O que aprendi em um ano sabático forçado

Débora Camacho
Medium Brasil
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5 min readSep 4, 2015
Foto por Kacper Gunia -Flickr

E como aprendi a me virar fora da minha formação acadêmica

Hoje completo 1 ano (forçado) sabático.

E o que aprendi nesse ano é que no perrengue só fica quem te ama. Que grandes amigos (também no perrengue) podem te passar a perna e que fé não enche barriga.

Aprendi a conviver com o meu pior pesadelo: ser “dona de casa”. Não desmerecendo as que são, mas nunca me imaginei exercendo essa função. Ficar em casa, trabalhar com afazeres da casa ou trabalhar de casa é um tanto quanto enlouquecedor. Mas enlouquecer não é uma opção.

Então nesse um ano tentei fazer muitas coisas, a primeira obviamente foi procurar outro emprego. Resultado: em um ano fiz 1 entrevista, e dos 1100 currículos enviados tive cerca de 5 respostas, todas por e-mail dizendo “obrigado pelo interesse, entraremos em contato”. Estou esperando o contato até agora.

Ao perceber que esse não era o caminho, afinal estamos em crise, pensei: -o que mais posso fazer? E logo me veio a ideia de lançar uma marca que envolvesse criação e artesanato, afinal tenho experiência nisso e, modéstia à parte, mando muito bem…

therabbitstyle.com.br

E foi o que fiz, lancei em Outubro de 2014 a The Rabbit Style, loja de produtos artesanais e camisetas com estampas exclusivas, em parceria com meu noivo (publicitário) e meu irmão (artista plástico e ilustrador). A marca foi bem aceita, participamos de bazares e feiras que incentivam a criação própria, é bem legal seguir esse caminho, mas vender produtos de uma marca não muito conhecida não é fácil. Precisamos investir dinheiro e não tínhamos o suficiente e então vimos que o retorno não seria grande e que iríamos precisar de outra saída. Não abandonamos a loja, continuamos com a venda on-line e em feiras, mas preciso pagar as contas.

Bom, sou arquiteta e designer de interiores, tenho experiência de 9 anos na área. Já que não consigo um trabalho fixo, vou oferecer meus serviços através de um site desenvolvido pelo meu noivo. Montei meu escritório, a CoLab Arquitetura. Nesses 9 meses de escritório tive alguns poucos clientes, e uma grande quantidade de pessoas desrespeitosas que só queriam “roubar” ideias sem pagar nada por isso. Olha que eu sou a favor do trabalho coletivo e colaborativo e da troca de ideias e informações, mas as ideias de um arquiteto custam dinheiro sim! Um desenho, mais conhecido como projeto arquitetônico, custa dinheiro, pesquisa e tempo. Estudei 7 anos, me especializei, dediquei vida a isso e quase ninguém entende e valoriza. Fui desanimando com isso também, afinal cobrar preço promocional (para conseguir montar portfólio) para 1 projeto a cada 4 meses não é mole. As contas chegam todos mês, precisamos comer, entre outras coisas… Novamente, não abandonei a área, mas decidi não insistir muito tempo no que não está dando certo. Ainda pego projetos, mas não invisto em publicidade ativa (até porque não tenho dinheiro para isso, agora). A CoLab exige muito dinheiro, preciso ter um capital grande para abrir o escritório. E para ter dinheiro preciso trabalhar. Além disso, as pessoas que eu tenho contato não estão gastando dinheiro com reforma e troca de moveis, diminuindo bastante a busca por projetos. Então, resolvi começar a estudar o mercado de trabalho, analisar o que anda acontecendo.

Nesse um ano, cortei tudo que tinha de gasto extra que achei irrelevante. Conta no Netflix, Spotify, assinatura de revista, matrícula na academia, convênio médico, cartão de crédito. De tudo só mantive o celular, na conta mais baixa possível e só. Gastos extras seriam apenas para investir em algo que desse retorno certo, chega de arriscar tanto.

Agora com pouco menos de mil reais na conta bancária penso muito no que investir. Investi tudo que tinha na loja e o escritório e não tive o retorno esperado.

Mas refletindo sobre esse ano de perrengue percebi que meu perfil é de empreendedora. Adoro estudar e até aqui carrego um currículo cheio de diplomas nem um pouco formal. Cozinheira, organizadora de eventos e casamentos, artesã, designer de interiores e arquiteta estão entre algumas das minhas habilidades. E fiquei pensando “cara, você precisa trabalhar com alguma coisa que te dê tesão”, e essa coisa mágica precisa ser essencial para as pessoas, afinal estamos em crise e as pessoas não gastam com coisas que ficam em segundo plano.

Foi daí que surgiu a ideia de montar uma loja de comidas.

PORRA! Como não pensei nisso antes?!

A única coisa que continuo saindo para gastar é com comida, e uma das coisas que me dá mais prazer de fazer é cozinhar. Foi inclusive por isso que estudei cozinha francesa e fiz curso de confeiteiro. Como dizia a minha avó, tenho a mão boa para isso, não preciso de receita para criar um prato novo e saboroso. Com receita então, maravilhas acontecem dentro da minha cozinha, não tem prato difícil ou chato de fazer!

facebook.com/paralelofoods — Entregas em SP

Nesse último suspiro de esperança surgiu a “Paralelo — simple food” com uma proposta simples de oferecer comida boa a preços justos. Vamos começar fazendo entregas, com opções de pratos saudáveis e aquele docinho que ninguém resiste e, claro, o pãozinho da tarde! Vou tentar vender paixão, e essa vai ser talvez a última tentativa, com a dedicação de sempre e acreditando que vai dar muito certo!

Então me acompanhe e veja como será o meu próximo ano.

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