Não era amor, era costume

Rodrigo Echer
Medium Brasil
Published in
2 min readSep 18, 2014

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Demorei tempo pra perceber isso.

Conhece alguém que te faz rir com centenas de histórias absurdas, alegra teu dia, contagiando ele com pequenas bobagens. Desenvolve um sentimento difícil de descrever, não consegue mais imaginar a vida sem essa pessoa ali do lado, todos os dias. Imagina como seria maravilhoso ter aquilo para sempre.

Dias passam e diálogos mudos surgem, horas de silêncio disfarçadas por um filme, uma série que nem sequer têm vontade de ver. Passeios aos domingos, no parque perto da sua casa, camuflam o tédio do dia-a-dia, aquelas histórias já não soam mais tão interessantes, as pequenas bobagens já não fazem rir. O afastamento torna-se perceptível, a presença do outro incomoda. Optam por não conviver mais. O rompimento.

Surge então, a vontade de recuperar o tempo desperdiçado com alguém que não mais trazia o riso. Álcool, festas, psicotrópicos, pessoas, sexo, tudo o que era velho voltam a ter o sabor do novo, aventureiro. Redescobre prazeres esquecidos, pequenas coisas que passavam despercebidas são agora as bobagens que te fazem rir durante o dia.

Passado algum tempo a saudade vai aparecendo e aos poucos toma o lugar da euforia inicial, e o sentimento nostálgico das lembranças com aquela pessoa é tudo o que se sente. Parece perdido, não tem ideia do que fazer durante o dia, só consegue ter flashes das coisas boas que existiam, conclui que não pode ser outra coisa senão amor. Junto vem a tristeza, o desespero, a vontade quase incontrolável de mandar uma mensagem, ligar, talvez, só pra ouvir a voz do outro. O parque perto da sua casa agora não parece tão ruim aos domingos, sente falta da companhia para assistir séries chatas na TV e de ouvir aquela história sobre última temporada na praia pela décima vez. Aquilo que deixou boas marcas é a única coisa em mente, cicatrizes são escondidas, esquecidas.

Porém você se segura, agüentar a dor, o orgulho fala alto. O tempo a tudo empena, inclusive o que se sente. A dor vai acalmando, a mente clareando e a luz vem, então a percepção: não era amor, era costume. Costume de sempre ter o que fazer, com o que preencher os dias, mesmo que não fosse algo do teu agrado. Esse costume te fez perder a lucidez, confundir e inventar sentimentos que, na maior parte das vezes, nunca estiveram ali.
Na verdade os domingos eram mesmo aborrecidos, noites entediantes disfarçadas com um jantarzinho e longos períodos de silêncio constrangedor. Porém por algum tempo pareceu lindo e nostálgico na memória, quando na verdade não era amor, era simples e puro costume.

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