Anderson de Oliveira
Mellon Literário
Published in
2 min readJul 14, 2019

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“Saudade é um pouco como fome

Só passa quando se come a presença

Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouco

Quer-se absorver a outra pessoa toda

Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira

É um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.”

Clarisse Lispector

Hoje tive uma pequena insônia com o sentimento da saudade, essa palavra tão nossa, tão forte e maldosa. Maldosa porque fez sofrer os grandes poetas, os melhores artistas, os seres humanos.

Esse elemento de adrenalina flui pelas veias, irrigando o coração com dores e a mente com memórias do que passou, do que poderia acontecer, do que gostaria de ter construído ao lado de alguém importante e que, até então, parece vital pra construção do “eu” tão visado.

Desperto de um sonho que floresceu da esperança de um último abraço, um sorriso, de um conselho, de um último encontro, de um último adeus. Sonho e sou feliz, até que os meus olhos se abrem, caio na denotação da minha ilusão e o travesseiro é regado de lágrimas que externalizam minha frustração da vida real.

Volto às minhas reflexões de talvez uma esperança apagada ou regada pela motivação do encontro eterno. Penso sobre o “se”, essa conjunção subordinativa condicional que nos proporciona tremenda fadiga em criar inúmeras possibilidades de algo irreal.

Vou mais além, imagino as memórias de uma futura saudade, aquela que vem enraizada na palavra “perda”, na qual assombra os meus mais profundos pensamentos, pois sei que a vida é como as cinzas de uma fotografia queimada pela chama do tempo, fazendo as memórias flutuarem através do vento dos anos. Corrôo-me por dentro.

Mais uma noite rego as estrelas com as águas da visão de um futuro que ainda não chegou, mas que sofro pelo medo de virem a cavalo, rápido e bem depressa, carregando a chama que transformará em cinzas a beleza daqueles que ilustram a história da minha vida.

Respiro e me acalmo. Busco evitar o pensar! Busco não encontrar! Quero não acreditar! Preciso apenas irrigar os dias com esperança de que isso é para longe, está distante. E que amanhã, ao acordar, terei uma nova oportunidade de criar memórias que um dia, infelizmente, flutuarão como cinzas ao vento.

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