Fígado maldito

Thais Morais
Menos é mais
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3 min readMay 24, 2017

No último post, pedi ajuda aos meus amigos para saber o que eles não gostavam de comer. Muita coisa foi citada e, confesso, fiquei surpresa com algumas (gente, como pode não comer salsinha??), mas não tem jeito: o fígado parece ser mesmo uma das comidas mais rejeitados da gastronomia.

Depois de me dar conta de quão grande era a impopularidade do prato, resolvi ir atrás de alguma coisa que pudesse nos convencer a, pelo menos, tentar comê-lo. Encontrei informações nutricionais bastante relevantes e uma receita italiana bastante tradicional e popular por lá.

O fígado é um alimento muito nutritivo e rico em vitaminas. Segundo o site da ANVISA , 100g de fígado de boi equivale a 48% da necessidade diária de ferro de uma pessoa adulta. O ferro é o principal nutriente no combate à anemia, por isso as mães insistem tanto para que os filhos comam bife de fígado quando pequenos, época em que a doença é muito comum.

Entre as vitaminas presentes no alimento, estão a A, B12, B5, B6 e C e os compostos benéficos ácido fólico, riboflavina, selênio, cobre e zinco. Como tudo tem seu lado ruim, o fígado de boi apresenta um alto grau de colesterol e gorduras saturadas, mas o prato continua sendo considerado um alimento saudável em razão dos vários nutrientes e vitaminas.

Para completar, um simples bifinho de fígado de 100g contém 48% da necessidade diária de proteína para um adulto. Não dá pra negar que aquele pedaço de carne de gosto terroso (eca!) é um alimento bem completo, né?

Mas como o foco deste blog é gastronomia e não nutrição, vamos ao que interessa, né? A receita italiana que eu mencionei no começo do post chama-se fegato alla veneziana ou, em português, fígado a veneziana.

A receita é originária da cidade de Veneza, localizada na região de Vêneto, no nordeste da Itália. Ao fígado são adicionadas cebolas, com o intuito de retirar o gosto terroso da carne. Os romanos antigos já tinham feito isso muito antes dos venezianos, diga-se de passagem, adicionando figos ao fígado (fegato coi fichi) para suavizar o sabor da carne.

Na receita veneziana, ao invés de figos, passaram-se a adicionar cebolas, ingredientes mais fáceis de encontrar. As cebolas cumprem perfeitamente o seu papel de atenuar o gosto de sangue, quase ferroso, da proteína. Além das cebolas, o vinagre balsâmico também é usado para umedecer o prato durante o cozimento.

Exigentes que são, os italianos não usam qualquer cebola mas, sim, as brancas de Chioggia, uma província de Veneza. Tradicionalmente, utilizava-se o fígado de porco no preparo mas, hoje em dia, é muito mais comum encontrar o prato feito com fígado de vitela, órgão de gosto menos intenso.

Assim, os ingredientes da receita, que rende quatro porções, são: 600 gramas de fígado, duas cebolas brancas grandes picadas, aproximadamente 50 gramas de manteiga, 4 colheres de sopa de azeite de oliva extra virgem de boa qualidade, uma colher de sopa de aceto balsâmico, um maço de salsinha (ambos opcionais), sal e pimenta do reino a gosto.

O modo de preparo é muito simples: refogue as cebolas na manteiga e no azeite. Quando elas estiverem douradas, acrescente o vinagre (se for usar) ou duas colheres de água e deixe ferver de 15 a 20 minutos em fogo baixo. Em seguida, adicione o fígado cortado em tiras e a salsinha. Cozinhe por não mais que cinco minutos, acrescentando o sal e a pimenta do reino. Sirva imediatamente. Se o fígado for reaquecido, endurece.

Se me perguntassem qual a minha comida preferida, eu teria uma lista imensa de pratos para elencar. Se a questão, porém, fosse sobre o que eu não gosto, teria um pouco mais de dificuldade. Eu não sou enjoada para comer, mas realmente não gosto de fígado. Esta receita italiana, no entanto, parece bem apetitosa. Acho que vou deixar um pouco meus receios de lado e tentar dar mais uma chance para o pobre fígado.

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Thais Morais
Menos é mais

Estudante de Jornalismo, 34 anos, fã de falar e escrever sobre comida. E comer, é claro.