Provar ou largar

Expovinis levou ao pé da letra o termo “expo”

Akminarrah
Medium Brasil

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Por gostar de vinhos e ter ganho um par de ingressos para ir a Expo Vinis 2014 em São Paulo, parti para a ponte aérea. Oportunidade única e imperdível, ainda mais numa semana com dois feriados prolongados, sendo um exclusivo para (nós) os cariocas.

Chegava-se ao pavilhão do Expo Center Norte através de vans exclusivas e gratuitas estacionadas próximo a estação do metrô. Em 5 minutos, estávamos a porta de um grande galpão com uma fila considerável de pessoas para comprar ingressos, apesar de custarem R$100 sem direito a taça. Lá dentro, cerca de 450 produtores espalhados em stands mostravam seus rótulos, a maioria dos importados era inédito no Brasil, com boas provas para quem quisesse experimentar.

Eu, simples amante do vinho, resolvi perguntar à dois desses expositores sobre as possibilidades de seus vinhos aportarem por aqui. Seus comentários não foram exatamente uma surpresa, mas a consolidação de uma triste realidade, que me deixou extremamente desapontado com nosso mercado de vinhos.

O primeiro que conversei representava algumas vinícolas da África do Sul, com belos exemplares de brancos refrescantes e aromáticos. Mostrava-se claramente desestimulado, ainda na metade do segundo dia de evento, afirmando que o mercado brasileiro era o pior que ele conhecia por conta dos sucessivos impostos. Mostrou-me uma garrafa e disse que no país de origem custava US$6, era um vinho do dia a dia, enquanto era vendido aqui por cerca de R$60. Afirmou que muitos dos expositores estavam lá buscando representantes e importadores nacionais, mas que “a maré não estava boa,” já se imaginando sair de lá sem fazer negócio.

Mais uma caminhada entre os corredores repletos de pessoas muito felizes e me deparo com um stand da Itália, cujo atendente nem me deu bola, conversando com seus compatriotas. Eu estava quase saindo quando seu vizinho expositor, de Portugal, me abordou e mostrou dois dos italianos. Ele era um português bem abrasileirado e me serviu um branco alcoólico, um tanto morno, que esquentou mais ainda enquanto conversávamos. Fez seu próprio discurso sobre a dificuldade de encontrar representantes e depois me espantou ao contar que o aluguel dos espaços mais baratos chegava a custar R$20mil pelos 3 dias. Pra um evento sem venda de produtos ou qualquer garantia de negócio, inteiramente expositivo, é um valor bastante elevado. Papo vai, papo vem, acabou contando sobre seu pai (em sua terra natal) que quando precisava pagar €1,5 por uma garrafa de vinho (de qualidade equivalente aos que encontramos nos supermercados) reclamava furiosamente sobre o preço. Completou dizendo que em Portugal “vinho é item de cesta básica”. Não deu pra evitar a comparação com os nossos preços e concluir que aqui é um supérfluo desincentivado, quase “demonizado.”

Sai da feira levando a experiência adquirida, um par de taças (de brinde) e apenas uma certeza: a maioria daqueles vinhos estava apenas de férias no Brasil, se hospedaram em um bom hotel, mas não pretendem voltar.

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Akminarrah
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Eu sou a pessoa mais parecida comigo que conheço!