Imagem: Isabella Luiz.

Pelejas

ânsias ácidas

Celina
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2 min readSep 3, 2019

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A necessidade de escrever surge vividamente quando me encontro em extremos de felicidade ou tristeza. Ela se transfigura em um apetrecho usado para conversar com o passado e futuro, para interrogar mulheres distintas e apreciá-las com cafés e conversas francas em tardes um pouco frias e nubladas. A escrita resgata, recobra e consola. Tudo isso de uma forma estranha e confusa que verte de frases e versos de alvoroçadas poesias.

Há pressa em descrever delírios, em rever o assombro de me sentir viva em meio a toda essa alucinação da minha cabeça; Tudo é tão confuso, como se a existência fosse um capítulo de Alice no país das maravilhas, onde sou apenas um personagem que teme em ter a cabeça cortada pela rainha de copas; tudo é confuso e surdo, como uma pancada cega no escuro. A realidade inquieta, sussurra entre o “tic-tac” do relógio da cozinha que não há justiça para corações estragados.

tic-tac, abre-fecha<quanto tempo me resta?; tic-tac, feche a porta!>quantas horas me sobram?; quero nada, quero tudo, quero da noite o escuro, do dia a obra, do santo o milagre e da vida a realidade do outro lado do muro;

tic-tic, sem o tac, quando a dor me invade, ela sabe ou me ignora? será que o que faço sentir demora? será que ainda pensam em mim? >tac-tic, sem chilique, diga quando será meu fim.

escorre pelo couro cabeludo, um trio de pensamentos doentes, um trio contente, um trio demente, um trio descrente e por isso supersticioso. um trio teimoso queima os neurônios, atordoa a vista e me faz crer que a pele que me habita nunca foi minha e sim dos demônios.

sopro os fios do rosto, uns poucos cabelos soltos que escondem fracassadamente olheiras de desgostos. uns poucos cabelos revoltos escondem confissões e espasmos embaraçosos.

[caóticos; avessos; ambíguos; tortos; inexatos; desconexos; emaranhados; imundos] mistérios silenciosos cegam a fortuna e socam a boca do estômago no escuro, me induzindo a curvar sobre a mesa com o ardor ácido que atravessa entranhas e o juízo. dobro a coluna e conto pra dor que também é involuntário persistir.

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Isabella Luiz é de Recife, escritora, roteirista e criadora da Fale com Elas. Tem poesias em coletâneas publicadas no Brasil e em Portugal e um livro brega em andamento. Atualmente escreve na internet e se diverte.

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Celina

"Writer". Nordestina, roteirista e fotógrafa. Editora da Revista Fale Com Elas no Medium. Stories in Portuguese and English.