O QUE EU APRENDI COM AMIGOS CANALHAS.

Henrique Kenji Setogutti
Medium Brasil
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9 min readAug 26, 2014

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Amizade, confiança, sexo, prostitutas e Natu Nobilis.

A história que se segue é real. Aconteceu de verdade. Para preservar o relacionamento de alguns e o casamento de outros, todos os nomes serão fictícios.

Japonês, baixinho, gordinho, com 18 anos na cara e virgem. Havia ficado somente com uma menina, nos quais foram necessários 4 longos meses para eu finalmente ter coragem de beijá-la. Foi na cozinha, o pai dela assistia TV na sala, e eu tremia mais que o Michael J. Fox. Não foi tão ruim assim, tirando a parte que batemos os dentes e que o hálito de frango do nosso jantar estava impregnado em sua boca.

Não compreendia porque não me dava bem amorosamente. Rapaz de família, carro na garagem, trabalhava e nem era tão patinho feio assim.

Tá. Eu era feio pra caralho.

Foi então que em uma viagem de famílias amigas, conheci um cara que inicialmente o achei um completo babaca, seu nome era M. Mal sabia que ele seria o passaporte para ingressar na noitadas e putarias.

A partir deste ponto, ouça esta playlist:

https://www.youtube.com/watch?v=_3EVzixU4OU

M, o caçador

M foi o meu primeiro mentor, e sim, todo homem teve ou tem um homem que lhe ensina técnicas, teorias e formas de como chegar em uma mulher. Este é um conhecimento milenar transmitido de mentores para alunos, e que futuramente, este alunos serão mentores e ensinarão aos seus novos alunos.

M em ação.

Em toda a vida, tive ótimos mentores que me ensinaram a recuperar o tempo perdido. Mas até hoje, sou fã do primeiro. E até hoje, somos melhores amigos.

Toda mulher que entrava em seu campo de visão, se tornava a sua presa. Naquela época não tinha essa frescura de passa seu whats ou me adiciona no face, era comer ou passar fome. E ele jantava, sempre jantava.

Enquanto M beijava uma, já estava definindo o seu próximo alvo. Já eu, tinha o olhar direcionado para a ponta dos pés, por não ter coragem de encarar uma mulher. Mas observa atentamente cada detalhe, cada gesto, cada cantada, cada pegada e anotava tudo mentalmente. Sempre ficava com as sobras, tanto que, as minhas primeiras dezenas foram mulheres que ele já havia pego e que me dava de presente.

Os seus mandamentos eram sagrados:

Você não tem nada a perder. Não tentar é o que te faz ser um perdedor.

Dance ridiculamente, solte gargalhadas para que todos ouçam, feste como se fosse a última festa da sua vida. O homem que chama a atenção é aquele que se diverte porque é divertido.

Tenha sempre um adereço extravagante. Ou você acha que uso este chapéu de cata-ovo por que gosto?

M sempre me observava e ficava intrigado de como conseguia chamar a atenção pela conversa, coisa que ele não tinha muito saco. Pacientemente, ele me doutrinou durante meses, me criou para ser a sua dupla, me criou para ser o seu Bro.

Bros.

Batman e Robin, Caju e Castanha, Ash e Pikachu, Coyote e Papaléguas. Ele efetuava a abordagem inicial, o japa as envolvia. Nós nos ajudávamos, queríamos ver a felicidade do próximo transbordando junto ao álcool dissolvido no sangue. Era mais glorificante ver M se dar bem. Ele pensava da mesma forma.

Se um Bro está dando em cima de uma garota, seu Bro deve fazer todo o possível para garantir o resultado positivo.
- Barney Stinson, o código Bro, artigo 110

Nós tínhamos um trato: se um não se dá bem, o outro também não dá. Não era combinado, simplesmente não tínhamos vontade de ir embora acompanhado se o outro também não estivesse. Não queríamos ver o outro sozinho. E se posso definir o significado da palavra amizade, com certeza era isto.

Porém,

a vida é feita de pessoas que vem e vão, que estão presentes e depois ausentes. Isto acontece para que nós possamos aprender o significado da palavra saudade.

Estava só novamente.

A Liga da Justiça

G, o líder.
N, o cara de pau.
T, o cafetão.
J, o gente fina.

