Primeiro encontro
Jogo o livro pro lado e estico as pernas na cama tentando encontrar um jeito de ficar mais tranquila. A tela do celular não para de me convidar a apertar a tela de desbloqueio, mas, pela ausência de luzes piscando, sei que não chegou notificação. Ele não mandou mais nenhuma mensagem.
Ser mulher, em uma cidade dessas, é bem difícil. Lembro a última que vez em que fui ao Veneto e sentei na mesa de uma amiga. Uma outra garota, que eu não conhecia e continuo sem saber o nome, contava a história de um cara que tava dando em cima dela. Eu juro que não gosto de julgar as pessoas, mas a mina era daquele tipo que me matava de preguiça de cara.
“Eu topei sair com ele, né? Só que o boy tava crente que já ia me comer no primeiro encontro!”, disse e esperou a expressão de “que absurdo!” da minha amiga.
Olhei para as duas e quase não me segurei. Pois me passa o telefone desse homem, era o que eu queria ter dito, porém me contentei em tomar um longo gole de cerveja e dar uma espiada ao redor para ver quantos conhecidos conseguia localizar.
Sentada na cama, penso novamente que não tenho a sorte daquela mina e me flagro com um pouco de inveja. Que mania de merda de achar que tem que esperar! Sinceramente, não faço a mínima ideia de porque ainda saem repetindo isso. O que me choca ainda mais é todo mundo encarar isso como se fosse muito natural. Às vezes até me pergunto se eu é que sou afobada, sabe? Tô tentado trabalhar isso. Ô, se tô, dou uma bufada e espio o celular. Nada.
Concluo que não vai ter jeito e expulso o gato do quarto para me masturbar em paz. Volto saltitando pra cama e finalmente aperto a tela de desbloqueio do smartphone. Entro no WhatsApp e olho a bolinha da foto de perfil da primeira conversa da lista.
“Essa vai ser pra você, darling”
Brinco em voz alta enquanto reparo que aquela foto minúscula talvez seja o único material masturbável que eu tenho dele. Jefferson nunca me mandou um nude. Pra falar a verdade, ele sempre passa correndo de qualquer papo que possa acabar em sexo. Eu até me esforço.
“Não vou cuspir no prato que eu comi, cara”, ele comenta sobre um assunto qualquer.
“Olha, dependendo do prato, às vezes é bom cuspir. Se é que você me entende”, eu soltaria apenas para ser ignorada na mensagem seguinte.
Deito na cama, tiro a calcinha e me cubro com o lençol. Por algum motivo, me dá um tesão gigantesco me masturbar embaixo do lençol. Pensando bem, deve ser uma forma de fingir que não sou eu que me toco. We never fuck alone, filosofo mentalmente, brincando com o filme do Gaspar Noe.
Experimento deixar as pernas dobradas no ar ao mesmo tempo em que amaldiçoo o autor da expressão frango assado. O filho da mãe conseguiu arruinar a posição pra mim. Pior que ela vale muito à pena, mas sempre tenho que fazer um esforço tremendo pra não pensar no tal do frango. Desisto. Decido testar se esta noite não estou mais no clima de ficar de pernas para cima e as apoio na parede. Demoro em cada um dos preparativos pra criar uma expectativa e tudo. Pra falar a verdade, quando a siririca tem essa finalidade, digamos, de conter o fogo no rabo, sempre me empenho em fazer tudo de forma impecável.
Puta merda, ele podia só me comer logo, reclamo ao mesmo tempo em que dou o primeiro toque no meu clitóris. Eu gosto de começar sequinha porque os movimentos são fortes e certeiros. Preciso ter cuidado com a intensidade do toque, por isso, gosto de começar sem pensar em nada, mas, dessa vez, me obrigo a pensar nele para completar o momento de catarse.
Quanto tento imaginá-lo, descubro que não criei imagens mentais para o seu pau. Sei lá, acho complicado isso. Tenho medo de imaginar um pau bonitão de ator pornô e criar uma expectativa desnecessária. Por outro lado, também não consigo imaginar um pau realista, sabe, torto, com a cor da pele diferente da do corpo e tal. E se ele tiver o pau pequeno?, a questão me ocorre e abano a cabeça para afastá-la. “Eu não pratico size shaming, Jefferson”, me vejo explicando para sua versão imaginária.
