série tem seu maior diferencial dentro do gênero em que transita. Obviamente, os fatos assustadores e sangrentos ainda estão lá, mas o roteiro é estruturado de forma inteligente o suficiente para evitar pôr o peso de sua qualidade apenas na saída mais clichê (e também por isso, rapidamente cansativa) de tentar impactar o público com violência gráfica e descritiva ou exibir de modo gratuito, apologético ou romantizado detalhes sangrentos de crimes célebres. Em vez disso, o enredo prefere confiar em um elenco competente, que dá vida a personagens interessantes e variados. A boa construção apresentação dos estilos, backgrounds, e personalidades de cada um dos personagens principais demonstra ser tão bem cuidada quanto a escolha acertada do tom da série. À medida que se vai assistindo e conhecendo mais cada um dos personagens, fica claro que ali estão pessoas bastante diferentes que se reuniram com um interesse em comum, não apenas saber mais sobre esse campo de interesse, mas também interessados em realizar algo grande com isso.

Esses aspectos citados fazem uma grande diferença entre Mindhunter e um monte de séries muito mais hypadas e “populares” na atualidade, aquele tipo de programa que quando vamos finalmente assistir se mostram algo tão mais do mesmo que ficamos nos perguntando porque se fala tanto sobre elas. Não é o que acontece aqui. Mr. David Fincher e companhia criaram uma série do tipo que chega como quem não quer nada, mas que acaba deixando muita produção mais famosa simplesmente sem saber de onde veio o serial killer que as atingiu.

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Odemilson Louzada Junior
Medium Brasil

Desde 1974 driblando a lei de Murphy. Conseguindo na maioria das vezes.