A realidade de trabalhar com a criatividade

Daiane Jardim
Melancia
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3 min readJul 23, 2019

Desde a manhã de hoje estou pensando sobre criatividade. Trabalho como redatora freelancer e produzo conteúdo todos os dias, e desde que estou nessa profissão a palavra criatividade é como um espírito divino que deve habitar em mim.

Mas quem consegue ser criativo 8 horas por dia nos 5 dias da semana? Qual a criatividade que esperam de mim e o que eu entendo por criatividade? Perguntas amplas para dezenas respostas que borbulham na minha mente.

Durante muito tempo eu realmente acreditei que criatividade era algo como uma benção divina, uma luz que iluminava a sua cabeça e lhe fornecia o dom da escrita. Até que comecei a trabalhar com redação e senti a água batendo na bunda, as horas passando, e o cliente não esperaria o raio criativador cair na minha cabeça. Então, eu criava.

Criava o que dava.

Poderia ser melhor? Não sei. Depois de tantos anos buscando perfeccionismo em cada detalhe, criando em ambientes que não me incentivavam para isso e com uma pressão avassaladora nas costas, entendo que criei o que melhor pude com os meios que possuía.

Hoje trabalhando como uma loba solitária nesse mundo freelancer, eu sei que meus clientes esperam de mim também algo criativo, mas nunca me cobram em relação a isso, acredito que talvez já seja algo óbvio do pacote de ser redatora.

Os boletos não esperam a luz divina me abençoar e tem dias que é mais fácil criar que outros. Há momentos que entro tanto em um texto e em minutos ele nasce, em outros o tema e o planejamento ficam de molho por algumas horas até eu criar coragem e digitar uma linha.

Por exemplo, faz semanas que tento escrever mais para o meu médium e não consigo. Aqui eu me cobro para ser mais criativa que produtiva, mas todos os dias quando abro a plataforma eu busco por textos que conversem comigo, independente de ser algo novo ou clichê. E acho que é nisso que a criatividade mora, no poder de nos fazer conectar com o que está escrito e não apenas rir de slogans engraçadinhos.

Sinto-me criativa quando me coloco numa posição mais vulnerável, mostro o outro lado de mim mesma, uma ideia desperta em minha mente ao ler um livro ou um podcast me faz refletir sobre algo que ainda não tinha parado para pensar.

Para mim é aí que a criatividade mora: na corda bamba das nossas incertezas e vulnerabilidade de apenas ser, do escrever e apagar e escrever de novo.

Fácil não é, nem todo texto será “wow”, mas não se cobrar tanto, relaxar os ombros, olhar para fora e para dentro ao mesmo tempo já são um bom começo.

Quando você se der conta estará escrevendo no escuro mesmo (como eu estou agora), e perceberá que nem precisou de uma luz divina sobre sua cabeça para criar, mas apenas a vontade e o afastamento das próprias cobranças e perfeccionismo.

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Daiane Jardim
Melancia

English and Portuguese teacher. Master's in Literature, Education and Formation. Polyglot, passionate about teaching and writing.