O América mais importante do Brasil

É necessário corrigir as distorções de percepção ocorridas nas últimas décadas

Museu da Memória Americana
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4 min readJun 2, 2021

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Stéfano Salles

Os bons papéis desempenhados pelo América no futebol do Rio de Janeiro em boa parte do século XX e a liderança exercida pelo capitão Belfort Duarte, com fair play e espírito empreendedor únicos, fizeram do clube rubro o mais homenageado do país. Esse fato muito orgulha a torcida. Mas, entre seus filhotes, há equipes fortes em âmbito doméstico e, por vezes, nacional. Seus bons resultados, combinados com uma longa ausência do clube carioca da principal competição brasileira, produzem distorções de percepção que essa publicação pretende corrigir.

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Com 19 participações em Campeonatos Brasileiros, contadas desde a primeira edição, em 1959, até a atual, recém iniciada, o primeiro América é também o clube com esse nome que mais vezes jogou a principal divisão da competição mais importante do Brasil. Mesmo sem jogá-la desde 1988, os rubros superam coirmãos como o América-MG, com 18 presenças, e o América-RN, que soma 15.

Luisinho Lemos é o maior artilheiro do América na história do Brasileirão, com 58 gols marcados | Placar

Mas o clube do Rio de Janeiro, fundado em 1904, não se destaca dos demais exclusivamente pelo pioneirismo e pelo maior número de presenças no Brasileirão. Ao longo dessas participações, os rubros de Campos Sales consolidaram sólida hegemonia em relação aos homônimos, para os quais jamais perdeu em confrontos diretos pela competição.

Além de estar à frente dos demais Américas em participações no Brasileiro, o clube rubro supera diversas outras agremiações tradicionais da competição

Foram seis jogos contra o Coelho, com três vitórias e três empates, em partidas ocorridas entre 1971 e 1976. Já contra o Dragão, como é conhecido o clube de Natal, o retrospecto é mais enxuto: apenas duas partidas. Ambas ocorreram no antigo Machadão, na capital potiguar, e terminaram em confortável vitória carioca: 3 a 1 no Brasileirão de 1975 e 4 a 1 no ano seguinte.

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O América pioneiro tem vantagem também no critério melhor campanha na história. O time de 1986, semifinalista daquele ano, eliminado após empate no Maracanã com o futuro campeão São Paulo, terminou a temporada na quarta posição. Essa foi a segunda vez que os rubros chegaram a essa fase da competição.

Edu Coimbra foi o primeiro americano a conquistar a artilharia do Campeonato Brasileiro, em 1969

Em 1961, o América foi campeão da Taça Brasil Sul, à qual chegou depois de ter sido, em 1960, o primeiro campeão do estado da Guanabara. Os rubros bateram Fonseca (Niterói), Cruzeiro e Palmeiras, e pararam na semifinal geral, diante do Santos de Pelé.

Entre os homônimos, o melhor desempenho do Coelho foi um sétimo lugar, obtido em 1973. Já entre os potiguares, o maior feito alcançado foi um 15º lugar, na edição de 1968.

O clube do Rio de Janeiro é também recordista em participações consecutivas na competição: foi participante assíduo das 12 edições que ocorreram entre 1969 e 1980. Os potiguares jogaram 11 entre 1963 e 1973, e os mineiros nove, entre 1971 e 1979.

Com 13 gols marcados, César foi artilheiro isolado do Campeonato Brasileiro de 1979

Em suas 19 presenças, o primeiro América foi também o único até hoje a emplacar artilheiro no Campeonato Brasileiro. E o fez em duas duas edições diferentes. Em 1969, Edu Coimbra, então com 22 anos, balançou as redes 14 vezes e foi o principal goleador do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Dez anos depois, foi a vez de César, de 23 anos, repetir o feito, ao anotar 13 gols.

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Também é necessário lembrar que, em junho de 1982, ao conquistar de forma invicta o Torneio dos Campeões, o clube do Rio de Janeiro se tornou também o primeiro e, até o momento, único América a conquistar uma competição nacional entre os principais clubes do Brasil. Uma saga na qual liderou um grupo com Atlético-MG, Cruzeiro e Grêmio, para depois eliminar no mata-mata o Galo e a Portuguesa, antes da decisão contra o Guarani.

Torneio dos Campeões de 1982 — O América tem um título nacional, conquistado de forma invicta | Placar

Cabe aqui destacar que as distorções de percepção ocorridas nas últimas décadas, que ocorrem com relação aos homônimos, não se restringem a eles. A ausência do clube nas principais competições esportivas e nas páginas do noticiário, seja geral ou especializado, contribuem para a sensação equivocada de falta de relevância que só a valorização da história é capaz de resgatar e atribuir o valor adequado.

*Stéfano Salles é jornalista, pesquisador de futebol e coordenador do Museu da Memória Americana

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