Taylor Swift, Xuxa e uma boa lição: Como rir de si mesmo?

Exercer o amor próprio com leveza não é um desafio só de celebridades

Alice Mayumi
Medium Brasil
4 min readAug 20, 2015

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Recentemente me vi diante de uma daquelas situações simbólicas que as pessoas normalmente não estão preparadas para lidar, e querem evitar a todo custo: fui demitida.

Por um bom tempo, foi difícil assimilar esse fato, por diversos fatores. Pouco importa se era algo razoavelmente previsível por conta da crise, do corte de gastos e de causas cujas soluções estão além das minhas mãos. Demissão implica em impacto no bolso, na auto estima, no orgulho, além de oferecer uma dose extra de tempo livre que, me conhecendo bem, vou gastar mais me martirizando do que usufruindo com algo útil.

Enquanto minha carreira sofreu esse baque, assisti a da Xuxa ressurgir feito fênix na segunda-feira (17/08) com a estreia de seu novo programa na Record. Ali teve de tudo. Xuxa dramatizou como teria sido sua entrevista de emprego, respondendo a pergunta “Grau de escolaridade?” com “A de Amor, B de Baixinho”. Chamou a Cláudia (que na verdade é Erica) e pedir desculpas publicamente pelo meme que criou. Brincou muito sobre o desafio de se apresentar ao vivo.

Claro que você pode não gostar da Xuxa, ou de seu programa. Você pode odiar, querer que tirem do ar, não entender porque diabos ocuparam as noites de segunda com essa (insira qualquer adjetivo negativo aqui). Mas eis um fato: Xuxa está de volta. Ela está no jogo, e sua maior carta na manga, ou assim pareceu na estreia, é o orgulho de aceitar quem ela é. Xuxa aprendeu a rir de si mesma.

Ano passado, vi outra celebridade fazer o mesmo, e justamente por este motivo ela ganhou minha admiração: Taylor Swift. Durante toda a sua vida sob holofotes, Taylor viu a mídia chamá-la de sonsa ou acusá-la de trocar de namorados com frequência “alta demais”. Por muito tempo, eu a enxerguei por essa perspectiva, até que saiu seu último álbum, 1989. Nas letras mais recentes, fala-se abertamente sobre essa visão estigmatizada da cantora:

Vou para muitos encontros. Mas não consigo manter nenhum. Ao menos, é o que as pessoas falam

Tenho uma longa lista de ex-amores. Eles te dirão que sou insana.

Não li a respeito, mas para mim parece óbvio que o álbum se chama 1989 porque o ano de nascimento é simbólico. Como se fosse um renascimento, uma nova fase da vida dela. Assim como a da Xuxa.

Para que essa nova fase se consolidasse, era preciso quebrar os estigmas que emperravam o processo. Como sair da mesmice? Como provar que dessa vez seria diferente? Como evitar repetir os mesmos erros? As duas encontraram a mesma resposta: aceitando a si mesmas.

Eu admiro pessoas que conseguem rir de si mesmas. Que pegam suas vulnerabilidades, seus defeitos, abraçam e gritam: “Sou assim mesmo, e daí?”. Reconhecer essas características é um passo, mas rir? Ah, rir é uma arma potente, e usá-la contra si mesmo é um ato e tanto! É enfrentar seu pior algoz: você mesmo(a).

Eu acho que ser destemido é ter medo, mas pular de qualquer jeito

Não é fácil lidar com nossos defeitos, não é fácil amar a nós mesmos. Na verdade, é tão difícil que muitos de nós sucumbimos em lágrimas e descontamos em potes de nutella, exatamente como fiz para lidar com a recente tragédia. Aí a coisa piora e, além de se sentir a pior bosta da face da Terra, você também se sente fraco(a) por sequer conseguir reverter isso. Isso afeta a todos nós, então pra quê fingir que não? Por que não encarar as coisas com leveza? Por que não se encarar com leveza?

Eu preciso renascer. Preciso colher meus cacos, olhar para mim mesma e rir. Não rir de mim, rir comigo. Enxergar as qualidades, e sim, enxergar também os defeitos, pois ambos me trouxeram até onde cheguei. Ambos me fizeram o que sou hoje. Uma garota de 21-quase-22 anos desempregada, prestes a se formar e com medo do futuro. Que passou a vida inteira ouvindo os mais diversos comentários sobre seus 1,45m. Que ama escrever e gostaria de escrever em inglês, mas não consegue publicar um único texto na língua sem pedir que alguém corrija antes. Entre trocentas outras características que preciso aceitar.

Tem aquela frase que diz que é muito fácil encontrar pessoas que nos amem quando estamos bem, difícil mesmo é encontrar quem nos ame quando estamos em pedaços. Acho que o mesmo se aplica a nós mesmos. Na hora que as coisas apertam, o amor próprio vai embora, mas temos que trazê-lo de volta e mantê-lo. É ele que nos segura. É ele o principal catalisador para qualquer mudança.

Um sincero agradecimento a Taylor Swift e a Xuxa por esta lição de amadurecimento. Ninguém é obrigado a aprovar o resultado dos seus esforços, ou mesmo reconhecê-los. Ninguém, além de você mesmo.

E pro resto, como diria Taylor: Shake it off!

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