Não feche os olhos
Ecoa na minha mente a voz que repete o primeiro pedido:
– Não feche os olhos, por favor.
O reflexo do branco pincelado de rosa, vermelho e roxo precisava ficar exposto.
Mais do que a sensação da pele ferida, o artista precisava demonstrar cada desenho deixado.
O contorno perfeito de suas mãos em minha coxa. A pele quente e arrepiada.
– Agora preciso que você fique sentada. Quero que você preste muita atenção ao seu reflexo.
Sentei na cadeira fria e recebi um beijo doce e gentil, antes de perceber que ele ficaria de joelhos.
No espelho, suas costas, seus braços, minhas pernas abertas pela sua firme vontade.
– Não feche os olhos, por favor.
O rosto dele misturado com o meu corpo, mordi os lábios para deixar os olhos bem abertos.
Toma em sua boca toda a minha entrega.
Aquece sua língua e faz poesia dentro de mim.
Há beleza e arte em tudo isto.
É belo o contrair do meu corpo e o ritmo descompassado de cada batimento, de cada fôlego.
Assisto minha fraqueza no espelho enquanto imploro aos gritos.
– Não aguenta? Mentira. Você aguenta sim.
Recolhe em seus dedos e entrega em minha boca a verdade que não posso conter. Não posso privá-lo deste gosto.