Quando você completa os seus 20 e poucos anos, é natural você sentir saudades dos seus amigos de infância. Liguei para G e N, pessoas que conheço desde o dia em que me mudei para Goioerê. Combinamos de sair, tomar uma cervejinha e talz. G levou T, um amigo que ele saia de vez em quando, que convidou J, um amigo que saia de vez em quando.

Fomos todos para um bailão sertanejo, coisa rotineira no interior do Paraná. Solteiros e moleques recém habilitados, não havíamos decorado direito o nome de cada um e muito menos sabíamos do histórico mulherístico ali presente. No começo achei uma fria, mas fui. E mal sabia que, naquela noite, formaríamos um time responsável pelas histórias mais loucas de toda a minha vida.

Que gif bizarro.
Como pode colocar o homem-aranha junto aos personagens da DC?
Que gif bizarro.

G perguntou se todos aceitavam descer um Natu Nobilis, whisky relativamente caro para a nossa idade e socialmente aceito perante aos olhos da sociedade. Todos aceitaram de primeira e fui na onda, apesar de odiar whisky, não queria ser o do contra.

Acabou o Natu, mais um Natu. Acabou o segundo, chama o terceiro e já fazíamos a vaquinha para o quarto. Estávamos completamente embriagados. Mas algo inusitado estava acontecendo. Ninguém estava caçando mulher. Nós estávamos mais interessados em nos conhecer do que secar bundas semi-cobertas por tiras de pano que as mulheres chamam de micro-saia.

Instantaneamente, mulheres começaram a observar aquela boy band que não admirava suas formas expostas e garotos de outros círculos sociais faziam de tudo para chamar a atenção. Tudo em vão.

Mesmo após duas Olimpíadas, não consigo explicar o que realmente aconteceu naquela noite. Só sei que acordei na casa de J, pelado, gorfado, cercado por camisinhas e com uma desconhecida deitada comigo em forma de conchinha, o qual não fazia a mínima ideia de quem era. E o pior de tudo, eu era a parte de dentro da conchinha.

Foi algo assim. Sem contar que a mulher tinha o dobro do tamanho dessa ai do lado.

Após descobrir que o destino dos meus novos amigos não foi diferente, nós nos reunimos na chácara da minha família, com o intuito de curar a ressaca dentro da represa. Usávamos um pneu de caminhão para flutuar. T não sabia nadar, por isso, ia dentro da boia.

Pouco a pouco, nós reconstruímos o cenário perante aos fragmentos que cada um possuía da noite anterior. Em resumo:

G pegou 8, N pegou 14 e comeu 1, T não pegou ninguém e insistiu para que fossemos na zona, J pegou 4 e comeu a ex, e Eu, peguei 1 e disse que a amava.

Que noite! Que noite! Era tudo que repetíamos. E foi ai que nós nos olhamos e fizemos um pacto: Esta foi apenas a primeira noite de muitas noites. E nosso pacto prevaleu por maravilhosos, longos e perfeitos 3 anos.

Como sinto saudades.
Vou fumar um cigarro.

Técnicas, Macetes e Falcatruas:

Como chegar em um grupo de garotas:

Nós sabíamos que chegar em 5 caras em um grupo de mulher, só daria merda. Por isso, sempre nos dividíamos: G e T, eu e J, e o N pegava mulher sozinho (aquele cara era foda). E cara, pensa comigo: chega 5 pessoas desconhecidas para conversar com você. É óbvio que assusta!

Como cortesia a todos os Bros do mundo inteiro, um Bro nunca chega com mais de dois Bros em uma festa.
- Barney Stinson, o código Bro, artigo 71

O cálculo base é:

  • 1 mulher: 2 caras no máximo. Um deles deve ser escada para ajudar o outro a se dar bem. Se os dois tentarem se dar bem em apenas uma mulher, vão parecer dois cachorros brigando por um pedaço de carne;
  • 2 mulheres: ideal 2 caras, 3 no máximo. Um fica responsável para ser o suporte. O suporte deve elogiar aos amigos e mostrar o quanto são fodas (valorize a profissão, hobby e curiosidades). Ele também tem um importante papel em tirar possíveis empata-fodas e buscar bebidas para os amigos não perderem o embalo, caso o papo esteja interessante;
  • 3 mulheres: ideal 2 caras, um sendo o suporte. Evite 3 caras. Sempre tem uma que fode todo o esquema, ao menos que o suporte consiga distraí-la(s) e ofereça atenção o suficiente para que o amigo se dê bem. Caso o suporte não esteja dando conta, afastem-se e aguardem para que elas se separem;
  • 4 mulheres: nunca, eu disse nunca, chegue em um grupo de 4 mulheres. Elas vão massacrá-lo.
Eu tinha a fama de topar qualquer desafio quando estava embriagado. Só não topava dar o cu, o resto topava tudo.