Volto a pensar no lance do pau. É incrível como o corpo humano lindo, né? Gente pelada é uma parada linda de se ver, de verdade. E não tô falando de um corpo impecável não. Porque os defeitos sempre parecem mais particulares, não sei se dá pra entender… Já amei pau torto e pau médio de tudo. E quando tem a cabeça redondinha? Putz, compensa tudo. Esses eu chamava de pau ergonômico, sem brincadeira. Também teve uma época que encanei com pau grosso. Não podia ver um que a boca enchia d’água. Mesmo! Eu juro que faz produzir mais saliva. Mas, pro Jefferson da minha fantasia de siririca, eu não queria escolher nada. Porque escolher significaria ter uma preferência. E, comigo, essa preferência só surgia depois de pegar, chupar e ter dentro de mim. Minha preferência, Jefferson, era teu pau aqui em casa por pelo menos quatro horas semanais, penso e deixo escapar um gemido.
“Caramba, eu não tô me ajudando”.
Sinto a lubrificação ficar mais intensa, mas demoro um pouco mais dando tapinhas com a pontinha do dedo no clitóris ainda seco. Então, meleco o indicador na vagina e espalho lubrificante por toda a buceta. Começo a acelerar os movimentos, passando o dedo da esquerda pra direita. Ou sei lá, nunca sei por qual lado começo mesmo. Repito isso, mudando o ritmo aqui e ali, só para garantir que não vou gozar logo. Ainda não decidi como quero gozar, então, é melhor só deixar rolar.
Tento imaginar como Jefferson fode e percebo que tô bloqueada. Não sei se ele gosta mais de bunda ou peito. Saber isso já faria toda a diferença pra adivinhar seu primeiro movimento na transa. Mas não tenho pistas. Bom, ele quer me comer, deve preferir bunda, deduzo e automaticamente já consigo visualizar suas mãos tentando agarrar toda a minha bunda de uma vez e uns dedinhos safados, bem próximos do cu, posicionados propositalmente para sondar se peço pra tirar ou não. Não peço, Jefferson.
Ele me puxa, pela bunda, para o seu colo. Não sei se mete rápido ou prefere ir devagar, se olha nos olhos ou morde, se lambe, se beija, se bate (Porra, não sei nada dele!), mas, como tenho a licença poética da minha siririca, desapego da verossimilhança jornalística e decido que Jefferson me fode sentado.
Eu odeio transar sentada, na real. Mas, enquanto aumento a pressão do dedo e começo a me masturbar no esquema lixadeira dos pornôs (Homens, não façam isso em casa), fico imaginando os ombros dele contraídos no esforço de me dar impulso para kickar em cima dele. Nunca contei isso, mas o fator decisivo preu ter começado a falar com ele, nas redes sociais e em todos os rolês em que a gente se esbarrava nessa cidade, foi uma única e decisiva vez em que ele passou de regata por mim. Enquanto o meu dedo sobe e desce, sinto que aquele momento se repete em loop infinito.
Lambo o seu pescoço e mordo o seu ombro, enquanto seguimos naquele sexo entrelaçado. Jefferson elogia a minha buceta e me pede pra gemer pra ele. É uma pena que eu ainda não consiga visualizar sua reação no orgasmo, mas sei que ele goza.
Só ele, não gozamos juntos. Eu preciso de concentração total, Jefferson. Lambo o dedo e vou em direção ao clitóris já super estimulado. Paro de pensar. Só consigo fazer uma coisa por vez.
Gozo um gozo gostoso e sofrido de quem queria encharcar a cama de outra pessoa. No mesmo instante, o celular acende a tela.
“Desculpa a demora, acho que cochilei”, Jefferson envia.
Não respondo nada. Me estico na cama, penso no quanto queria sair do zero a zero e calculo quanto tempo ainda vou ter que esperar para essa foda sair. Talvez eu precise de mais uma. Volto a me cobrir com o lençol.
Talvez eu escreva um conto pra ele…
Acho que se eu explicasse que amo literatura erótica e que tenho como desafio desenvolver uma narrativa atual, pouco convencional_ para não dizer muito coloquial e um pouco ranzinza_ e, principalmente, baseada em um olhar completamente feminino do sexo, esse projeto perderia um pouco da graça, né?
De toda forma, se você curtiu esse texto (tem outros antes!), ficaria honrada demais em receber recomendações e comentários. Acho que também toparia receber uns convites para publicações, uns depósitos inesperados na minha conta bancária ou suprimento vitalício de tapioca.