Como fiz a transição de Web Designer para UX Designer

Andrey Duarte
Senior Mega
Published in
8 min readMay 14, 2018

Com 30 anos decidi sair da minha zona de conforto, largar minha cidade natal e tudo que construí como Web Designer para tentar uma área nova em um lugar novo.

Como alguém que gosta do que faz, atuando como Web Designer, me encantava com interfaces e interações diferentes, em contraponto, me estressava (estresso) com aplicações mal pensadas.

Depois de alguns anos desenhando sites e alimentando redes sociais, acabei por conhecer e namorar essa tal de UX, (ou também conhecida por Experiência de Usuário). Curioso, comecei a estudar e entender o que é UX. E o que muitos demoram para entender e se assustam, é que, o UX vai muito além que interfaces, essa é apenas uma etapa.

Alguns designers querem enfrentar o desafio de fazer a transição do web para a experiência de usuário (UX), porém, o que nos capacita a trabalhar neste campo? Mexer no photoshop? Entender de layout? — É o que eu vou tentar responder aqui, descrevendo o que fiz para entrar na área.

Aprendendo UX com a minha avó

Quando eu ia na casa da minha avó, ela me recebia com um beijo, um café fresquinho e aquele bolinho de chuva que acabara de ser feito. Para mim era natural, ela é um amor, a amo e sempre foi assim *-*. Agora questione-se: os seus usuários amam os trabalhos que você entrega? Se a resposta for não, então vamos aprender UX com a minha avó!

Minha avó acordava cedo e muito provavelmente um dos seus primeiros pensamentos da manhã envolvia os netos (o cliente/usuário). Por meio da minha mãe, ela soube que eu iria visitá-la naquele dia, então adiantou-se na resolução de um problema: eu estaria com fome!

Ela poderia ter oferecido apenas um biscoito industrializado, o que solucionaria o problema, porém ela conhece seu “usuário” e através de testes já sabia a melhor forma de solucionar a questão, e de quebra, proporcionar a melhor experiência, programando-se para que tudo estivesse fresquinho quando eu chegasse. O beijo significava simplesmente: “Seja bem-vindo, aqui você vai ser bem tratado!”.

Tudo isso para te mostrar onde você tem que chegar ;)

1. Entendendo o mercado

Você é o mestre “photoshoper”? Ótimo! Não é? Ótimo também.

O que você logo nota ao consumir artigos de UX é que esses seres vêm de diversas áreas: são designers gráficos, programadores, engenheiros, publicitários, como é composta a equipe da MEGA atualmente, mas também existem antropólogos, psicólogos, administradores, etc… Enfim, o que importa não é de onde você parte, mas onde quer chegar.

Após ter entendido que UX é mais do que interface, é de fato toda a experiência do usuário (como o nome já diz), foi necessário estudar o mercado e buscar o que as vagas exigiam como conhecimento.

Um dos maiores desafios que encontrei quando decidi trabalhar como UX foi o nível exigido pelas empresas com posições abertas. Muitas ainda estão implementando a cultura do design, sendo assim, a maior parte das vagas são para profissionais Sênior, volta e meia um Pleno. Entretanto, o que todo profissional em início de nova carreira precisa é de uma vaga Júnior, que nos permita trazer o conhecimento da profissão anterior, no nosso caso de Designers a questão estética (pelo menos é o que esperam), e associá-la ao aprendizado que engloba o UX Design.

Além disso, pedem que saibamos usar muitas ferramentas como Sketch, Axure, InVision, XD, UXPin, Principle, Marvel, entre outras, bastante específicas para a área, as quais eu desconhecia.

2. Criando um plano de ação

Entendendo como é o perfil de um profissional da área e vendo o que o mercado demanda, resolvi traçar objetivos.

A primeira coisa que fiz foi consumir todo o conteúdo áudio-visual nacional da internet sobre UX. No Youtube conheci canais como UXlab e UXnow que me deram um norte profissional excelente, pois são muito atuais e atuantes. Contudo, o start veio de um curso grátis muito bom ministrado pelo Edu Agni, onde ele te pega pela mão e te apresenta o processo, à la Rei Leão mostrando para o Simba até onde ia seu reino. Além das citadas, existem várias outras fontes de conhecimento, inclusive uma vasta gama de conteúdo em inglês.

Depois de ter um pequeno conhecimento acerca do que se tratava a UX e entender alguns cases, passei a fazer cursos pagos, participar de talks e eventos, nada tão frenético, sempre buscando agregar conhecimento nesta área. E assim, começava a aplicar algum conteúdo de UX no meu dia-a-dia, no meu trabalho e na minha forma de pensar. Toda vez que surgia a oportunidade de usar uma ferramenta nova de UX no trabalho, eu o fazia. Precisamos aprovar um site com o cliente? Vamos usar InVision. Novo site? Adobe XD, por exemplo.

