O silêncio ensurdecedor que permeia a saúde mental

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5 min readJul 19, 2018
Documentário Human (2015) do diretor Yann Arthus-Bertrand

O que você compreende quando pensa em saúde mental? Já ouviu ou leu sobre isso antes? A definição de saúde mental é complexa, mas vamos refletir juntas e juntos? Como se deu essa construção de saúde versus doença? O que é um “corpo físico ou psicológico” considerado saudável? E para quem?

Assim como diversos outros âmbitos sociais, o meio universitário possui suas particularidades. Nele, nós estudantes estamos em processos de transformações numa série de aspectos pessoais e pode-se dizer que é até natural sentirmos certo desconforto com isso. Para muitos é a primeira vez na vida que uma maior liberdade é conquistada. No decorrer do curso e das diversas atividades que participamos, não apenas dentro da sala, mas também fora como projetos de extensão, coletivos, esportes, pesquisas, movimento estudantil, grupos de trabalho e estudo, é possível nos depararmos com questões que ainda nos causam incômodo ou que não tivemos muita oportunidade de assimilar. Com isso podem surgir preocupações, confusões e outros diversos sentimentos e emoções. Às vezes até, sentimos que está acontecendo algo com a gente e nem sabemos ao certo pensar ou falar sobre. Entendemos que será impossível abordar tudo e que não é uma tarefa simples discutir sobre saúde mental dada a individualidade de cada estudante. Porém a importância desse tema tem sido cada vez mais difundida em diferentes espaços e, de fato, este é um desafio que queremos encarar. Vem com a gente?

Para falar sobre saúde mental é necessário considerar o processo histórico e social de como as noções de saúde e doença foram e são construídas ao longo do tempo. Neste texto pincelaremos de forma muito breve alguns pontos que consideramos fundamentais para essa discussão. Contudo, indicamos para quem se interessar que realize uma pesquisa mais aprofundada, pois o objetivo dessa escrita é ser um texto de cunho reflexivo, com uma comunicação leve e fluida que movimentam questionamentos e não um texto informativo e/ou acadêmico com normas da ABNT rs. Temos algumas limitações, e não é nossa intenção trazer respostas, entretanto esperamos que elas sejam construídas nesta leitura e/ou em outras, numa mesa de bar com amigos/as, num café com seu/sua companheira/o ou numa caminhada solitária, desejamos que as considerações aqui feitas possam contribuir para seus questionamentos.

Alguns marcos importantes são a luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica, através delas mudou-se a noção de cuidado e construiu-se novas políticas públicas modificando, assim, o olhar e a escuta de pessoas com sofrimento mental. Atualmente a saúde mental inclui nosso bem estar emocional, psicológico e social, afeta como pensamos, sentimos e agimos. Tem-se alguns “recortes” que não adentraremos neste momento, como o de gênero, de classe, étnicos, entre outros tão importantes quanto. Será que a forma como produzimos e reproduzimos a vida dentro do sistema capitalista é adoecedora? Se sim, como? Quanto? Aqui caberiam tantas perguntas, tantos questionamentos. Por acaso você se faz perguntas desse tipo? Se sim, quais são as tuas? Nosso espaço é aberto para que se sintam à vontade de compartilhar reflexões conosco e com as e os demais leitoras e leitores ao final desse post ou na nossa página do facebook.

Rosa Luxemburgo, mulher, militante e marxista, escreveu essa frase: “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, gosto de pensar que essa seria uma boa definição do conceito de saúde mental rs.

Mas, como faço para me escutar pra além de todas essas questões sociais? Como sei que a minha saúde mental precisa de cuidados? Ou que uma pessoa próxima não está tão bem? Não existe uma fórmula mágica, uma pílula x. Somos sujeitos singulares cada um com sua estrutura psíquica dentro de um determinado momento histórico, cultural e social.
Uma forma de “ouvir” talvez possa ser se atentar ao teu corpo físico e psicológico, e também a tuas relações interpessoais. Como assim se atentar? Sentir-se, se observar e se conhecer, o corpo dá sinais tanto biológicos como cognitivos, os escute. Claro, dentro do que lhe é possível nos momentos.

Compreender e de certa forma permitir que os sentimentos e as emoções aconteçam, tem-se uma gama de sentimentos, “bons e ruins” (tristeza, amor, raiva, frustração, alegria, apatia, e muitos outros, com intensidades, formas de serem expressos que são diferentes entre si). São experiências que tem que ser vividas, que são naturais de todo desenvolvimento humano: é “normal” ficar ansiosa/ansioso antes de determinados momentos, para alguns antes de uma prova importante, para outras e outros quando precisam se expor, falar em público. É “normal” ficar triste pelo término de um relacionamento, ou pela perda de uma pessoa querida, entre inúmeros outros exemplos. O que poderia não ser “tão normal” assim, seria talvez ter problemas mais agravantes que possam dificultar ações cotidianas, ou atrapalhar seus relacionamentos, sua maneira de ser e estar no mundo. Seja pelo potencial, pela intensidade, pela frequência, pela forma com que esses sentimentos e emoções estejam presentes, alterando sua vida, seu autocuidado, sua autonomia, produtividade, e suas relações.

Nessa coisa de produzir e reproduzir a vida, como estamos vivenciando nossos sentimentos? Porque às vezes é mais fácil tomar pilulazinhas de “felicidade”, ou que nos deixem grogues e anestesiadas/anestesiados, do que entrar num processo de autoconhecimento ou análise profissional? E as redes sociais? Será que de fato eu preciso fingir que sempre está tudo bem? O que consideramos normal e anormal? Será que todo “transtorno mental” precisa de medicação? Mas e a indústria farmacêutica? Qual é a noção de cuidado dela?

Ao menor sinal que possa ter algo que traga sofrimentos, bem como possíveis prejuízos, procure conversar sobre, refletir, se possível com você mesma/mesmo, com pessoas próximas. Falar também pode ser uma forma de se escutar. Considere ajuda de profissionais da área, psicólogas e psicólogos, psiquiatras, tem-se um universo de possibilidades, atendimentos gratuitos, ou com valor social, com ou sem o uso de medicações. Aqui na nossa plataforma temos um folheto com algumas dessas informações.

Nessa esfera tanto individual quanto coletiva, o que a tua saúde mental te diz? Será que a escutamos? Ela faz barulho, vamos ouvi-la!

* O Volume 1 do Documentário Human (2015) está disponível no Youtube e, na íntegra, no Netflix. Achamos que ele encosta em algumas das reflexões que tentamos trazer com esse nosso texto. Sugestão do Meio!

** Texto escrito por Ana Carolina e colaboração da e dos membros do Meio.

Com carinho e comprometimento buscamos estudar e trazer conteúdos relevantes às alunas e aos alunos, mas não estamos isentos de equívocos ou simplificações. Por isso agradecemos e incentivamos o feedback! Sugestões e críticas nos ajudarão a trazer discussões mais alinhadas com a demanda de vocês! Sejam muito bem vindas e bem vindos ao meio :)

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