Esse artigo é sobre a reorganização da Identidade Visual da Meiuca
Mas vamos falar de harmonização facial, tokens, ciborgues, sliders e deusas.
Sobre harmonização facial
A Meiuca acabou de lançar uma campanha de reposicionamento, vocês devem estar acompanhando. Por 4 anos a empresa estava totalmente focada em projetos e consultoria de design, super especializada em Design System. Agora entramos num novo processo, estamos nos tornando uma empresa de produtos digitais. E os produtos em desenvolvimento são uma nítida expressão da nossa história. Aprendemos muito sobre tecnologia, escala, educação e impacto social, e não achamos mais justo a palavra Design monopolizar o protagonismo: paramos de assinar Meiuca Design, agora somos só Meiuca (e quando a url ou o nome de usuário não estão disponíveis a gente coloca um .co e fica ótimo.)
Mudou o nome? Não né, foi só um ajuste pra tudo ficar mais consistente. A nossa identidade visual passou pelo mesmo processo. Mudou a identidade? Rolou uma harmonização facial? Não necessariamente, tem algumas coisas novas, mas no geral é uma reorganização do que já vínhamos fazendo. É um tapa no visual, mas a gente sempre gostou do nosso maxilar redondinho.
Sobre design tokens
Sempre trabalhamos com muitas mensagens simultâneas, um mesmo feed ao meio dia falava de design tokens e às 18h questionava a organização social do trabalho e redistribuição de renda. E isso até reflete bem o nosso dia-a-dia, mas como apresentar tudo isso de um jeito organizado? A própria hierarquia de marcas refletia esse nosso impasse, o que era Meiuca Design? O que era Meiuca Org? Uma estava abaixo da outra? Do lado? Como elas interagem? Bom, acabamos com isso também: tanto o design token quanto a redistribuição de renda são temas caros para a Meiuca, nossa única marca, e ela que assina tudo a partir daqui. Meiuca org continua existindo como um tema, um subtítulo, uma forma de classificar nossos projetos 100% sem fins lucrativos, mas debaixo da nossa marca única: Meiuca.
Mas como uma marca única comunica visualmente assuntos tão diferentes? Pra isso a gente precisou de reforços. O projeto de reorganização da identidade visual foi feito internamente pelas mãos da Tamilis Oliveira, brand designer, Caio Andrade, head of content, eu (Rodrigo César) head of branding e da agente especial Anna Carla Abreu, estrategista de marca que iluminou os caminhos.
Sobre ciborgues
Com todo esse contexto a Anninha trouxe pra gente a icônica figura do ciborgue.
Como assim?
Não é o ciborgue dos Jovens Titãs (fiz um recorte ousado de idade aqui heim), é um pouco mais cabeça: ela nos apresentou o Manifesto Ciborgue, uma obra político científica escrita em 1985 pela bióloga e filósofa norte-americana Donna J. Haraway. Mas calma, quero que sua cabeça exploda igual a nossa quando essa referência surgiu.
Nas nossas conversas enfatizamos muito os dois lados fortes da marca — a especialização técnica e a busca por impacto positivo. Um lado mais técnico/mecânico e um lado mais social/humano. Você já entendeu né? A metáfora que surge naturalmente é o ciborgue, o ser parte humano e parte robô. Ele não existe sendo totalmente máquina, senão seria apenas robô, e não existe sendo totalmente humano, ou seria uma pessoa. Assim como a marca Meiuca só existe como ela é habitando uma pluralidade espaços.
O ciborgue por si só já segurava esse conceitão. Mas temos o texto da Donna Jay que elevou a história. No “Manifesto ciborgue — Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX”, a autora confronta o movimento feminista que homogeniza a mulher, como se houvesse uma identidade única que as uniria. Ela lança a figura do ciborgue como o ser que rompe esse conceito, ele é a quebra de fronteiras, a confusão de ideais utópicos de unidade que servem até pra causar mais opressão. Ele é o ser não puro, é uma mistura, e por ser heterogêneo, tem em si respostas mais profundas e complexas para a realidade que é profunda e complexa. O ciborgue nesse manifesto confronta o que é vendido como puro, ideal, perfeito e traz em suas misturas opostas um nível de complexidade necessário.
Não é lindo? Me arrepia toda vez. Mas vou parar por aqui porque dá pra ficar horas lendo os significados dessa metáfora… vamos pro nosso sistema de identidade em si.
Sobre sliders
Nossa marca ciborgue, que não é e nem quer ser um modelo ideal, mas sim essa mistura “impura” e complexa de opostos, precisa traduzir esse filosofês para uma estética sistematizável. Para isso criamos a régua ciborgue.
Um dia ela vai ser um belo slider automatizado que gera templates e assets gráficos por programação, mas por enquanto, é uma régua com dois lados opostos, um máquina e um humano, que direciona três parâmetros gráficos: forma, cor e movimento.
Forma: o lado máquina é perfeitamente geométrico, com linhas apuradas e formas duras, secas. Ao deslizar para o lado humano, as formas se tornam mais soltas, orgânicas e as linhas mais gestuais.
Cor: o lado máquina carrega os tons neutros e frios, já o lado humano as cores quentes e a possibilidade de gradiente.
Movimento: rispidez, velocidade e cortes secos são o motion do lado máquina, indo para o lado humano os elementos se movem com suavidade, quase que flutuando.
Sabendo o que ela é, fica fácil imaginar como funciona. A cada nova comunicação, situamos na régua o tema que vai ser trabalhado e a partir daí definimos os elementos visuais que vão compor os materiais. Tomando como exemplo alguns desafios dos nossos novos produtos digitais: o design system open source é uma produção extremamente técnica, está muito próxima da extremidade máquina da régua, é composta então das formas geométricas mais apuradas e as cores frias e neutras.
Já o jogo pensado para aumentar a auto estima das crianças da periferia, se localiza no outro extremo, fortemente humano, e apresenta as linhas soltas, gestuais e as cores mais quentes.
Os elementos variáveis da régua nos dão a mobilidade para comunicar os diversos temas de forma escalável, mas são os elementos fixos, como tipografia e paleta de cores, que garantem a consistência do sistema.
Sobre deusas
Esse conceito de sistema veio organizar nossa comunicação e escalar a produção de branding e conteúdo. É um passo pra chegar num brand system totalmente funcional. A cada nova aplicação vamos entendendo ele melhor e aprimoramos a régua ciborgue. Tá muito certo pra gente que a definição de um conceito forte e funcional tem feito toda a diferença pro sucesso dessa implementação. Pretendemos voltar aqui num futuro próximo com resultados e a evolução desse processo.
A gente amou o conceito do ciborgue, de verdade. E pra encerrar enaltecendo ele, empresto aqui o mesmo parágrafo que Donna Haraway utilizou pra finalizar o seu manifesto:
“A imagem do ciborgue pode sugerir uma forma de saída do labirinto dos dualismos por meio dos quais temos explicado nossos corpos e nossos instrumentos para nós mesmas. […] Significa tanto construir quanto destruir máquinas, identidades, categorias, relações, narrativas espaciais. Embora estejam envolvidas, ambas, numa dança em espiral, prefiro ser uma ciborgue a uma deusa.”