Silêncio e Pecado
É no silêncio, o mesmo silêncio
sempre diferente, sempre mais barulhento.
Nesse silêncio, enquanto é noite,
e lá fora cai o orvalho. Nesse velho silêncio,
reencarno, vejo imagens diante meus olhos
e sinto novamente o toque do passado.
Os anos passam, mas no silêncio a vida
se resume em horas. Não seria necessário
que um historiádor investigasse. Nada que foi
registrado é o que vejo enquanto me calo, e
em lágrimas e sorrisos, o fluxo constante e volátil
de memórias empoeiradas e cintilantes se alternando
numa melodia fora de compasso.
Perdão, perdão as vezes murmura a consciência.
Outras apenas se tornam fogo, queimam a face
no vermelho que se move nos tubos da carne.
Culpa, orgulho, gratidão e meláncolia todas
se resumem em imagens, vozes e os personagens
que como ventos passam.
E assim é o vento, imprevísivel de fato, alguns
apenas passam. Outros ficam, mesmo como uma brisa
fraca mas agrádavel. Alguns apenas percorrem outros lugares,
distante ao tato e que de repente tornam o azul em cinza
e fazem do silêncio, tempestade.
Ainda que escreva, ainda que descreva
não saberia a quem sopro meus ventos, não saberia dizer
se toda a minha vida, ou apenas um diálogo isolado.
Ou todos os verdadeiros, se apresentassem como falsos.
E assim, que meu silêncio diário murmura aos ouvidos
eu sozinho inalcançável, com o espírito distante
visito meus mortos e amáveis pecados.