Francini e Dênis, gatinhos e irmãos na sala da casa em Arroio Trinta (SC). Eu que fiz a foto (1993)

"Quero ser veterinária!"

Ana Marta M. Flores
Nano-Memória
Published in
2 min readSep 30, 2014

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Não poderia ser diferente. Eu simplesmente amava tanto os animais que tudo parecia muito claro para mim: vou cuidar de gatinhos, coelhinhos e cachorrinhos para sempre.

Claro, por volta dos sete anos de idade, cuidar de animais era nada mais do que brincar com eles, dar comida e água e fazer carinho. Simples. Estava aí uma receita para ser feliz.

Meu pai é veterinário, embora nunca entendesse muito bem porque o trabalho dele parecia ser tão diferente do que eu imaginava que seria o meu. Lembro de perguntar para a mãe sobre isso uma vez. Ela respondeu:

"O pai se especializou em grandes animais, por isso não trabalha com cães e gatos."

Tudo bem, entendi.

Lembro de ser uma tarde de fim de semana, em uma cidade muito pequena que moramos no meio-Oeste catarinense. Era um horário silencioso, certamente todos na casa estavam "tirando a sesta".

Na biblioteca onde ficava uma estante alta, de madeira pesada e escura, havia dezenas de livros dos tempos de faculdade dos meus pais. É bastante clara a sensação que tive de pensar em "adiantar os estudos já", assim quando fosse adulta já saberia quase tudo de medicina veterinária. Estava na segunda série e como já tinha permissão de escrever a caneta no caderno, tinha certeza de que poderia dar conta daqueles livros.

Encontrei uns seis, sete livros. Escolhi o mais pesado e grosso, em um tom de verde musgo levemente desbotado. Sentei na poltrona fofa e abri o livro sobre as pernas. Entendi somente metade das palavras, tudo parecia muito confuso, os desenhos estranhos. Fiquei assustada.

Pensei que deveria ser muito, muito difícil.

Mais tarde, naquela noite, confessei para a minha mãe o que tinha feito e sentido. Logo, ela caiu na risada.

"Filha, os livros de veterinária do pai estão em espanhol, por isso tu achou tão difícil! Não se preocupa, tá?"

Senti um alívio: que bom! Eu ainda posso ser veterinária! ❤

Mas aí descobri os animais podem morrer. Hoje sou jornalista.

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Ana Marta M. Flores
Nano-Memória

PhD in journalism, fascinated by #trendstudies #innovation #fashion #digitalmethods ⨳ writes for iNOVA Media Lab | Nephi-Jor | Trends and Culture Management Lab