O que é Ethereum: O protocolo que possibilitou ao blockchain voos mais altos

Lucas Pinsdorf
Blog Mercado Bitcoin

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Por Blockchain Insper

Um protocolo com a capacidade de executar de forma automática contratos pré programados: este é o Ethereum. No entanto, suas aplicações não se limitam a isso. A sua grandiosidade está na capacidade de seus idealizadores, especialmente Vitalik Buterin, em observar as características do protocolo do Bitcoin e compreender a profundidade da tecnologia além das funcionalidades já propostas e existentes. A criação do Ethereum foi pautada em aprofundar ainda mais o impacto do blockchain na vida cotidiana. Suas aplicações nos deram insumo para almejar uma sociedade mais descentralizada. A fim de esmiuçar este protocolo, faremos uma série de três artigos, trazendo ao leitor todas as informações necessárias para a compreensão do protocolo, seu passado e suas perspectivas futuras.

Uma breve definição muito interessante do blockchain pode ser encontrada no site do Ethereum. A tecnologia é definida como uma enorme infraestrutura compartilhada globalmente, capaz de movimentar valor e representar a propriedade privada. A plataforma tem como objetivo criar aplicações associadas ao blockchain, que rodem exatamente como programadas. Idealmente, não há possibilidade de censura, fraude ou interferência por terceiros. Além disso, disponibiliza um ecossistema para que desenvolvedores criem aplicativos descentralizados que funcionam no próprio protocolo. Apesar de ser um projeto relativamente novo, produtos com gigantesco potencial para reestruturar a sociedade já são observáveis. Os projetos focam nas mais diversas áreas: vão desde sistemas de votos online até instituições completamente descentralizadas e autônomas.

Durante esta série de artigos, falaremos sobre a criptomoeda que alimenta o protocolo (i.e. Ether), a fim de trazer um esclarecimento de sua funcionalidade. Além disso, traremos ao leitor de forma acessível as tecnicidades do protocolo, e suas perspectivas futuras. No entanto, nada disso faz sentido sem entender a história de seu surgimento até o presente, e sua aplicabilidade.

História do Ethereum

O Ethereum teve seu White Paper publicado no final de 2013, por um jovem russo-canadense de 19 anos chamado de Vitalik Buterin. É dito que a ideia por trás do Ethereum surgiu depois que um personagem de um jogo online foi mudado a partir do consenso apenas entre os desenvolvedores, sem envolvimento da comunidade de uma forma ampla. Vitalik, por ser o criador e a principal figura, exerce gigantesca influência na plataforma. Um boato de sua morte, por exemplo, causou uma queda de mais de 12% do seu token nativo, o Ether. A grande diferença do Ethereum comparado com o Bitcoin é a possibilidade de criação e execução de smart contracts — contratos inteligentes, em tradução direta. Esses smart contracts, de forma muito simplificada, são códigos que se auto executam na plataforma, quando condições pré-estabelecidas se concretizam.

A partir do lançamento do White Paper, o Ethereum fez um dos primeiros ICOs, oferta inicial de moedas, em julho de 2014. O ICO recebeu 18 milhões de dólares para a construção da infraestrutura do blockchain em si, emitindo 60 milhões de Ethers em troca. Ether, a moeda propriamente dita, é o combustível para usar a plataforma. No dia 30 de julho de 2015, o blockchain foi finalmente lançado, com o gênesis block (i.e. o primeiro bloco já minerado), usado para contabilizar os gastos dos 18 milhões de dólares.

Em 2016 a theDao, organização autônoma descentralizada, foi lançada, sendo construída em cima da blockchain do Ethereum. Ela foi idealizada para ser um fundo de private equity, no qual os usuários que tivessem seu token poderiam votar em quais empresas que seriam financiadas. O ICO arrecadou 12 milhões de Ethers, equivalentes a 150 milhões de dólares na época, que seriam usados para investir nas empresas. Na teoria, a ideia pareceu ótima. Porém, na prática os resultados foram catastróficos.

Um erro no código permitiu que um hacker roubasse 33% dos fundos, mais de 50 milhões de dólares em Ether. Ao perceber isso, um grupo de hackers benevolentes usaram da mesma falha para coletar o resto do dinheiro e colocá-lo em uma conta segura, impedindo que mais fundos fossem comprometidos. A situação poderia ser revertida, pois bastava alterar o histórico dos blocos que continham as transações do roubo para que os Ethers fossem devolvidos ao seus legítimos donos, através de uma medida geralmente conhecida como “Fork”.

