América fez parte do principal momento da história do futebol do Qatar

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4 min readNov 19, 2022
Detalhe na Copa do “Jornal dos Sports” de 29 de julho de 1980

Até que a bola no domingo, para a abertura da Copa do Mundo, o América estará presente na página mais importante da história do futebol do Qatar. Um momento bem menos glamouroso que esse, de estádios high-tech que impressionam o planeta com a realização de um Mundial em pleno deserto. Depois de ter se classificado para o Mundial Sub-20, sua primeira competição fora da Ásia, a seleção do emirado fez uma série de amistosos preparatórios em uma excursão pelo Brasil.

A equipe do emirado era dirigida por Evaristo de Macedo e contava com outros brasileiros na comissão técnica, como o médico Luiz Henrique Gallo. O amistoso contra o América, no Andaraí, fazia parte desta fase preparatória para a maior competição da categoria, disputada no ano seguinte, na Austrália.

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Se hoje se sabe pouco sobre o Qatar e o futebol local, naquele tempo, sem internet, a desinformação era ainda maior. As páginas cor-de-rosa do “Jornal dos Sports” trouxeram a crônica do jogo, sobre a qual havia menção na primeira página. “América meteu 2 a 0, Rogério o destaque. Serginho também jogou bem. A Seleção do Qatar não agüentou a pressão”, dizia. Nenhuma menção ao fato de aquele ser o elenco Sub-20.

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Atualmente, a maior parte dos veículos brasileiros de comunicação ainda hesita em seus manuais, grafando Qatar ora com C, ora com Q. Mas, quem pagou os Cr$ 10 pela edição de domingo (29/06/1980), se deparou com uma versão mais criativa na página seis, na qual o diário esportivo simplesmente grafara “Katar”.

Crônica do confronto: atenção especial para a falta de fair play e a ingenuidade da seleção do ‘Katar’

A publicação não deixa dúvidas sobre a hegemonia técnica do elenco do América, que vinha de uma sequência de três empates contra times bolivianos, disputados após a eliminação na segunda fase do Campeonato Brasileiro. Naquele ano, a participação rubra chegou ao fim após a disputa de um inédito jogo-desempate, por ter ficado igualado ao Guarani em todos os critérios previstos no regulamento.

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Com a bola rolando no Andaraí, Nelson Borges abriu o placar para os rubros no primeiro tempo, completando de cabeça um cruzamento de Serginho. Na etapa final, Rogério, que entrara no intervalo, selou a vitória. A publicação, contudo, não deixou de repreender o mau exemplo dos visitantes.

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“O time do América foi superior durante todo o jogo, embora ainda apresente falhas que poderão ser acertadas com treinamentos, como as descidas de Carlos Henrique pela esquerda. O time do Katar, além da indisciplina, mostrou muita ingenuidade e um bom goleiro, que salvou sua equipe em muitas oportunidades”, apontara o Jornal dos Sports.

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Após três meses de preparação no Brasil e diversas alterações no elenco, os comandados de Evaristo de Macedo aprenderam rapidamente e assombraram o mundo. No Mundial do ano seguinte, foram a grande sensação. Deixou pelo caminho favoritos de uma maneira que a pré-temporada no Brasil jamais pareceu indicar.

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Na primeira fase, superou Polônia (1x0), empatou com os EUA (0x0) e perdeu para o Uruguai (1x0). Resultados sólidos permitiram avançar em segundo lugar, atrás apenas da Celeste. Mas mata-mata não espantaria a zebra. O Catar bateu o Brasil, do técnico Vavá (3x2), nas quartas. Nas semifinais, foi a vez de surpreender a Inglaterra (2x1), e chegar à decisão, contra a Alemanha Oriental, que se sagraria campeã com uma goleada de 4 a 0.

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Para o América, a sequência de 1980 manteve os altos e baixos do primeiro semestre. Desempenho que rendeu uma posição de meio de tabela no Campeonato Carioca: um modesto oitavo lugar entre 14 participantes. Nos clássicos, as duas vitórias sobre o Fluminense foram os destaques de uma temporada discreta.

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