ESTE É UM TEXTO SOBRE ESPORTE(s)
Então o Tite saiu do Corinthians e foi para a Seleção Brasileira. Nós, corintianos, estamos tristes. O Tite saiu em um momento em que a Seleção Brasileira já não é exatamente a Seleção Brasileira, senão um antro de imbecis e corruptos como quase todo o resto. Mas segue o jogo.
Mas quem sabe o seu Adenor não bota ordem pelo menos no time dentro de campo e faz a gente comemorar daqui uns anos o hexa? Ia ser bacana. Eu ia ficar feliz, pelo Tite, pela Seleção — em campo. Pelo futebol. Muita gente não entende o que é gostar de futebol e torcer para um time e gritar quando ganha e ficar puto quando perde. Eu entendo isso. Não é fácil entender como alguém pode gostar de 22 marmanjos e uma bola e dois retângulos e todo mundo correndo igual idiota. Ou para quem gosta de basquete: 10 marmanjos e uma bola e um cesto e tem que jogar a bola no cesto. Ou futebol americano: 22 marmanjos e uma bola oval que não é uma bola e todo mundo fica correndo para tentar passar por uma linha num campo de grama. Mas a gente gosta. A gente gosta muito.
Eu sei lá o por quê, mas a gente gosta. Eu cresci no Rio e um dia eu percebi que era corintiano, o que é estranho, porque meu pai era vascaíno, minha mãe são paulina e minha irmã flamenguista. Mas eu gostava é do Curintia, mesmo. Por muito tempo na adolescência eu fui fanático: eu era moleque e ia em barzinho, buteco mesmo, ver o jogo quando só passava no PVV. Ia sozinho, ficava puto, discutia com os bêbados, abraçava os caras quando a gente vencia. Ficava na internet atrás de informação, puta merda, eu adorava aquilo. O dia em que o coringão caiu eu chorei. O dia em que eu liguei a TV e avisaram que o Ronaldo tava vindo pro Corinthians eu quase surtei.
O tempo passou e eu deixei o futebol meio de lado, mas eu sempre gostei de ver. A final da libertadores em ouvi na 105, porque eu estava de serviço de Plantão de Alojamento e era proibido qualquer eletrônico, mas paciência, e assisti os últimos três minutos assim que meu serviço acabou as 23:55. A final do mundial eu vi metade no terminal da barra funda e metade no tablet de um desconhecido no ônibus e a gente se abraçou no gol e ele abraçou uma moça e todo mundo berrou em um ônibus.
E não é só futebol. É basquete. É futebol americano. Eu já entrei em quadra para jogar pelo meu time e vi a vitória ir embora no último segundo com uma cesta da Marinha e eu cai no chão exausto e puto. Mas a gente continuou treinando e jogando — mesmo perdendo. Já vi meu time ter a bola do jogo na mão e ela não cair. Já assisti futebol americano e vi uma virada absurda com o cronômetro zerado, ou uma interceptação na endzone, ou um fumble recuperado para touchdown que mudou o rumo do jogo.
Por quê? Não sei. Pelo mesmo motivo que o Ronaldo arrebentou os dois joelhos e voltou a jogar e foi campeão do mundo. Pelo mesmo motivo que o Kobe Bryant sentiu dor todos os dias pelos últimos anos mas continuou jogando e fez mais de 60 pontos no seu último jogo como profissional. Pelo mesmo motivo que o Peyton Manning encheu seu pescoço de titânio para conseguir continuar lançando a bola e encerrou sua carreira com seu segundo anel de SuperBowl. Não é só dinheiro. E é absurdo o quanto esses caras ganham, sim, mas é outra história. É pelo jogo. Pela necessidade de jogar.
Tanto moleque sonha em entrar em campo e jogar futebol. Tanta gente conseguiu uma chance contra todas as possibilidades jogando alguma coisa. O esporte tem algumas histórias bonitas. A gente, vendo da arquibancada, esquece delas. Mas a gente não consegue parar de ver. É o jogo. Menos torcida organizada, que é a coisa mais patética que existe no mundo: transformar um jogo em um motivo para se espancar. Mas torcida organizada é um reflexo da imbecilidade diária: achando motivos para o inexplicável e inaceitável.
Agora o maior treinador da história do Corinthians foi embora. Para a Seleção Brasileira. E a gente, corintianos, fica triste. Mas a gente vai continuar assistindo. E o Tite talvez dê um jeito talvez não dê um jeito na Seleção. Mesmo assim, nóis diz: valeu, professô. E VAI CURINTIA.