6 grandes erros que cometi com meu primeiro app

Andrey Duarte
Senior Mega
Published in
7 min readOct 31, 2018

Quando assumimos grandes projetos sentimos aquele misto de empolgação e medo. Empolgação por ter a oportunidade de mostrar um resultado satisfatório e entregar um bom produto e medo por suspeitar da nossa capacidade para tal.

Assim que passei a fazer parte do time da MEGA, fui incumbido de dar continuidade a não só ao primeiro app da Empresa, ( fundada em 1985), mas também ao primeiro app da minha carreira como UX.

Como UI já havia desenhado interfaces de sites, porém o desenvolvimento de APP contava com todo o processo de UX, e nessa reta final do projeto faço uma análise de todos ensinamentos monstruosos que obtive nesse percurso.

O projeto está sendo finalizado com um resultado bastante satisfatório, mas nesse caminho cometi muitos erros, os quais não atrapalharam a agenda ou o resultado final do produto, visto que tínhamos uma boa flexibilidade quanto ao tempo de execução.

Então, venho aqui para rasgar minha vaidade e mostrar que UX não é uma mágica, nós erramos muito para poder acertar. Por isso, com a minha percepção, vou descrever os “erros” e refletir como poderiam ser evitados.

#ERRO 1 — Não organizar as informações

Quando assumi o app, algumas partes do projeto já haviam sido executadas, como as entrevistas, o design sprint, as personas, uma parte do protótipo e até testes validados com o usuário, e eu, inocentemente, achei que poderia encontrá-los por conta própria a hora que precisasse.

Desorganização gera frustração.

Por não estar familiarizado com as ferramentas da Empresa, não reuni e não organizei as informações. Não as perdi, porém quando precisava consultar o protótipo, tinha que navegar entre pastas; quando ia ler as entrevistas, era necessário buscar pelo e-mail em que estavam anexadas; documentos como da design sprint ficaram armazenados dentro de diretórios do servidor e devido à complexidade de acesso, foram pouco consultados; e as personas, como foram desenhadas em cartolinas e coladas na parede, com a mudança de andar da Empresa, acabaram se perdendo.

Enfim, o que aprendi com isso e posso compartilhar é que, definir um local online para documentar todo seu trabalho (trello, confluence, etc…) e te dar os links referentes aos a documentos e anexos importantes, facilitarão o seu trabalho, te dando mais agilidade na consulta das pesquisas e sendo útil quando for necessário reportar aos envolvidos o progresso do seu trabalho.

Organize-se!

#ERRO 2 — Não tracei metas claras e o caminho para alcançá-las

Nem tanto um erro, mas sim devido à inexperiência, muitas vezes me deparei sem saber para onde ir e que metodologias aplicar, o que resultou na elaboração de processos que não foram muito úteis, e perda de tempo aprendendo coisas que não eram aplicáveis.

Sem um objetivo claro, fica parecendo que você não sabe o que esta fazendo.

Em alguns pontos do projeto, fiquei sem saber para onde ir, como conseguir as respostas que procurava, e em alguns casos, que respostas eram essas.

Enxergo como um problema para isso (tem outros como a falta de comunicação por exemplo) o fato de não ter um caminho claro para seguir. Traçar metas claras (macro-jornadas) e o caminho para alcançá-las (ferramentas) acabaram se perdendo na minha fome de desenhar uma solução.

Obviamente não temos como prever tudo que precisaremos pesquisar, testar e validar. Porém, podemos analisar um produto e quebrá-lo em macro-jornadas.

Por exemplo, em uma espécie de Uber, podemos dividir as macro-jornadas em:

  • Cadastro;
  • Forma de pagamento;
  • Chamar o carro;
  • Traçar rota;

Preciso fazer o fluxo em que o usuário chama o carro.

  1. Fazer uma pesquisa de mercado
  2. Entrevistar usuários e motoristas
  3. Definir personas
  4. Definir uma Matriz CSD
  5. Desenhar as jornadas dos usuário e motoristas
  6. Fazer o protótipo
  7. Testes

Este é um exemplo hipotético. Quero mostrar que desenhar as fases do seu processo, mesmo que você não as siga, elas servirão como um guia. Pois no momento que você as escreveu você não tinha as informações que você adquiriu de etapas anteriores. Porém nos dois casos você está indo na mesma direção, porém nem sempre pelo mesmo caminho.

# ERRO 3 — Evitei pedir ajuda

O nosso tempo é valioso! Muitos bons profissionais levaram anos para provar e convencer stakeholders de que o design que pregamos não é apenas algo estético, mas sim um mindset, uma forma mais profunda de interação.

Então não gaste tempo se preocupando com o ego do “não quero parecer que não sei”.

Sem ajuda você afunda.

Em muitas situações quis provar para mim mesmo que conseguiria avançar no projeto sem uma informação ou outra, autoafirmações como: “eu sei como funciona” e “deve ser assim”, podem ser armadilhas. Em um projeto, qualquer mínima informação pode impactar em grandes comportamentos.