Porém, essa atitude não era um consenso e um extenso debate começou.

Uma parte da comunidade acreditava que a prioridade deveria ser os usuários; esses não poderiam ser prejudicados pela ação de um malfeitor. A outra, no entanto, via a proposta com receio, pois era contra todos os ideais pregados. O principal deles, dando à rede blockchain as principais características de ser tão revolucionária, que é não depender da confiança e ser imutável, deveria tornar a rede teoricamente imune a qualquer tipo de censura ou interferência de terceiro, por quaisquer que sejam os motivos. Esses princípios estão, inclusive, escritos no site oficial do Ethereum.

Entretanto, com a mudança, a rede não seria mais imutável e nem livre de interferências, o que abriria precedentes perigosos que poderiam descaracterizar a própria tecnologia.

A controvérsia foi tanta que o Ethereum original sofreu um fork, ou seja, foi divido em dois, virando tokens diferentes, o Ethereum Classic (sem as mudanças) e o Ethereum (com as mudanças).

Dapps Ethereum & Aplicações

Dapps são aplicativos que funcionam de forma descentralizada, no entanto, vale ressaltar que eles não precisam necessariamente usar blockchain. Um exemplo disso é o PopcornTime, que usa uma rede Peer-to-Peer tradicional. Os tipos de softwares, baseados em blockchain, no entanto, são os mais observados e comuns atualmente.

O Ethereum, devido a sua capacidade de rodar códigos em seu blockchain, se tornou a principal plataforma para o desenvolvimento desse tipo de aplicativos. Uma série de recursos foram criados, com o intuito de facilitar a vida dos programadores e, por consequência, disseminar ainda mais essa tecnologia. Entre os principais recursos estão a Solidity, uma linguagem de programação baseada em C++, Python e Javascript, focada no desenvolvimento de contratos inteligentes e o protocolo ERC, que regula a emissão e troca de tokens, o que torna os ICOs um pouco mais simples.

Assim, o Ethereum passou a ser conhecido não só como um sistema para aplicações monetárias, mas também como a “mãe” dos Dapps. Suas ferramentas são tão eficientes e poderosas que, atualmente, a maioria dos ICOs usam sua plataforma. Dessa forma, é possível observar que o protocolo é o maior responsável pelo boom dos ICOs em 2017.

Toda tecnologia tem algum jogo que a populariza; o Farmville fez isso para as redes sociais, o Angry Birds para o aplicativos de celular e a CryptoKitties fez isso para o Ethereum. CryptoKitties é um jogo, no qual o usuários colecionam gatos virtuais, tendo a opção de comercializá-los usando ether. Apesar de simples, o jogo contou com mais de 180 mil usuários e foi responsável por congestionar toda a rede.

O jogo teve um papel essencial no aprimoramento do protocolo, pois além de popularizar a plataforma, provou seu conceito e apontou alguns erros a serem aperfeiçoados. Atualmente existem milhares de Dapps que rodam na plataforma focando em diversos objetivos que têm a capacidade de revolucionar nossa sociedade. Entre os de maior destaque são: Arcade City, um uber sem intermediário e a Atlant, uma plataforma de aluguel e compra de imóveis.

Voos Altos

A revolução causada pela disseminação da plataforma ainda não está completa, existem milhares de aplicações, dentre as citadas acima, que ainda não possuem capacidade de adoção em massa. No entanto, elas abrem precedentes para o almejo de voos mais altos. A revolução dos ICO’s contesta toda a concepção de arrecadação de recursos por meios tradicionais, assim como desafia a regulação vigente. A tokenização de serviços, jogos e objetos traz possibilidades de uma interação nunca antes vista entre a tecnologia e as atividades mais básicas humanas. Por fim, é importante ressaltar uma característica essencial que o Ethereum trouxe para o mundo, a liberdade de pensar sem censura, de sonhar grande e de criar negócios sem a necessidade de pedir permissão a um agente superior. O protocolo disseminou a verdadeira liberdade artística, porém, desta vez com a tecnologia envolvida.

Sobre os Autores:

Henrique Thomé
Estudante de engenharia mecatrônica, Content Research na Blockchain Insper e entusiasta de tecnologias disruptivas.

Theodoro Malentachi
Estudante de economia, liberal, geek, hodler e trader de crypto. Content Research na Blockchain Insper.

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Lucas Pinsdorf
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Cryptocurrency Analyst | Mercado Bitcoin | @lucaspinsdorf