Desejo é festa

Hélder Silva
Medium Brasil
Published in
2 min readMay 13, 2020

Nos conhecemos tendo o forró por motivo. Ficou fácil que o gênero musical ganhasse um rosto, minha mente os relacionou sem esforço. Quando ouço forró, sou embalado por uma alegria terna, mansa, exatamente a mesma que via naquele jeito de ser.

As falas que nasciam da sua ideia de amor me surpreendiam. O amor de dois não poderia ser tão simples… Poderia? Seria a mesma surpresa de olhar para cima em meio a correria dos dias, no centro da cidade, e ver as bandeirolas contra o céu. Sentimentos de várias cores já se penduravam em mim e balançavam com o vento que anunciava a chegada do inverno.

Minha cidade tem uma amplitude térmica arredia, sendo possível experimentar extremos durante os dias, especialmente o frio. Porém, em junho que ele se mostrava impiedoso e as fogueiras se enfileiravam nos passeios. Os adultos comiam e bebiam ao redor delas enquanto vigiavam as crianças, hipnotizadas pelo fogo e necessitadas dele para os fogos de artifício.

Eu gostava de tudo nas fogueiras, desde as chamas altas quando o fogo pegava até as cinzas traiçoeiras dos dias seguintes. Gostava quando alguém ia futucar a brasa e as faíscas se irritavam, fugindo pelo céu preto. Sobretudo, me encantava o conforto desconfortável de estar próximo da fogueira, o mesmo desconforto que senti naquele abraço longo em frente ao bar. Era acalentador, mas soube ali que, se me muito me expusesse, por tempo ou proximidade, me queimaria.

Quando estava no centro da cidade, novamente em meio a correria dos dias, olhei para cima e o céu estava limpo. Ainda era maio, como agora.

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