Eu não sei o que fazer e isso não significa que fracassei

Daiane Jardim
Melancia
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3 min readJul 7, 2019

Cheguei ao ponto de saber que eu realmente não sei o que fazer. Em duas semanas realizo as últimas provas da faculdade e depois disso acabou, formou. Em fevereiro eu não via a hora da licenciatura acabar, e bem, ela está acabando. Um curso que levei 9 anos para concluir, passando por duas faculdades, parando no meio do caminho, e começando tudo de novo.

Semana passada em meu último estágio, os professores da escola me perguntaram se eu queria ser professora, e todos os meus alarmes internos soavam “eu não sei”. Mas preferi apenas sorrir e dizer que sim, pois pode ser que em alguns anos eu decida que quero sim entrar numa escola, abrir meu livro e seguir uma aula. Vai saber.

É engraçado, há 9 anos eu começava Letras disposta a estudar muito, ser doutora em Literatura e revolucionar com o meu ensino. Hoje só quero terminar a graduação, não quero passar meus próximos anos afundada em estudos acadêmicos e a única revolução que está atraindo minha atenção é a solar.

Isso não quer dizer que esses sonhos que um dia tive foram bobos ou errados, eles faziam sentido para aquele contexto, mas em algum momento eu rompi, a vida mudou, e com o novo cenário novas realidades apareceram.

Meus sonhos de agora? Não sei, talvez viajar, explorar, comer, beber, dormir, rir, me divertir, ser feliz e conhecer o que ainda não conheço, enfim, viver.

Na sessão de terapia dessa semana eu disse à minha terapeuta que eu não sabia o que fazer.

Estou a dois meses de embarcar em uma grande aventura, e meu planejamento só vai até a ida. Minha mente quer explodir porque a necessidade de controle que habita em mim se sente com sede de planejar cada passinho.

Mas numa atitude meio marota, ouso deixar tudo no cantinho e baixar o volume da mente inqueite. Os cadernos de planejamento estão esquecidos na gaveta. As planilhas arquivadas. Não sei se cansei de planejar, acho que só cansei de criar tanta expectativa em cima de planejamentos ou talvez por não saber o que fazer, eu não sei nem o que planejar.

Ao não saber o que vai ser, ou deve ser, me sinto vulnerável, com medo de voar com o vento, ser levada e não saber onde pousar.

É estranho porque eu sempre soube o que fazer. Entende? Sempre critiquei quem é “perdido”, mas porra eu estou é muito perdida e para ser sincera? Estou me sentindo bem com isso. Cheia de medo? Com certeza. Mas com uma calmaria estranha de um flerte com o desconhecido.

Não sei se nos cacos do acaso acharei o que eu quero, no fundo acredito que talvez encontrarei coisas que eu passe a querer.

Também não sinto que fracassei. Deixar de lado minhas certezas é um puta avanço para mim. Nessa altura da vida eu já deveria ter aprendido a recomeçar, visto que já apertei o botão de restart algumas vezes nesses 27 anos de estrada. A diferença é que agora recomeço de peito de cheio, e com um conhecimento que vai até certo ponto.

Termino de escrever esse texto e ainda não sei o que fazer, mas pela primeira vez na vida posso afirmar hoje eu sei quem eu sou e isso já é um ótimo começo.

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Daiane Jardim
Melancia

English and Portuguese teacher. Master's in Literature and Education. Polyglot, passionate about teaching and writing.