Vida
Não vou te enganar ou deixar o segredo pro final. Vida é o nome de um travesti com o pau do tamanho da cancela do shopping que fica na Indianópolis.
O nome real dela ninguém sabe. Os documentos pegaram fogo num incêndio. Teve uma vida difícil a Vida, sempre muito hostilizada na favela em que morava. Depois do incêndio, ela foi flagrada com um dos chefes do tráfico da Vila Prudente. A Vida foi enxotada da favela e não não teve escolha a não ser dividir o apê com mais duas bonecas no centro. Era o começo de uma nova vida feita das cinzas da favela.
Desde então, a Vida, sofrida, tem sido assim. Segue trabalhando sempre nos mesmos pontos: “aqui é onde a Vida pega”. Tem gente que a confunde com outra coisa e se frustra quando chega em casa. “Era só ter conversado mais comigo, meu amô” disse certa vez ao cliente pasmo.
Aliás, a Vida te ensina muita coisa se você souber conversar. Um papo pode mudar tudo. O problema é que as pessoas não querem ouvir o que a Vida tem a dizer, ou têm medo daquela voz rouca de cordas vocais surradas por traumas na garganta e hormônio. Muito hormônio.
Tudo na Vida tem um preço. Aquela panturrilha torneada só foi possível por que o prédio de 5 andares onde ela mora não tem elevador.
Ele/ela , geralmente, vai te aceitar mais fácil de acordo com o tanto de dinheiro que você tem. Se não tiver nenhum, pode tomar um tijolo baiano no vidro traseiro do carro e ser escorraçado.
Dizem que aproveita mais quem ama a Vida e que cada uma é diferente da outra. Tenho convicção de que a Vida é uma só, apesar de dar conta de 4 marmanjos bêbados numa noite de quinta.
Ela usa maquiagem a noite por que quando escurece as coisas ficam mais difíceis.
Claro que precisa de maquiagem. É muito fácil ser bonita de dia, e sem enquadrar o gogó e nariz, o perfil da Vida é bastante fotogênico: só precisa do ângulo certo, algum dinheiro e uma mão na bunda.
com colaboração de Leandro Gravallos, via Whatsapp.