Se design não for sobre fazer a diferença, é sobre o quê?

Thiago Hassu
Meiuca
Published in
4 min readFeb 13, 2020

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Nossa incrível jornada para levar inovação aos negócios e à sociedade.

É sempre difícil explicar o que é design. Ou pelo menos o design que acredito. Quando bate aquela preguiça, resumo em “projetar coisas”. Talvez resolver problemas. Nos dias de mais inspiração comparo design com uma cebola, com algumas camadas que começa no negócio, passa por branding e serviço, até chegar na interface ou produto físico.

Mas o que sempre me encantou mesmo foi como o design poderia ser usado como ferramenta de transformação. O quanto ele poderia ser eficiente para resolver problemas verdadeiramente complexos. No fim, a fome, a violência, a desigualdade ou tantos outros desajustes sociais são apenas “erros de projeto”. Sistêmicos, é verdade. Mas ainda sim erros de projeto.

Acordo e vou dormir todos os dias pensando como mudar o mundo através do design. Parece utopia? Concordo. Parece balela também. Mas por alguns bons motivos (que conto repetidas vezes em mesas de bar) decidi que essa seria a minha razão para levantar a cada nova segunda-feira.

Mas e na prática?

Quando Bill Gates projeta um vaso sanitário que funciona sem a necessidade de uma rede de esgoto, ele está usando design para mudar a realidade de cerca de 2,3 bilhões de pessoas que ainda vivem sem acesso ao saneamento básico no mundo. No Brasil, 48% da população ainda vive nessa situação. Quando acabar com a poliomielite no mundo ao redesenhar a jornada de distribuição de vacinas na África também.

Dica: assista o documentário “O Código Bill Gates” (uma produção Netflix incrivelmente inspiradora) e se delicie vendo o design ali, mesmo sem ser chamado de design.

Sim. Um bilionário com sua ONG querendo reparar alguns anos de conduta questionável. Não tira seus méritos, longe disso. Mas você tem razão, parece distante da nossa realidade. Sempre me perguntei como eu, simples mortal com uma pilha generosa de boletos, conseguiria mudar o mundo através do design. Eu deveria renunciar meus sonhos materiais? Trabalhar em uma ONG? Ou em uma empresa com propósito real?

Decidi criar a minha. A Meiuca.

Um negócio de impacto social

Nessa jornada descobri um conceito incrível os negócios de impacto social. Popularizado mundialmente por Muhammad Yunus, primeiro economista a ganhar um prêmio Nobel da Paz depois de ter criado o Grameen Bank (primeiro banco de microcrédito do mundo). Basicamente propõe que o lucro é o responsável por escalar o impacto. Muito diferente das ONG’s, onde existe a dependência das doações: hoje você ajuda 100 crianças, mas e mês que vem?

Yunus prega que todo o lucro deve ser reinvestido no negócio. Enquanto a Artemisia, uma incrível instituição que fomenta os negócios de impacto no Brasil, acredita que entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, você deveria ficar com os dois. Assino embaixo. Quero mudar o mundo e, obviamente, viver o melhor que ele pode me oferecer enquanto isso. Mas independente da divisão de lucros ou não, a sacada está no design do negócio. O objetivo é encontrar um modelo sustentável, que traga impacto e receita ao mesmo tempo.

Diferença nos negócios e na sociedade

Dentre os modelos possíveis, entendi que subsídio cruzado seria o ideal. Por isso, além da Meiuca (que busca hacks de inovação para grandes empresas), criamos a meiuca.org (nosso braço sem fins lucrativos). Isso aí, uma ONG de design subsidiada por uma empresa de design. Dedicamos parte dos nossos lucros e 20% do nosso tempo para encontrar nossas causas e devolvermos à sociedade. Misturamos nosso time, nossos clientes e a comunidade de design para criar projetos como a Galeria Meiuca, que usa arte para promover bandeiras importantes, ou como o Pincel Preto, que se propõe a repensar o futuro do negro na sociedade brasileira.

Sabe qual a parte mais mágica dessa história toda? É que querer “mudar o mundo” é contagiante. E isso acaba refletindo não só nas pessoas, mas em nosso portfólio de serviços também. Acabamos criando formatos onde as empresas beneficiam seus negócios enquanto geramos impacto e, de quebra, somos bem remunerados por isso. É o caso do Welcome to Favela, uma iniciativa que satiriza a visão “gringa” que temos da nossa periferia e aproxima grandes marcas desse cenário para co-criarmos modelos onde todos ganham. Fizemos a primeira edição em parceria com a Youse, você pode assistir ao case aqui. Que orgulho.

Não é só a sociedade que ganha

Recentemente me caiu a ficha. Na jornada de tentar mudar o mundo, mudamos cada pessoa que passa pelo nosso caminho. Passei a enxergar essa como uma possibilidade também. Será que mudar o mundo não é sobre mudar pessoa por pessoa? E se usássemos design então para projetar pessoas felizes? Estamos encarando o desafio de construir nosso próprio modelo de trabalho e remuneração, mas esse é assunto para um próximo artigo (muito em breve, prometo).

Nessa jornada já me sinto menos louco. Menos utópico. E acredito cada dia mais que design é sobre fazer a diferença.

Vem comigo? :)

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Thiago Hassu
Meiuca

Service/Business designer, CEO e Founder da Meiuca. Acredita que design é sobre fazer a diferença. E segue tentando! :)