Abordagem:

  • Nunca e em hipótese alguma aborde em uma mulher pelas costas. Parece que você está querendo assaltá-la. T não seguia esta regra;
  • Nunca mexa com a mulher no primeiro contato visual. Dê tempo para ela te observar, analisar, pedir conselhos para as amigas. G costumava dizer que o terceiro encontro era o time perfeito. N ignorava esta regra e mexia com qualquer buceta que não fosse a sua irmã ou mãe;
  • Encare por 3 segundos e vá. Encarar e virar a cara primeiro mostra que você não se interessou. J sempre errava o time.
Escolha, aguarde, encare e ataque.

Frases quebra-gelo:

  • “Oi, você poderia me ajudar a tirar uma dúvida sobre o meu amigo?”
  • “Olá, posso pedir uma opinião sobre o meu amigo aqui? Ele gosta de usar cueca vermelha alegando ser sexy, você concorda?”
  • “Essa bebida ai que você pediu, ela é boa?”
  • “Esse garçom nunca olha para cá. Quer que eu peço para você?”
    (posicione-se estrategicamente a frente do alvo e cubra brechas para que ela não consiga chamar o garçom)
  • “Nossa, mil perdões ter esbarrado em você. Faço questão de pagar outra bebida” (esbarre de propósito)
  • “Oi, eu também estou fumando sozinho. Posso te fazer companhia?”
    (caso você seja fumante)
T tinha essa mania quando íamos no puteiro.

Nunca use estas frases para quebrar o gelo:

  • “As moças estão sozinhas?”
  • “Ôh lá em casa, ein!”
  • “Oi gatinha, chega mais.”

Agora você me pergunta: Japa, quer dizer que você sente saudades desta época de solteirice, putaria e diversão?

Não, eu sinto falta dos meus amigos.

Amigos os quais eu vibrava em vê-los. Compartilhávamos problemas, ouvíamos desabafos amorosos, ajudávamos um ao outro sem nunca negar um pedido. Éramos uma família unida. Hoje, somos uma família separada.

Separada porque nós fizemos escolhas profissionais completamente diferentes. Porque o destino nos guiou a rumos os quais não estávamos preparados, mas fomos obrigados a encará-los. Porque nós crescemos. E este é o ciclo da vida.

Amizade é compartilhar oportunidades ao lado de pessoas que nós nos sentimos gratificantes, transformando-as em experiências nas quais serão eternamente gravadas em nossa memória, ao ponto que querermos recriá-las infinitas vezes em nosso presente.

Em 2014, tive a oportunidade de rever alguns dos amigos citados. Não nos encontrávamos há anos. E quando nos vimos, conclui: Nada mudou. Nada.

M, G, N, T e J, obrigado por tudo.

Curiosidades:

  • Eu perdi a virgindade no carro do G;
  • T namorava uma puta da zona somente para comê-la de graça;
  • Uma vez, J vomitou no meu carro e assumi a culpa;
  • N ficou com 25 mulheres em uma só noite;
  • G me desafiou a roubar 6 litros de Natu de uma festa open bar. Roubei 8;
  • T não sabe nadar até hoje;
  • Não vejo J há 7 anos;
  • Eu e M já ficamos com mais de 20 mulheres em comum;
  • N dava álcool de posto com suco para as biscates e as convencia de que era caipirinha de pinga;
  • Fizemos uma festa na piscina com 14 mulheres. Nenhuma havia levado biquíni. Mas esta é outra história.

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Henrique Kenji Setogutti
Medium Brasil

Consultor de marketing digital, especialista há 8 anos em mídias sociais, palestrante e criador do Japa Japeta.