Quando a revista VICE erra a mão

Às vezes o jornalismo da VICE tropeça em superficialidades, e até em falta de ética. A credibilidade do veículo fica comprometida.

Gustavo Serrate
Medium Brasil

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A Revista Vice faz uma boa diferença em produção de conteúdo e tem muitos acertos que repercutem bastante no twitter e facebook. Algumas matérias bem impactantes, outras muito específicas e peculiares ( Como Dugeons & Dragons se tornou Mainstream ) e certamente os registros fotográficos são alguns dos pontos fortes deles.

A fotografia de rua é cruel

Além disso, alguns documentários produzidos pela Vice gringa são impressionantes, como:

O problema começa quando…

…alguns deslizes imperdoáveis os fazem parecer um jornalzinho de quinta categoria. Não sei dizer se isso é um problema na triagem de pautas, ou se a revista, na busca de interpretar um papel de jornalismo supostamente "gonzo", acaba cedendo espaço para a superficialidade e para a criação de uma caricatura rudimentar de si mesma.

Um exemplo.

Já faz um tempo que nos Estados Unidos e em alguns países Europeus, uma nova moda de pegadinha está se tornando comum. São pessoas que se fantasiam de palhaços assustadores e vagam a esmo por lugares sinistros, assustando os transeuntes. O medo está gerando uma onda de medo e agressividade na população.

O papel do jornalismo aqui, seria o de tentar entender o que está acontecendo, até mesmo para evitar maus entendidos, interpretações enviesadas e acabar com possíveis idéias erradas que comecem a proliferar no senso comum, isso caracteriza uma pauta diferenciada. Coisa que, por exemplo, o canal VOX, sabe fazer com muita qualidade em seus videos ensaios.

Neste video, a VOX destrincha a onda de palhaços assustadores e explica o que está por tras da existência de alguns deles, mas mais do que isso, ela procura fazer uma separação clara entre os palhaços que assustam por “pegadinha” e os palhaços que tem na arte circense o seu ganha pão. A boa imagem deles pode ser garantia de trabalho.

A pegada da VICE no entanto, não parece tão cuidadosa, e pelo contrário, parece reforçar preconceitos e presunções superficiais. No exemplo da matéria “Como começou a onda dos palhaços aterrorizantes” escrita por um editor associado da Vice, chamado River Donaghey. O título é forte e chama atenção, mas o texto preguiçoso parece sugar informações exclusivamente do que se encontra de mais banal na internet, cita aspas sem citar nomes, sugerindo que a informação é extremamente duvidosa, e ainda encerra o texto com um “recado aos palhaços”.

Assustar pessoas usando nariz vermelho e uma flor que espirra água é uma coisa, mas realmente esfaquear um adolescente no ombro já é demais, palhaços.

Parece um texto escrito por uma criança de 14 anos. Soa superficial e até um pouco ingênuo. Sei que a intenção dessa linguagem é se adequar ao público jovem e ativo nas redes sociais, mas isso não justifica um texto que é simplesmente ruim.

Para começar, quem está fazendo essas pegadinhas certamente não são palhaços ao qual o texto se refere, num puxão de orelha. São simplesmente pessoas idiotas fantasiadas, que não tem nenhuma relação com aspectos de arte circense do palhaço como ator cômico. Os piadistas que se fantasiam de palhaços estão mais conectados com o estereótipo de palhaços assassinos alimentados por filmes e lendas urbanas. Os palhaços profissionais já são estigmatizados socialmente em uma profissão vista com desprezo, agora lidarão com o risco de agressão nas ruas, porquê um preconceito e medo se forma contra eles. Se o papel do jornalismo não é o de reverter esse processo, então nem chame de jornalismo.

Uma lista de outras matérias caça-likes surgem diariamente no Vice competindo espaço com boas reportagens. Um exemplo clássico é o texto Comi nutella por uma semana. O texto pega carona em outros textos muito mais interessantes, como o do sujeito que passou a se vestir de mulher no local de trabalho, num interessante experimento social. Ou outra matéria em que o repórter faz uma dieta de alcool por uma semana. Seja um portal que se destaque pela ironia de seus textos ou não, a qualidade do texto não deveria ser comprometida pela necessidade de se fazer descolado. Isso compromete diretamente a credibilidade do veículo.

Enfim, não é todo o conteúdo da Vice que merece essa “pagação de sapo”, mas em respeito aos bons jornalistas que se importam com a qualidade e a ética do conteúdo que produzem, deixo o meu recado aos *pseudo-jornalistas.
*à quem a carapuça servir.

Publicar matérias esdrúxulas na internet é uma coisa, mas esse pseudo-jornalismo que vocês vem espalhando já é demais, Vice.

Obrigado pela leitura.

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