Não demita, divida
Nossa iniciativa para “achatar a curva” do desemprego da área de tech e design.
Que a verdade seja dita: o coronavírus chegará até você. Melhor dizendo, ele já chegou e, independente do seu mercado de atuação, você já sente o impacto e consequências da pandemia em seu cotidiano. Seja de forma direta ou indireta. E isso significa que empresas e pessoas precisam se adequar a um novo formato de vida, de trabalho, de relacionamentos e interações sociais.
Assim como vimos pessoas desesperadas saírem feito loucas comprando seus lotes de papel higiênico para estocar em suas casas, vemos agora empresas demitindo muitas pessoas em um momento extremamente complexo e talvez sem considerar outras alternativas.
Ando refletindo como momentos de crise revelam muito sobre o caráter das pessoas e também da cultura das organizações. E como momentos de crise econômica, são testes reais de resiliência para as empresas. Me pergunto agora: onde estão aquelas empresas que tanto falavam que seu principal ativo eram as pessoas? E por que agora elas ignoram completamente seus discursos e até seus valores para colocar outro valor ($$$) como norte para resolução de seus problemas?
Não estou à frente de uma operação de milhões (por enquanto), mas posso imaginar o que é ter uma folha de pagamento com milhares de pessoas e carregar a insegurança em não saber se terei como arcar com esses custos. Entretanto, penso que sair demitindo em massa visando cortes de gastos, além de ser desumano em um momento como esse, talvez seja uma atitude precipitada e nem sempre a alternativa mais inteligente.
Mas por que a demissão pode não ser o melhor caminho?
Antes de tomar essa decisão pense nos altíssimos custos de uma demissão como: 13° salário proporcional, aviso prévio indenizado que também é proporcional, pagamento antecipado de férias mais 1/3 constitucional e multa de 40% sobre o saldo do fundo de garantia. Depois destes custos entram outras perdas tangíveis e intangíveis como todo o investimento em treinamentos e adaptação daquela pessoa no time e na empresa como um todo, o histórico de desenvolvimento e contribuição que uma pessoa pós onboarding pode oferecer para empresa, além daquele clima pesado que vem com a sensação de “quem será o próximo ou a próxima a sair?”
Agora imagine se a crise passar mais rápido do que imaginamos, as atividades das empresas voltam ao normal e quem demitiu precipitadamente terá que recompor todo o seu time? Recontratar todo mundo outra vez, treinar novamente as pessoas e tentar fazer a roda girar como era antes. Tempo e dinheiro perdido mais uma vez.
É claro que existem mercados especialmente afetados e empresas que, infelizmente, não tem outra saída. Mas será que é possível refletir com mais cuidado antes de demitir? Existem possibilidades como linhas de crédito, medidas trabalhistas criadas pelo governo para a preservação do emprego e da renda durante o enfrentamento do coronavírus, e existem outras soluções que estão nascendo todos os dias para ajudar o mercado a passar por esse pesadelo.
E foi assim, pensando mais do que nunca que precisamos proteger as pessoas, que nasceu o “Se organizar direitinho”, uma iniciativa da Meiuca Org, que é o nosso braço sem fins lucrativos. Na org unimos design, tecnologia e criatividade para solucionar os problemas socio-ambientais.
Ainda existem empresas, principalmente no segmento de design e tecnologia, que continuam contratando ou precisando de serviços pontuais para determinadas atividades. Então por que não nos organizamos para ceder nossos talentos temporariamente para empresas que estão precisando? Assim cuidamos das pessoas (ao invés de nos livrarmos delas) e após um determinado período, a empresa pode ter seus talentos de volta.
Se no mercado esportivo dá certo, no nosso pode funcionar também.
No futebol, a troca de jogadores entre os times para disputas de campeonatos, ou até mesmo em momentos de crise financeira de um clube, é uma prática comum há muito tempo. O outro time passa a pagar parte do salário daquele jogador ou até mesmo o salário integral, dependendo do acordo estabelecido entre as partes. Também podemos refletir sob a ótica da troca, ou permuta utilizada entre empresas modernas que fecham acordos sem necessariamente desembolsar dinheiro.
E assim pensamos: se organizar direitinho a gente perde menos, todo mundo continua trabalhando e ninguém solta o emprego de ninguém. Nossa ideia é ser a ponte que conecta empresas e pessoas. Se a empresa possui um talento que não consegue bancar, ao invés de demitir ela pode dividir ou “emprestar” os custos e as habilidades dessa pessoa com outra empresa temporariamente, ou até mesmo a longo prazo se todas as partes entenderem que é a melhor solução.
E como posso aderir a este movimento?
Criamos uma plataforma para empresas com oportunidades em aberto divulgarem suas vagas e para empresas com talentos disponíveis compartilharem em nosso banco de talentos. Quem sabe dividindo o quadro de funcionários conseguimos equilibrar os custos e ajudar quem precisa economizar e segurar os custos, quem precisa contratar e quem não quer ficar em situação de desemprego. E até pensando pelo âmbito de troca cultural, essa experiência pode ser muito rica e construtiva, tanto para a pessoa que vai passar essa temporada em outra empresa, desenvolvendo novas habilidades, quanto para a empresa que a contratou, que ganha uma perspectiva nova para seu time.
A negociação sobre período de troca entre as empresas, salário e outros detalhes deve ser feita diretamente entre as partes interessadas. Caso a relação seja CLT, a ideia é que a empresa que cedeu seu talento emita uma nota de serviço à que pegou emprestado e, ela que possui vínculo, continue depositando seu salário. No caso de relação PJ é ainda mais fácil, basta o talento passar a emitir nota à empresa que vai lhe acolher temporariamente. Todos estes acordos variam muito dependendo do tipo de serviço, demanda e claro, a vontade do profissional.
Essa é uma iniciativa gratuita, porque a intenção agora é ajudar a evitar ou minimizar um possível colapso econômico e social perante tantas incertezas e demissões que vemos acontecendo. E eu me disponibilizo para dar o suporte e ajuda necessária para as pessoas e para as empresas. Colaborando podemos reduzir custos e manter as pessoas empregadas. Se você quiser conversar, vai me encontrar aqui: camila@meiuca.design ou (11) 9 7060–3708.
A situação lá fora está crítica e precisamos agir agora. Não amanhã, hoje! Então te faço um pedido, compartilhe essa iniciativa com o RH, os gestores da sua empresa e colegas do mercado que acredite que podem se beneficiar. Comigo eu levo uma certeza: essa crise vai passar e espero que a gente saia dela melhor do que entramos. #NaoDemitaDivida.