A princesa salva a si mesma neste livro — Analogia, polêmica e Feminismo

Daiane Jardim
Melancia
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4 min readMar 23, 2019

Já fazia um tempo que eu queria ler o livro “A princesa salva a si mesma neste livro” da Amanda Lovelance. Ano passado vi um burburinho a respeito dela no exterior e desde então fiquei curiosa para conhecer suas obras. Eis que para minha alegria o livro saiu no Kindle Unlimited e não pensei duas vezes para lê-lo.

Bom, antes de mais nada o título já é mais do que sugestivo. Você não vai ter uma história de amor, onde o príncipe chega com o cavalo branco e resgata a linda princesa. Aqui, a princesa aprende sozinha se libertar, sai da torre e conquista o seu próprio reino.

Amanda usa essa analogia dos contos de fadas, onde as mulheres são passivas, para trazer retratos da sua própria vida. E que vida…

A trajetória da autora não foi nem um pouco fácil, perdeu a mãe e a irmã muito cedo, sofreu abuso, se aprofundou num sentimento de culpa e sozinha teve que aprender a lidar com essas grandes mudanças.

Uma das formas que ela encontrou para lidar com suas dores foi a escrita.

“… O único amor que você precisa é o seu.” Pág. 195

Eu li o livro em cerca de uma hora enquanto tomava meu café, e a cada página me surpreendia com a força da Amanda. Ousei colocar-me um pouco em sua pele — o que é sempre arriscado, mas aconselhado — e foram minutos dolorosos. Tentava visualizar seu passado, e a cada nova página era como um novo fôlego que ela tomava até a sua transformação.

Terminei a leitura sentindo-me reenergizada e admirada com a força que a autora também teve em não somente passar por tudo que passou, mas conseguir transformar isso em poemas empoderadores e fortes.

E, então entendi porque ela é tão comparada com a Rupi Kaur, autora de “Outros Jeitos de Usar a Boca”. As duas têm histórias fortes, escrevem com a alma e estabelecem um diálogo de dentro para dentro com cada leitora, reforçando o poder feminino. Mas eu ousaria a dizer que Rupi é um pouco mais profunda que a Amanda e seus poemas mais enigmáticos.

Enfim, gosto das duas e recomendo ambos os livros.

Só que uma rápida olhada pela internet, vi que muita gente criticou o estilo da Amanda dizendo que o que ela faz não é poesia. Ó meus caros, é poesia sim. Já outros disseram que é uma poesia pobre.

Bom, vejamos. Amanda não teve a intenção de escrever mais um clássico literário, também não se julga um poema pela sua quantidade de linhas ou estrofes, e aposto que ela não se importou se estava escrevendo um poema decassílabo ou não. Ainda dá para aprofundar mais, mas vou deixar a Teoria da Poesia de lado aqui, porque não é meu objetivo no momento.

O que quero deixar claro é: Amanda escreveu poesias sim e ponto. Boas? Ao meu ver sim. Sinto que ela apenas escreveu e não se importou com técnicas ou teorias literárias. Vejo o livro como um desabafo, alguém que encontrou na escrita o seu refúgio e isso não é pecado.

Há uma frase do Miguel de Cervantes que diz o seguinte “Não há livro tão mau que não tenha algo de bom”. Então, meu querido, o livro pode não ter sido bom para você, mas aposto que para outra pessoa pode ter feito muita diferença.

Fico feliz ao ver o livro da Amanda fazendo sucesso, e de ter sido eleito a melhor leitura do ano pelo Goodreads Choice Award. É um livro feminista, que incentiva as mulheres a tomar as rédeas da própria vida, que mostra o quanto podemos ser fortes e enfrentar as adversidades que nos aparecem.

“Ah mas é um livro pra vender”, seja para vender, para ser de graça, o que for, não me importa, o que realmente me interessa é que a mensagem de empoderamento está sendo passada e isso para mim é o que deve ser levado em consideração.

Eu quero é livro com mensagem empoderadora escolhido como o melhor do ano pelos leitores. Quero é ver autoras no topo das listas de vendas. Eu quero é menos mimimi do povo que se diz entendido, e não veem a importância de ter um livro assim nas livrarias.

Eu quero é mais mulheres percebendo que não precisamos de príncipes para nos resgatarmos das torres. E, que devemos conquistar o nosso reino e assumir nosso lugar de rainhas de nossas próprias vidas.

“estou
bem segura de
que você tem
p o e i r a d e e s t r e l a s
correndo
por
essas
v e i a s.
- as mulheres têm um tipo de magia.”

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Daiane Jardim
Melancia

English and Portuguese teacher. Master's in Literature and Education. Polyglot, passionate about teaching and writing.