Frankfurt e meu GPS desligado

Daiane Jardim
Melancia
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3 min readJun 12, 2019
Foto: Daiane Jardim

Lembro-me bem do dia que cheguei em Frankfurt. Era a última cidade do meu roteiro, o último dia de uma longa viagem. Estava cansada, havia passado a noite dentro de um ônibus partindo da Holanda e cruzando a Alemanha.

Cheguei em Frankfurt brava e exausta, era o primeiro dia frio e nublado que eu pegava durante o mochilão. Durante a viagem os motoristas faziam os anúncios todos em alemão, e eu não entendia nem uma mísera palavra. Para minha sorte, Frankfurt era minha última parada então não havia como dar errado.

Assim que desembarquei na cidade cinza, abri o meu roteiro no aplicativo e fui seguindo tudo de forma automática.

Cidade pequena, em menos de 5 horas já tinha percorrido todos os pontos turísticos que queria. Sentei num café e resolvi ligar para minha mãe, queria passar o tempo. Ela estava ocupada, não podia ficar horas comigo conversando, mandei mensagens para meus amigos, limpei a caixa de e-mail. Irritei-me quando um menino e uma senhora sentaram na minha mesa sem pedir licença e falando em alemão e eu não entendendo nada.

Levantei, saí, e pensei: uma viagem incrível com um encerramento bosta, por quê? Desliguei o GPS do celular, deixei-o no bolso e passei a apenas caminhar.

Fui pegando umas ruas estranhas, e cheguei perto da famosa Ponte de Ferro. Já na metade da ponte ouço música vindo do outro lado, fui seguindo o som e ao me aproximar vi que estava acontecendo um pequeno festival.

Várias barracas com comidas típicas, mesas, muitas pessoas, e alguém fazendo cover do Bon Jovi. Sentia-me estranha, e fui entrando no meio daquele povo diferente de mim, uma índia com casaco azul e tênis rasgado no meio de alemães com o dobro da minha altura. Literalmente me senti um smurf.

Pedi uma cerveja do tamanho da minha cabeça, sentei numa mesa com várias pessoas, e comi o melhor hot dog da minha vida. Ninguém me olhava estranho, sorriam, e me senti bem. O álcool já começava a fazer efeito, e fui sentar na grama frente ao rio. Naquele momento apenas agradeci.

Foi o dia cinza mais legal na minha vida. Não aconteceu nada de especial, apenas comi e bebi bem e barato, ouvi uma boa música, e as pessoas foram receptivas comigo. Isso foi o suficiente para me fazer feliz.

Saí meio bêbada, e poxa, que bom que desliguei o GPS e encarei o desconhecido, foi um encerramento perfeito daqueles dias. Fui para o aeroporto e dormi sentada num banco feliz da vida esperando o voo de volta pra casa. A lição que ficou dessa viagem é: desligue o GPS, esqueça um pouco do roteiro.

E tudo que desejo agora é jogar o GPS pela janela, deixar que tudo apenas seja e que a vida volte a me surpreender.

Foto: Daiane Jardim

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Daiane Jardim
Melancia

English and Portuguese teacher. Master's in Literature, Education and Formation. Polyglot, passionate about teaching and writing.