Você como eu, ainda não tem todas as skills, sempre temos algo a aprender! Tenha humildade para pedir ajuda e dizer que não sabe para onde ir ou como chegar ao resultado que planeja. Se despir de toda vaidade é muito difícil, mas quanto mais você a perde, mais consegue fazer o produto fluir, sendo pedindo ajuda, sendo aceitando conselhos.

E não aos poucos, mas sim aos saltos, você vai adquirindo experiência, e antes que você perceba, passa ser um disseminador do conhecimento.

# ERRO 4 — Sair desenhando tudo e com detalhes

Eu venho do design gráfico, então além de saber da importância de um bom UI, eu tenho prazer de desenhá-lo, isso pode ser um problema.

Trabalhar com baixa fidelidade evita refações cansativas e que seu trabalho seja jogado fora.

Acabei por desenhar todo o aplicativo, todas as telas, inclusive menus de configuração, perfis, entre outros, e como o app teve um ano para ser desenvolvido, nesse período minha experiência com interfaces e estética evoluiu muito, amparada por cursos, artigos, referências e com a prática de desenvolvimento do próprio app. O que resultou em 3 evoluções estéticas de TODO o protótipo.

Já é batido falar sobre protótipo de baixa e média fidelidade e é importante se atentar aos prazos para definir que tipo de protótipo você vai usar. Porém, o que acho mais relevante ainda, é ter em mente que é necessário desenhar apenas o que será testado com o usuário, assim você vai ganhar tempo para outras atividades no projeto.

Existem telas comuns entre aplicativos, que na maioria dos casos não necessitam de testes, como um menu de configurações, por exemplo. Utilize seu tempo encontrando ou refinando soluções para as jornadas importantes do seu projeto.

Obs* Não esqueça de usar a função “symbols” das suas ferramentas de prototipação para evitar retrabalhos.

# ERRO 5 — Querer prever todas as hipóteses

No meu protótipo existiram telas que davam opção de realizar funções de check, expand, forms, etc., e isso gerou telas diferentes com diversas possibilidades e eu as desenhei todas!

Prever todas micro ações é perda de tempo.

Muitos aqui podem achar estranho o que estou relatando, mas no início de 2017 o ADOBE XD ainda não possuía diversas funções que estão disponíveis atualmente. Sendo assim, cometi esse erro de querer desenhar todas as hipóteses possíveis que o app deveria ter, diferente do erro 4, aqui não é estético, mas sim comportamental.

Por exemplo:

Imagine um filtro que te dá 5 opções de checkbox e o usuário pode marcar quais quiser, quantas combinações dá isso? — Tudo desmarcado, tudo marcado, apenas a primeira, apenas a segunda, a primeira e a quarta…

…deu para entender né?

Hoje, além do ADOBE XD disponibilizar as ferramentas para que isso não seja mais necessário ser feito, para os testes com usuários, não existia a menor necessidade de ter todas as opções, existem comportamentos que uma explicação verbal seria suficiente. Para um protótipo não é necessário ter todas as situações básicas disponíveis para acesso, muita coisa é senso comum. (a não ser que seja algo que você queira testar, algo mais focado em usabilidade.)

Foque no que você quer descobrir e desenvolva o protótipo para fazer o usuário lhe dar uma resposta objetiva.

#ERRO 6 — Tentar evitar fazer o que menos gosta

Tentei criar uma forma automatizada para executar os testes de usabilidade, passando as tarefas por mensagens no próprio protótipo. Fizemos simulações de como seriam esses testes com o usuário final e constatamos que não era preciso, tornando-o confuso e massante.

Testes com usuários podem assustar

O objetivo foi tentar diminuir o meu contato verbal com o usuário, o que para um UX é extremamente estranho de se fazer, mas considerando que minha origem era designer gráfico, onde o contato com o cliente era quase nulo.

Porém, quando virei a chave para o UX, descobri que essa skill é meu ponto fraco, e foi a skill que mais precisei desenvolver. Mas por fim, aos poucos fui executando os testes com os usuários e me sentindo mais confiante. Ainda não é algo que desenvolvo com maestria, mas até então já executei 7 testes para dois produtos e existirão outros mais.

Então se posso dar alguma dica sobre isso é:

Encontre sua skill mais fraca e a desenvolva

Esse foi meu primeiro projeto, meu primeiro app, que será a ferramenta para gerar muitas negociações e utilizado por muitos profissionais.

Os “erros” mencionados nada mais são do que aprendizados. Existiram outros que com certeza foram bem processados e corrigidos, tanto que com o desenvolvimento do meu segundo app gastei 1/10 do tempo e esforço necessário com o primeiro. Em posse de tendo uma documentação muito mais completa e organizada, os testes feitos com sucesso e com muita antecedência, restou tempo de sobra de para refinar o projeto quantas vezes fosse necessário.

O resultado final é importante, mas a jornada é essencial e onde você cresce!

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