Notas para um livro que nunca será escrito

Henrique Neto
Medium Brasil
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2 min readJun 18, 2015

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I

Cancelou a função “visto por último” do WhatsApp. A paz tem seu preço.

II

A alegria de plástico. Tempos modernos. A felicidade é o eterno porvir.

III

Profissão: garçom de puteiro. O FGTS fará falta.

IV

Latin lover de escritório. A personagem não se sustenta nem no Baixo Augusta.

V

Gostava das sextas-feiras até que elas passaram a cobrar um preço alto: levou embora a mãe.

VI

O sofrimento à disposição nas bacias do varejo.

VII

Se sente infeliz e sozinha, mas acaba de receber promoção no trabalho e um cartão de crédito com limite infinito. Não se pode ter tudo.

VIII

Sonha Pernambuco acorda Roraima.

IX

Tv LED de 92 polegadas, 218 canais HD disponíveis mas só assiste a tv Globo.

X

Não paga boquete. Moça precavida, morre de medo de contrair o zyka vírus.

XI

Se indispôs com toda a mesa no refeitório da firma. Ainda agora insiste: Freud era, sim, dentista de formação!

XII

Um barzinho, um violão e na cabeça uma certeza: vou embora pra casa.

XIII

Casamento falido, dois filhos, marido chato, amante dedicado e o romance foi descoberto graças ao sensor do celular que não distingue pela digital se o seu dono dorme ou está desperto. Vexame na família, juras de vingança do esposo traído, separação, divisão de bens, filhos, cachorro. Baixada a poeira, é a vez do amante que rasga a madrugada a gritar da rua para a janela: — Vem me matar, corno!

XIV

A alegria da sexta-feira subjugando a frustração da segunda.

XV

Brocha sempre que o Viagra acaba. Aos amigos diz que já não consegue administrar a agenda de mulheres que rondam sua cama.

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