Alta gastronomia que se faz na favela

Melissa Makers
Melissa  Mexe
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4 min readOct 4, 2016

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Comida brasileira preparada por um paulista usando técnicas asiáticas no meio da Rocinha. A nossa mistura pelo Rio passou também pelo Salve! Comedoria, um projeto social de culinária localizado na maior favela do país. Conversamos com Daniel Badauí, que idealizou isso tudo e nos recebeu por lá.

Como surgiu a ideia de construir um projeto como esse na Rocinha?

DB: Eu queria montar um projeto social que funcionasse como uma cozinha de baixo custo, sustentável e colaborativa. Precisava que isso fosse num lugar cheio de gente e me dei conta que o Vidigal, por exemplo, já tinha muita coisa acontecendo. A Rocinha sempre me fascinou. Eu morei no Rio por muito tempo e nunca tinha conhecido de fato, embora sempre fosse maravilhado pela dimensão daquele espaço.

Até que um dia eu resolvi subir e buscar esse espaço por lá. Desde o primeiro dia que eu pisei na Rocinha, eu vi que ali tinha uma riqueza cultural pela mistura de sotaques, pelas histórias, pela quantidade de motocicleta, de van, de crianças, enfim, e eu vi que ali as coisas funcionavam em outro tempo, um tempo diferente da região onde eu me isolava, que era a Zona Sul. E aí conheci muita gente interessante ao longo do caminho até chegar no Célio, que é o dono dessa laje incrível que eu ocupo hoje em dia.

E por que a culinária? De onde vem o interesse por cozinhar na tua vida?

A comida surgiu na minha vida primeiro porque eu sou neto de libanês com italiano, culturas onde a comida é algo muito central, faz parte da socialização. O italiano gosta de comer e o libanês de receber, ter pessoas em casa, ser atencioso e demonstrar fartura. E desde pequeno eu queria descobrir coisas diferentes. Lembro que eu pegava o que sobrava do churrasco que meu pai fazia e começava a criar coisas, isso com 9 anos.

Então ao longo da minha vida passei a receber as pessoas através da culinária, cozinhando como um pretexto pra juntar pessoas. Nesse processo descobri outros temperos, outras especiarias e outras técnicas. Quando eu vi eu tava cozinhando, cozinhando pros outros e trabalhando com isso.

O que a Rocinha te ensinou até então nesse processo?

Eu comecei a descobrir várias culturas diferentes e dar abertura pra que as pessoas pudessem mostrar o seu conhecimento em um processo vivo. Você pode ter muitos olhares pra Rocinha. A Rocinha da comunidade, do morro, das cores, da malandragem. Você tem a Rocinha pesada, da vida dura, da vida batalhada, da vida difícil. Isso tudo constrói um ambiente muito diferente. A Rocinha hoje representa essa liberdade de poder andar em vários mundos. Poder circular nessas misturas é a maior riqueza de cozinhar num lugar como esse.

O Salve! Comedoria é um projeto que busca integrar a comunidade à gastronomia com ações de desenvolvimento e empreendedorismo local. Para saber mais, dá uma olhada no site do projeto!

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Melissa Makers
Melissa  Mexe

Em 2016, Melissa Makers é um convite à mistura. E é desse encontro criativo que surgiu o Melissa Mexe!