O dia que o América parou o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho na Copa São Paulo

Museu da Memória Americana
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5 min readJan 9, 2020

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Elenco do América posado, em pé, da esquerda para a direita: Ricardo, Paulo Blanco, Marcelo SalgueirinhO, Sandro, Leandro, Cláudio, Hanfrey, Robson Bahia, Chiquinho e Dr. César Parreira. Na frente: Luiz Gustavo. Fábio Venâncio, Arthur, Marcelo, Alexandre Baiano e Marcelo Meliande |Acervo de Marcelo Santos (Marcelão)

Stéfano Salles

Dezessete anos depois, o América voltou à Copa São Paulo de Futebol Júnior. O desempenho não foi o que a torcida desejava, mas o Memória Americana relembra uma campanha mais interessante que a atual: a de 1998, quando o Diabo jogou a competição pela segunda vez, durante a gestão do presidente Seraphim Baptista. Na estreia, em um grupo complicado, segurou o empate em 2 a 2 com o Grêmio, no time em que Ronaldinho Gaúcho já despontava como craque da seleção sub-17.

A estreia do América foi tardia: os rubros só jogariam a Copinha pela primeira vez em sua 22ª edição, em 1991.Em 1998, estar presente na competição representava prestígio maior que o atual: 44 clubes disputaram o título daquele ano, contra 128 na atual temporada. Isso explica também o grupo duro, sediado em Santo André. Além do Grêmio, o América enfrentou o time que leva o nome da cidade e o Palmeiras.

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A tensão da estreia dominou o início da partida e, por pouco, não colocou o América em maus lençóis. O zagueiro Jackson cometeu pênalti em Ronaldinho Gaúcho logo no início do jogo. Escolhido pela Fifa o melhor jogador do mundo em 2004 e 2005, o craque, tratado na época apenas como Ronaldo pelos jornais, cobrou, para defesa do goleiro Robson Bahia.

Zero Hora: jornal do Rio Grande do Sul tratou empate com o América como um tropeço

— Eu me lembro que ele cobrou meio rasteiro, no canto direito. Eu espalmei para escanteio — relembra o goleiro, com carreira construída principalmente em clubes do Espírito Santo.

O elenco do América chegou preparado à competição e vinha de uma boa campanha no Carioca de Juniores, no ano anterior, quando terminou na terceira posição. O time sabia que Ronaldo era o destaque do Grêmio, mas a importância do pênalti defendido por Robson Bahia só cresceria anos depois.

Jornal do Brasil: nota sobre o empate com o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho

— Sabíamos informações do time do Grêmio, mas não tínhamos como prever o curso da carreira de cada um — avalia Robson Bahia.

A defesa do goleiro reanimou a equipe, mas Ronaldinho Gaúcho se redimiu ainda aos 30 minutos do primeiro tempo, com uma cobrança de falta, algo que se tornaria uma de suas especialidades. O troco viria dez minutos depois, com o capitão Francisco Lima, o Chiquinho, de cabeça, após uma cobrança de escanteio. Atualmente, Chiquinho é treinador do Almirante Barroso, clube que ele conduziu à primeira divisão do Campeonato Catarinense na última temporada.

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Elenco do América posado do lado de fora do Estádio Bruno José Daniel, em Santo André

Na segunda etapa, o panorama seguiu o mesmo no Estádio Bruno José Daniel, até as expulsões dos zagueiros Jackson e Luciano Gá. Pelo lado tricolor, Gavião também recebeu cartão vermelho. Ronaldinho voltou a colocar o Grêmio em vantagem, em nova cobrança de falta, logo aos cinco minutos da segunda etapa.

Mesmo em desvantagem numérica, o América foi valente e procurou o empate até o fim. A recompensa pela bravura veio aos 47 minutos, quando Fabio Luiz deixou tudo igual outra vez, garantindo o empate e uma estreia honrosa, que ganharia mais simbolismo no futuro, com o sucesso da carreira de Ronaldinho Gaúcho.

CAMINHOS CRUZADOS

Formado nas divisões de base do América, onde chegara em 1990, Chiquinho explica que ainda hoje é americano e que torce pelos rubros onde quer que esteja. Seu sonho é, como treinador, dirigir o clube.

— O América me deu uma oportunidade profissional e, com ela, a chance se ser alguém na vida. Eu sou muito grato por isto e espero um dia poder retribuir isto de alguma maneira, como treinador — explica.

Mas o destino é irônico. Se ainda não teve a oportunidade de realizar seu sonho, Chiquinho esteve próximo de interpretar o papel de vilão. Em 2017, na decisão da Taça Corcovado, segundo turno do Campeonato Carioca da Série B1, ele era treinador do Itaboraí, adversário na decisão. Após empate em 2 a 2, no Elcyr Rezende de Mendonça, em Saquarema, o América venceu os rivais por 7 a 6 nos pênaltis e ficou com o título.

O DESFECHO

O pênalti de Ronaldinho Gaúcho não foi o único pênalti defendido por Robson na Copa São Paulo daquele ano. No jogo seguinte, o goleiro de 1,84m pegou outro, no empate em 1 a 1 com o Palmeiras, do volante Ferrugem. O desempenho do goleiro rendeu elogios do treinador Luiz Carlos Freitas no relatório de participação da equipe na Copinha. Apesar dos 42 anos de idade, ele segue em atividade e busca um novo clube para a atual temporada.

O polêmico jogo contra o Santo André, na última rodada: casa cheia no Bruno José Daniel

Os empates com Grêmio e Palmeiras foram tratados como tropeços dos rivais pelos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Com esses resultados, o América chegou à última rodada em condições de classificação. Mas, em um jogo de arbitragem muito criticada, que expulsou dois jogadores rubros, o time se desestabilizou e acabou goleado por 6 a 0. Assim, apenas o Santo André avançou para o mata-mata.

Naquele mesmo ano, boa parte do elenco foi aproveitada para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série C. Robson e Chiquinho fizeram parte deste grupo. O América fez boa campanha, mas acabou eliminado na terceira fase, pelo Anapolina-GO. Alguns jogadores daquele elenco atuaram ainda no Módulo Amarelo da Copa João Havelange, em 2000. Entre eles, o zagueiro Luciano Gá, autor dos dois gols na vitória de virada por 3 a 2 sobre o São Caetano, na última vez que o Diabo jogou a Série B do Brasileirão.

Agradecimentos:

Jorginho Fernandes, Ricardo Baptista, Marcelo Santos e Marcell Hartmann.

*Stéfano Salles é jornalista, pesquisador de futebol e curador do Museu da Memória Americana.

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