7 poemas sobre o cotidiano, o amor e a fé
Textos belíssimos que abordam a devoção a Nossa Senhora e a presença de Deus na rotina e simplicidade da vida.
Em 2015, foi sancionou a lei que criou oficialmente o Dia Nacional da Poesia, comemorado no dia 31 de Outubro, nascimento do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Para não deixar a data passar em branco, separei alguns poemas que são belos não só pela estética, mas pela riqueza do conteúdo. Recomendo aprecia-lós em um lugar com pouco movimento e, se possível, ouvindo alguma música relaxante, como canto Gregoriano.
Homilia de São Bernardo de Claraval a Virgem Maria
“Se se levantarem os ventos das provações, se tropeçares com os obstáculos da tentação, olha para a estrela, chama por Maria.
Se te agitarem as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por Maria. Se a ira, a avareza, ou a impureza arrastarem violentamente a nave da tua alma, olha para Maria. Se, perturbado pela recordação dos teus pecados, desorientado com a fealdade da tua consciência, temeroso ante a ideia do Juízo, começares a afundar-te no poço sem fundo da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria da tua boca, não se afaste do teu coração; e para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se lhe rogas, não te perderás se nEla pensas. Se Ela te segurar a mão, não cairás; se te proteger, nada temerás; não te cansarás, se Ela for o teu guia; chegarás, felizmente, ao porto, se Ela te amparar”.
Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo
O mundo inteiro espera a resposta de Maria.
Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem — tu ouvistes — , mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou.
Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia.
Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.
Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora. Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostado a teus pés.
E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados; enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.
Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; diz uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.
Por que demoras? Por que hesitas: Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, tua modestia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.
Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! Se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquilo que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).
(Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade — Hom. 4, 8–9: Opera omnia, Edit. Cisterec. 4, [1966], 53–54. Séc. XII).
Adélia Prado
Amor violeta
O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco. Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida.
Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 83
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Terra de Santa Cruz, Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 25.
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”,
o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
Poema retirado do Diário de Santa Faustina
Solidão — meus momentos prediletos.
Solidão — mas sempre Convosco, Jesus e Senhor.
Junto ao Vosso Coração passo horas agradáveis
e junto Dele minha alma encontra descanso.
Quando o coração está repleto de Vós e cheio de amor,
e a alma arde com um fogo puro,
então no maior abandono a alma não sente solidão,
porque descansa em Vosso seio.
Ó solidão — momentos da mais elevada companhia.
Embora abandonada por todas as criaturas,
afundo-me toda no oceano da Vossa Divindade,
e Vós ouvis ternamente as minhas confidências.
Pensou em garimpo de roupas femininas, resgate de objetos, artesanato e boas ideias? Pensou na Casa 10/12!