Seios, blusas, sutiãs e gravidade
Peito, seio, teta. Tanto nome, tanto desejo, tanto pudor, tanta polêmica. Caidinhos, durinhos, grandes, pequenos, diversos mamilos multicoloridos, atrevidos, retraídos, reconstruídos.
Aos 11 ganhei meu primeiro sutiã para sustentar o peso dos olhares alheios. Eu era feliz correndo com os peitinhos de fora em casa, mas tinha chegado a hora de ter vergonha, assim como Adão e Eva quando descobriram que estavam nus, por algum motivo irracional. A alça marcava, a presilha feria. O peito, par imperfeito, não amadurecido, precisava ser contido. O sutiã marcava também a blusa, os meninos mais imaturos ainda, faziam piadinhas e riam abobalhados.
Odiava o sutiã, mas aprendi a conviver com o incômodo. Uma tia me disse que a dor faz parte do processo de se tornar mulher. Queria ser pra sempre menina, mas eles cresciam, tomavam forma, graciosos, desajeitados, assimétricos. As mulheres da família se dividiam entre as que tinham seios grandes e pequenos, os meus eram transbordantes, notáveis, e por isso motivo de repreensão. “Essa blusa não, muito decotada, marcada demais. Que tal um bata?” . Olhava no espelho e me via imperfeita, enrolava uma faixa para esconder o volume e a vergonha.
Foi nas mãos de um homem que escutei pela primeira vez que eles eram bonitos, meu par de vergonhas me dava prazer. Mamilos tocados, lambidos, levemente mordidos, admirados.
Ainda há certo “pudor”, mas aos poucos vou livrando o peso dos olhares alheios, a camisa esconde a pele e marca a forma que me delata. “Sou mulher! E toda mulher que se preze tem o direito de fazer o que quer.”
Odiei meu corpo pelas palavras de um, amei pelas de outros. Mas era o que eu sentia que valia, eu era o estímulo e através de mim o gozo, o prazer e o ato repetido por Adão e Eva, que duvido que sentiram vergonha da nudez, estavam preocupados demais descobrindo outras coisas.
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