Há 70 anos, América conquistava seu único título do Torneio Início do Carioca

Museu da Memória Americana
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4 min readJun 27, 2019
O time campeão do Torneio Início de 1949

Museu da Memória Americana

Uma vitória de pênalti sobre o Bangu, em Laranjeiras, dava ao América um dos títulos mais contestados de sua história, há exatamente 70 anos. Aquela decisão encerrava o Torneio Início de 1949, no qual 11 equipes promoveram um dia inteiro de futebol na casa do Fluminense. Naquele tempo, o estádio da Rua Álvaro Chaves ainda preservava as configurações originais, com o anel de arquibancadas fechado, antes da demolição parcial para a duplicação da Rua Pinheiro Machado, para facilitar o acesso ao Túnel Santa Bárbara. Enquanto isto, o Maracanã estava em construção para a Copa do Mundo de 1950.

Dentro de campo, o futebol apresentado pelos times não foi exatamente do mais alto nível: houve apenas três gols em toda a competição. O regulamento daquele ano incluía uma novidade: após igualdade com a bola rolando, o desempate seria feito por cobranças de pênaltis, e não mais por escanteios. Mas esqueça as séries alternadas que conhecemos hoje: cada clube escolhia um cobrador, e ele realizaria três cobranças seguidas, até passar a bola para o adversário, que sabia exatamente o que precisava fazer para vencer ou permanecer vivo na disputa.

Esse regulamento consagrou Hilton Vianna, que deu ao América um título inédito. Se os Diabos apresentaram bom desempenho defensivo, não se pode dizer o mesmo do ataque, que jamais correspondeu durante a competição. “O Globo” trazia a façanha na capa do caderno de Esportes, com o chapéu “O desfecho surpreendente do Torneio Initium”, a manchete “Campeão o América” e o subtítulo: “Magnífico espetáculo do certame de abertura da temporada oficial de 1949 — em segundo lugar o Bangu — renda record — O desenrolar dos matchs”.

Embora o tom tenha sido o de celebrar a competição, o desempenho do América não agradou aos repórteres do diário, que fizeram severas críticas ao desempenho da equipe, diferentemente do Jornal dos Sports, mais generoso, embora menos detalhista. O “cor-de-rosa” trouxe na capa a manchete “Novos rumos em Campos Sales”, e o subtítulo “Os rubros receberam jubilosos a conquista do torneio initium”.

Os americanos empataram todos os jogos até a decisão, em 0 a 0, e tiveram a sorte decidida nas penalidades. Os cruzamentos também ajudaram: a equipe tijucana iniciou a jornada contra o São Cristóvão, e foi beneficiada pela sorte que acompanha os campeões. Viu o Bangu eliminar o Fluminense e o Vasco despachar o Flamengo na primeira rodada Na segunda, o Madureira superou o Botafogo e o Bangu deixou o Vasco pelo caminho. Com os favoritos fora de cena, o trajeto até o título foi se tornando mais natural a cada rodada. Veja abaixo, com a grafia da época, como O Globo analisou na ocasião cada jogo do América.

América x São Cristóvão

“Chegou a vez do América e São Cristóvão. E, despeito do interesse que o prélio mereceu, não deu motivos de vibração. Ambos fracos e mesmo desarticulados. Seguras, contudo, as duas defesas. Mas os ataques improdutivos, não armando jogadas dignas de qualquer menção. Assim foram completados os primeiros vinte minutos. Nenhum tento para as duas equipes e, pela primeira vez no torneio, foi necessária a cobrança de pênaltis para cada parte. Wilton iniciou para os alvos, desperdiçando duas e aproveitando apenas uma falta. Hilton Vianna executou os pênaltis dos rubros. E não teve necessidade de acertar todos, porque os dois primeiros foram às redes, o que bastou para eliminar o São Cristóvão”.

América x Bonsucesso

“O América que havia liquidado o São Cristóvão sem evidenciar qualidade, conseguiu no seu segundo compromisso, manter as pretensões ao eliminar o Bonsucesso. E mais uma vez o conjunto rubro teve que recorrer aos penalties. A sua defesa manteve bem os atacantes contrarios, mas a ofensiva, com Lima excessivamente gordo e Carlinhos desorientado nada pôde realizar de prático. Mas, na cobrança dos ‘penalties’, mais uma vez apareceu Hilton, com grande destaque, aliás, o melhor elemento do conjunto”.

América x Madureira

“Semifinal do ‘initium’, América x Madureira. Aliás, um prélio que não ofereceu nada de excepcional. O América, com a mesma produção, ou seja com a defesa bem e o ataque descontrolado. O Madureira no mesmo nível, defendendo-se de qualquer maneira. E a ‘estrela’ rubra mais uma vez brilhou nos ‘pênalties’, saindo o Madureira desclassificado na terceira série. O público vibrou mais com os ‘penalties’ do que propriamente com o panorama da peleja.

América x Bangu

“Chegaram, assim, para a final América x Bangu. E, de acordo com o regulamento, não haveria os pênalties que até então havia beneficiado os dois quadros. Era favorito o Bangu. Havia pelo menos impressionado melhor. De fato, o seu conjunto está melhor constituído e tudo indicava que seria o vencedor e o heroi consequentemente do torneio início. Mas o quadro rubro acabou surpreendendo. Jogando pelo menos bem melhor que das outras vezes, o América conseguiu equilibrar as ações na primeira fase, não permitindo aos suburbanos qualquer vantagem. E, no segundo tempo, quando haviam transcorrido dez minutos, veio a falta máxima de Gualter. Um penalty, aliás, que não existiu. Um chute de Lopes, que nada havia realizado, chocou-se com o ombro de Gualter. E Mario Vianna não perdoou. Apontou para a marca fatal, para desespero dos bangueses. Então surgiu mais uma vez Hilton. E o tento foi marcado. Nos últimos instantes, o Bangu dominou. Mas, a essa altura, todo o ataque do América estava na defesa. E as bolas foram despachadas de qualquer maneira”.

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