Isabella Luiz, Fotografia.

Fadiga de tolo

Celina
Memorando Literato
Published in
3 min readJun 3, 2019

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Repito essa frase mentalmente todos os dias.

Escrever tem se tornado algo extremamente difícil, custoso.

As ideias, cenas, falas, nunca deixam de me surgir, mas materializar em palavras se tornou cansativo, como se o prazer pela coisa fosse somente paixão fugaz. Imaginar e calar é o suficiente, contar se tornou estranho, como tentar retornar aos braços de um amante que me feriu ou voltar conversar com alguém que se perdeu o encanto. Não faz o menor sentido.

Às vezes acho que o tempo que perderia ao tentar achar papel e caneta e escrever algo que acabei de pensar seria o suficiente para esquecer a história. Organizá-la em pensamento é alterar a forma para criar, depois diluir e esperar que se entenda o todo. Prefiro vivê-la em silêncio e calar. Vivê-la o mais egoísta possível.

Tenho escrito essas coisas pensando se elas me fazem escritora ou se me fazem estúpida.

Tenho comigo uma raiva que me adormece os braços e me faz perder todo o interesse por qualquer coisa que me faça sentir um pouco mais verdadeiramente eu, mesmo que não tenha ideia do que realmente seja eu.

Deito como quem espera algo acabar, olhando para o tempo, pensando passar assim despercebida. Mas o tempo me acha pelo suor e pelas batidas do coração. E reviro os olhos buscando a verdade, para descobrir, quando o céu clareia, que ela não existe, só o que existe é o eu, e o eu não pode jamais ser verdadeiro, o eu sempre sonha ser outra coisa.

Escrever tem me dado sono, vontade de abrir a porta e olhar o mundo somente colocando a cabeça para fora, tem me dado vontade de fumar escondida e pensar nas coisas com uma sobriedade que me faz perceber a idade e principalmente a verdade incômoda de que não sei perdoar.

Essa madrugada tive um sonho, acordei e as luzes do quarto estavam acesas, não sabia se era manhã ou noite e não tinha ideia em que dia estava. Pela primeira vez em muito tempo isso não me incomodou. Era somente uma coisa feia, sem pretensões, sem sonhos, sem ser real, um bicho, um papel em branco esquecido em cima de uma mesa, juntando poeira, sem entender ao certo o propósito das coisas ou se algum dia fez parte de algum propósito.

Ser também cansa tanto quanto pensar em escrever, ser também me dá medo. Ser me faz pensar demais, me faz querer virar o jogo da vida e sentar um pouco na cadeira de madeira do quarto e conversar comigo e com os sonhos.

Me pergunto se essas palavras me fazem escritora ou se me fazem tola. Não quero pensar demais. O tempo me atravessa e finge que me ignora como faço com as folhas de papel.

|Preciso escrever.

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Isabella Luiz é de Recife, escritora, roteirista e criadora da Fale com Elas. Tem poesias em coletâneas publicadas no Brasil e em Portugal e um livro em andamento. Atualmente escreve na internet e se diverte.

E-mail: isabella-costa@outlook.com

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Celina
Memorando Literato

"Writer". Nordestina, roteirista e fotógrafa. Editora da Revista Fale Com Elas no Medium. Stories in Portuguese and English.