Beth Cheirosinha?

Amanda Amora
Menos é mais
Published in
3 min readMay 24, 2017

Belém do Pará é quente. O toró tem hora marcada, daquele jeito que você combina compromissos para antes ou depois da chuva. O tempo é úmido e como eles dizem, você fica na “brea”.

No bairro da Cidade Velha, conheci Dona Beth Cheirosinha, que irradia felicidade e bom humor, assim que me viu abriu um sorriso e gritou “Te abicóra mana, já já tenho minha hora de almoço”.

Fiz um bate papo com Beth para entender um pouco melhor a cultura das erveiras nortistas.

Dona Beth, muitíssimo prazer, como vai? Me conte um pouco da sua história, desde a infância, até os dias atuais:

Bem, deixa eu me apresentar, eu sou a Beth Cheirosinha daqui do Ver-o- Peso de Belém do Pará. Eu trabalho com as ervas medicinais a 49 anos.

Então veja bem, essa atividade era da minha vó, passou conhecimento para a minha mãe, a minha mãe passou pra mim e eu já estou passando para filhos e netos, é a quinta geração.

As ervas elas vem dos interiores de Belém: Lá de Abaetetuba, Barcarena, Boa Vista. Essas ervas são muito procuradas, então aqui na minha barraquinha eu sou solicitada pelos canais de televisão, eles me procuram pra fazer filmagem, documentários.

E a senhora acredita em tudo o que vende? Ou somente no que usa?

Eu acredito em tudo que eu vendo, porque eu também uso! Uso as plantas, uso as velas, dou banho nos meus filhos e nos meus netos e vejo o resultado da cura. Por isso eu acredito.

E quem deu o nome para as ervas foram os índios, a maior parte das nossas ervas elas são indígenas, tá entendendo? Aqui no nosso setor de trabalho nós temos algumas ervas, sementes e raízes africanas, mas elas não tem o potencial que a indígena tem, as que mais saem são as indígenas.

Então o que, exatamente, é vendido na sua barraquinha?

Bem, eu vendo ervas pra banho e ervas pra chá. Existem dois tipos, uma de descarrego pra tirar o mau olhado, olho gordo, inveja, aborrecimento e as outras são atrativas, do dinheiro, do homem, do amor, do negócio.

As de descarrego são:

Pó de Alho

Comigo Ninguém Pode

Ei de Vencer

Vence Batalha

Peão Roxo

Quebra Feitiço

Quebra Barreira

E as atrativas:

Do dinheiro — Chama Dinheiro

Dinheiro em Penca

Ganha aqui, ganha aculá

Folha da fortuna

Uirapuru

Abre os caminhos da felicidade

Do amor: Carrapatinho

Agarradinho

Chega-te a mim

Chora nos teus pés

Pega não te larga

Faz querer quem não te quer

Vai buscar quem tá longe

Queira não queira, tem que te querer

Amansa as pessoas bravas (homem ou mulher):

Amansa

Abranda

Quebra chibanca

Disciplina

Cala a boca

Cachorrinho

Sentado, Calado

Se tiver alguma história engraçada desses anos trabalhando como erveira, é hora de falar tudo:

Eu adoooro que essa mulherada toda vem atrás de homem, os homens também vem atrás de mulher! E contam os problemas deles, que a mulher foi embora, dai já vejo um atrativo do amor.

Já as mulheres chegam “ai o que é que eu faço? Eu não quero mais que o meu marido arrume mulher na rua”, eu digo logo pra tirar a medida do negócio, colocar no congelador que ele vai servir só pra ti, na rua ele não vai levantar nem gente morta!

Dai elas voltam “o homem tá parece uma galinha dentro de casa”.

Eu ensino pra colocar 7 vezes o nome do homem na garrafada de tamaquaré e passar nas coisas dele que é pra ele ficar sentado calado, bem pomba lesa!

O homem não pode ser rebarbado, bruto, estupido e ignorante. Eles não vivem sem a gente, nós também não vivemos sem eles, então vamos ter compreensão entre os dois.

E você ficou confuso com os nomes? Normal! A cultura dessas mulheres é extremamente rica; com nomes, ervas, saberes desconhecidos e funções mais desconhecidas ainda.

Gostou da Beth Cheirosinha? Quais outras culturas vocês gostariam de conhecer?

Comenta aqui!

E fique com essa música que é um gostinho do Pará:

https://www.youtube.com/watch?v=KzHeaa1lSpw

--

--