Silêncio e Pecado

Chris Sant'ana
MEM▲
Published in
2 min readAug 3, 2018

É no silêncio, o mesmo silêncio

sempre diferente, sempre mais barulhento.

Nesse silêncio, enquanto é noite,

e lá fora cai o orvalho. Nesse velho silêncio,

reencarno, vejo imagens diante meus olhos

e sinto novamente o toque do passado.

Os anos passam, mas no silêncio a vida

se resume em horas. Não seria necessário

que um historiádor investigasse. Nada que foi

registrado é o que vejo enquanto me calo, e

em lágrimas e sorrisos, o fluxo constante e volátil

de memórias empoeiradas e cintilantes se alternando

numa melodia fora de compasso.

Perdão, perdão as vezes murmura a consciência.

Outras apenas se tornam fogo, queimam a face

no vermelho que se move nos tubos da carne.

Culpa, orgulho, gratidão e meláncolia todas

se resumem em imagens, vozes e os personagens

que como ventos passam.

E assim é o vento, imprevísivel de fato, alguns

apenas passam. Outros ficam, mesmo como uma brisa

fraca mas agrádavel. Alguns apenas percorrem outros lugares,

distante ao tato e que de repente tornam o azul em cinza

e fazem do silêncio, tempestade.

Ainda que escreva, ainda que descreva

não saberia a quem sopro meus ventos, não saberia dizer

se toda a minha vida, ou apenas um diálogo isolado.

Ou todos os verdadeiros, se apresentassem como falsos.

E assim, que meu silêncio diário murmura aos ouvidos

eu sozinho inalcançável, com o espírito distante

visito meus mortos e amáveis pecados.

--

--