Vitrine do passado

Retrospectivas de escritor

Celina
Memorando Literato
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3 min readJul 25, 2019

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No último ano a ansiedade me tirou o gosto pela escrita. Uma agitação começa a crescer em meu peito quando penso em sentar para escrever e acabo virando um turbilhão de coisas imóvel. Tenho fugido do sentimento tentando ignorar uma infinidade de rascunhos salvos no computador e uma pilha de textos não terminados na mesa do quarto. Isso tem me aterrorizado esses dias junto com a constatação de que escrevia mais anos atrás.

Continuamente sou assombrada com o pensamento de escrever quando acordo, quando estou fazendo o café e converso comigo mesma; à tarde, tentando não me afobar pensando nas contas e em uma viagem que irei fazer ao exterior; e à noite é como se todos os fantasmas das histórias que não conto deitassem comigo me impedindo de dormir, me desafiando com conversas longas de vidas inteiras.

Falo e penso muito em escrever e tenho escrito pouquíssimo. Noite passada conversava no twitter sobre o ano em que comecei a escrever na internet. Em 2016 eu publicava no mínimo duas vezes na semana contos, crônicas, poesia. Rolei o mouse na minha página e parei na primeira publicação que fiz no Medium, uma carta tardia de despedida para minha irmã mais nova.

Ler o primeiro texto que publiquei na internet me deixou embaraçada. Revivi uma versão de mim que sofreu com a saída de uma irmã de casa. Sorri relembrando as lágrimas, as brigas, a dor e o meu coração de moça. Também pude perceber na escrita um pouco de desleixo e urgência em finalizar os textos, traços de uma ansiedade que sempre esteve me fazendo companhia. Na maioria deles poderia ter trabalhado mais e melhor, poderia ter sido mais paciente e caprichosa. A intimidade e a calma são coisas que ainda hoje continuo trabalhando quando sento para escrever, mesmo inconscientemente.

Aprender, desaprender a sentir e enxergar a vida de forma mais sóbria é algo do processo de maturar o olhar, inclusive o que voltamos para nós. Deu para fazer uma boa retrospectiva de mim mesma, melhor do que as que faço com álbuns de fotografias. Revisitei inseguranças, medos, amores e a jovem que existiu durante esses poucos anos de escrita amadora e sincera. Até a vergonha valeu a pena, através dela descobri que me tornei um pouco mais criteriosa e avaliadora, e que nada me faz aprender tanto sobre mim como olhar para a vitrine do meu passado.

Hoje pela manhã, em mais uma papo comigo sobre coisas que gostaria de escrever, quis continuar essa conversa, dessa vez sentando na cadeira e fazendo o que os fantasmas dos meus textos não escritos sempre me aconselham, colocar na vitrine esse sentimento que talvez se perca se não ousar olhar para trás mais uma vez.

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Isabella Luiz é de Recife, escritora, roteirista e criadora da Fale com Elas. Tem poesias em coletâneas publicadas no Brasil e em Portugal e um livro em andamento. Atualmente escreve na internet e se diverte.

E-mail: isabella-costa@outlook.com

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Celina
Memorando Literato

"Writer". Nordestina, roteirista e fotógrafa. Editora da Revista Fale Com Elas no Medium. Stories in Portuguese and English.