3. Montando algo apresentável

Após adquirir essas novas skills, resolvi que estava na hora de me testar, e para isso precisaria me expor.

Primeiramente, atualizei meu portfólio com todo resquício de elemento de design de experiência de usuário que tivesse aplicado durante aquele tempo, além de explicar integralmente o processo, pois os profissionais da área dão muito valor para o caminho que foi necessário percorrer para atingir o resultado daquele problema, não apenas ver a solução pronta e bonita.

No currículo, além de listar os cursos que concluí, as ferramentas que aprendi e sobre as quais tinha domínio, inseria um pequeno texto personalizado, direcionado à empresa ou ao responsável da área, quando o conhecia, por meio do qual me apresentava e argumentava sobre os motivos que me levariam a fazer a diferença naquela organização.

Nesse processo procurei muitas referências de modelo de portfólio e currículo focados para área. Separei o que gostei e o que se encaixava com a proposta.

Se possível faça seu currículo chegar até o gestor da área. Quem tem um problema? Quem é a solução do problema dele? Faça contato, apareça, para que ele lembre-se de você.

4. Testando o que aprendi

Me apliquei em três processos seletivos.

O primeiro deles não foi adiante devido à questão salarial. No processo seletivo da segunda empresa, fui selecionado para uma entrevista, na qual precisei defender meus trabalhos e dizer como cheguei naqueles resultados, além do básico solicitado em toda entrevista, que englobava falar sobre mim, minha vida acadêmica e experiência profissional.

Após isso, passaram-me um briefing com um teste. Nele eu deveria desenvolver uma solução para um problema. Eu poderia apenas mostrar uma solução de um app super moderno que revolucionaria o mundo (qualquer um pode fazer, se não delimitarem limites para sua solução), porém tentei ser o mais pé no chão possível, mesmo que isso não tenha sido explícito, pensei no que era realmente possível fazer.

Iniciei com algo que acredito ter sido meu diferencial, um simples formulário de pesquisa, com o intuito de validar o problema e fazer algumas descobertas. O apliquei de verdade utilizando o Facebook e obtive um retorno satisfatório.

Com esse formulário identifiquei que nossa persona na realidade não era exatamente aquela passada no briefing. Além disso, consegui identificar alguns problemas a mais e possíveis insights, que me ajudariam muito na hora de criar uma solução. De posse dessas informações, comecei a desenvolver minha proposta, ataquei nas áreas do usuário e comercial do produto, expliquei na apresentação o propósito de cada jornada e como tal solução poderia ser utilizada comercialmente.

Na hora da apresentação, estava nervoso e perdendo palavras (como é natural comigo), além de estar com a maior gripe que tive desde que vim morar em Curitiba. Apresentei minha solução, com um power point que recontava o briefing, mostrava a pesquisa real, apresentava os resultados que traçaram o perfil do nosso público alvo, as personas e a solução detalhada e navegável de média fidelidade. No fim, acabei ficando com a vaga!

Um pouco antes de vir trabalhar na MEGA Sistemas, a 3ª empresa, uma das maiores startups de Curitiba me contactou para fazer um teste, mas tive que recusar. Quer dizer, o esforço surtiu o melhor efeito possível.

Aprendendo na prática

Para chegar até aqui, passei por um processo de Design Thinking sem perceber: com o entendimento do mercado, vi que não tinha background nenhum para alcançar o que queria, então fiz uma imersão no problema; Criando um plano de ação, estava fazendo a síntese do meu projeto e definindo meu escopo, traçando o que deveria ser feito para chegar onde queria; Quando montei algo apresentável, estava fazendo um protótipo, algo que iria servir de base para me testar, se algo desse errado ou não surtisse efeito, eu mudaria ou a mim ou aos meus entregáveis; E a entrevista é o teste com usuário.

Enfim, o processo de busca pela vaga de emprego que me interessava não restringiu-se apenas a enviar um currículo por e-mail e esperar. Foi necessário sair da minha zona de conforto em Florianópolis, com apenas 3mil no bolso, nenhum emprego e metas bem estabelecidas em mente. Vim para Curitiba com alguns objetivos e em menos de 1 ano conquistei todos, entre eles estava o desejo de trabalhar com UX.

Este foi um relato resumido que conta como fiz para fazer a transição de Web Designer para Analista de Experiência de Usuário. Não teria como ter feito todo esse percurso sem ter aprendido nada. Houveram falhas e acertos, e surgirão novos desafios que me levarão a cometer mais erros e também acertos, mas é justamente com essa experiência que tenho construído meu aprendizado. Arrisque-se.

Bônus

Aqui quis apenas relatar o que fiz para fazer essa transição, não dizer o que você deve ou não deve fazer. Mas caso você se encontre nessa transição, tenho umas dicas que podem te ajudar.

Faça parte das comunidades de UX, Facebook, Slack, Medium, etc… Consuma bastante informação, faça network. O resto você já sabe! ;)

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