O ponto final de Naruto

Hélder Silva
Medium Brasil
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3 min readNov 11, 2014

Bela manhã de horário vago, 2008, mochila jogada no sofá e, com sorte, algum desenho legal passando na TV. Yudi anunciava Naruto enquanto gesticulava algo alusivo a golpes ninja e surrava o senso do ridículo dos seus telespectadores. Cortou para o desenho. Kakashi estava em missão com seu time 7 – Naruto, Sasuke e Sakura, ainda novinhos – e a ordem do dia era pancadaria contra o terrível Zabuza. Você não tem obrigação de saber nenhum desses nomes, mas o destaque não é gratuito: fui fisgado pela história bem ali.

Uma reviravolta na luta, no finzinho do episódio, e estava feito. Para minha felicidade, era só uma pequena demonstração das porradas épicas que, cheias de inteligência e dinâmica, viriam a seguir. Entretanto, ainda não é o principal dessa que considero uma obra prima. Ela poderia girar em torno das lutas, deixando de lado a história e os personagens, mas a gente tem o prazer de acompanhar o pessoal crescendo em uma trama que mistura o previsível e o imprevisível de um jeito que só a nossa vida faz.

A previsibilidade fica por conta das heranças que as novas gerações carregam de seus antepassados (isso é muito forte na história) e a imprevisibilidade está na forma como cada um vai lidar com o que tem. Aí entra a quebra de tabus, o trabalho duro, a superação, a redenção, sonho, esperança e etc. Em qualquer brecha está a mensagem que sonho e vida não são (nem podem ser) construção individual.

Kishimoto é mestre em tornar os personagens convincentes. Desde o cuidado com os traços e cores até os trejeitos, você acha deles o que ele quer que você ache. No início, Naruto é irritante — todos os seus defeitos estão a mostra: aparentemente burro, desleixado, irritadiço (menino lombriguento mesmo); Sakura é imprestável e Sasuke é chato. Praticamente todos te obrigam a responder ao apelo que fazem. Aí, quando Kishimoto quer, ele te faz mudar de ideia. Vá de coração aberto.

Imagem do mangá.

Foram 7 anos de paciência, revirando os olhos com fillers (histórias de 2ª dentro da história original), semanas de festas no Japão (leituras e episódios indisponíveis), flashbacks e DRs NO MEIO DAS LUTAS. De sermão de mãe: “desenho japonês é coisa do demônio” (te amo, mãe!). Mas também foi tempo de fortalecimento dos laços com os amigos que compartilham o mesmo gosto. Tempo de encantamento com detalhes capazes de despertar aquela empolgação rara. Tempo de emoção e olho marejado, marejado.

Imagem do anime.

Os agradecimentos especiais vão para Glauber e Filipe, por encorajarem e emprestarem aqueles DVDs com centenas de episódios (gostaria de esquecer tudo para começar de novo hoje). Obrigado ao pessoal da Naruto Project por traduzir e disponibilizar por tanto tempo e com tanta eficiência o mangá e o anime. Obrigado, Kishimoto e equipe, por proporcionarem essas pequenas e acessíveis alegrias que nunca devem ser subestimadas.

Manhã cheia, quinta-feira, 2014. Computador aberto e, na área de trabalho, a pasta do TCC, as planilhas do estágio e os .rar dos últimos capítulos do mangá. Profusão de sentimentos. O ponto final de Naruto é ponto de continuação. Estamos entrando juntos na fase adulta.

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