Torne-se uma peça-chave no seu time, entregando valor além do código

Meu objetivo com este artigo é despertar uma reflexão nos desenvolvedores front-end, incentivando-os a expandir suas mentes e enxergar outras oportunidades de entregar valor para suas equipes e empresas, além do código.

Quando falamos de desenvolvedores, não estamos nos referindo apenas as pessoas que escrevem código. Vai muito além de escrever linhas de HTML, JavaScript e CSS. A implementação desses arquivos é apenas o resultado de um processo que busca oferecer muito mais do que apenas o código-fonte. Visa fornecer soluções, resolver problemas das pessoas e, por trás disso, existem muitos outros processos, como análise de requisitos, definições de arquitetura, pesquisas, prototipação, entre outros.

É fundamental que todo desenvolvedor compreenda que o objetivo final de seu trabalho não é apenas entregar o código-fonte, mas entregar valor. Ao adotar essa mentalidade, você começa a enxergar e aprimorar sua atuação dentro de sua equipe e empresa. Pensando assim, você começa a considerar muito mais do que apenas o código-fonte e vai além do presente e do agora, concentrando-se no impacto do que está entregando, nas interações com seus colegas de equipe, nas projeções e nos cenários futuros.

Mas como podemos entregar valor além do código?

Existem inúmeras maneiras de ajudar sua equipe e empresa a alcançar seus objetivos. No entanto, antes de discutirmos essas outras formas de agregar valor além do código, é importante investir no aperfeiçoamento profissional em áreas que vão além da programação — estamos falando das soft skills.

Cada vez mais empresas estão em busca de desenvolvedores com habilidades sociais, de comunicação, gestão e visão. Essas características se enquadram na categoria de soft skills, que são extremamente valorizadas nos dias de hoje por não serem tão simples de serem adquiridas. E quando digo “simples”, não estou diminuindo o mérito das habilidades técnicas, mas sim enfatizando que as soft skills exigem um investimento adicional por parte do profissional. Elas envolvem maturidade e alinhamento cultural, e raramente podem ser aprendidas em um curto período de tempo ou superadas por traços de personalidade, criação, ambiente, entre outros.

Aqui vai um questionamento:

Será que a senioridade de uma pessoa é estritamente vinculada a capacidade técnica?

Eu acredito que não, é muito comum para desenvolvedores, nos mais variados níveis de senioridade, entenderem “o seu melhor” como entregar um projeto rápido, com um stack atual, as melhores tecnologias, design pattern, design system e etc. E não que isso seja menos importante, mas deveria representar apenas uma porcentagem da sua entrega.

Como Team Lead, tive a oportunidade de visualizar e acompanhar diversos Planos de Desenvolvimento Individual (PDIs) dos meus liderados. Percebi que, em sua grande maioria, o foco nesses PDIs era quase que exclusivamente voltado para a parte técnica. Isso revela uma carência nos debates atuais, onde se discute pouco sobre a importância das soft skills.

Algumas das soft skills que considero cruciais para os desenvolvedores são:

Comunicação:

Seja presencialmente ou remotamente, é imprescindível que o desenvolvedor consiga se comunicar de forma clara e direta, tanto com pessoas quanto com equipes e diferentes perfis. Para desenvolver essa habilidade, procure sempre usar uma linguagem acessível ao seu interlocutor, seja detalhista e didático, mas tome cuidado para não ser prolixo. Outro ponto importante para uma boa comunicação é praticar a escuta ativa, evite interromper quando outras pessoas estiverem falando e mantenha o foco na conversa.

Colaboração:

Essa soft skill é crucial para os desenvolvedores que desejam entregar valor além do código. Cada vez mais é necessário interagir com outros profissionais, como desenvolvedores, designers, equipe comercial, suporte, dados e infraestrutura. Portanto, procure se interessar genuinamente pelo trabalho dos outros e encontre maneiras de contribuir como desenvolvedor.

Organização:

Ter um bom senso de organização é fundamental para conseguir lidar com tarefas grandes e complexas, ao mesmo tempo em que colabora e ajuda sua equipe com ideias, sugestões de projetos, processos e protótipos. Para fortalecer essa habilidade, utilize melhor as ferramentas de gerenciamento de tarefas e esteja sempre alinhado em relação a prazos e prioridades.

Inteligência emocional:

Saber lidar com pressão, resolver problemas difíceis e lidar com a síndrome do impostor é uma das soft skills mais desafiadoras de adquirir. Minha recomendação é buscar o autoconhecimento, a confiança em si mesmo e a resiliência, que podem ser desenvolvidos por meio de acompanhamento psicológico, leitura de livros e até mesmo por meio da troca de experiências com outros profissionais. Não se esqueça de estar sempre alinhado com seu líder e gestor em relação ao seu desempenho. Não fique apenas no autojulgamento, busque feedbacks periódicos.

Além das soft skills e das skills de front-end, é altamente recomendado que você, que deseja colaborar com seu time e empresa de outras maneiras além da codificação, busque aperfeiçoar-se ou pelo menos conhecer algumas áreas relacionadas à sua. A seguir estão algumas sugestões:

Design:

Conhecer melhor essa área traz vários benefícios, como compreensão do processo de criação, melhor implementação dos protótipos, resolução ágil de problemas de usabilidade e experiência do usuário, além de melhor colaboração com os designers, oferecendo ideias e soluções tecnicamente viáveis.

Produto:

Para um front-end que almeja assumir papéis de liderança ou cargos mais estratégicos, é fundamental aprofundar-se nesse tema. Estudar a área de produto proporciona uma compreensão mais profunda do contexto do produto, como o mercado, as necessidades dos usuários e as metas do negócio. Isso facilita a colaboração com equipes de produto, estimula a identificação de oportunidades de melhoria e alinha o trabalho com a estratégia do produto.

DevOps:

É importante que o desenvolvedor front-end compreenda o que ocorre após a finalização de suas tarefas e o commit de seu código no GitHub. Entender o funcionamento do CI/CD da empresa, compreender as necessidades de escalabilidade de projetos e diagnosticar problemas de desempenho e disponibilidade da aplicação são aspectos relevantes para o desenvolvedor front-end.

Backend:

Embora não seja necessário se tornar um desenvolvedor full stack, conhecer melhor a área de backend proporciona uma compreensão mais sólida da manipulação de dados, das camadas de segurança e do desempenho. Isso permite uma resolução mais eficiente de problemas técnicos complexos que envolvem front-end e back-end, agilizando o processo de desenvolvimento e melhorando a qualidade geral da aplicação.

Metodologias Ágeis:

Esse é outro tema de extrema importância para quem deseja liderar uma equipe de desenvolvimento. Além disso, um desenvolvedor front-end com conhecimento em Metodologias Ágeis está preparado para lidar com alterações de escopo, prioridades e responder de maneira rápida e eficiente às mudanças.

Mas calma! não é necessário se desesperar e estudar todas essas áreas de uma vez. O ideal é aprofundar-se gradualmente em cada uma delas ao longo do tempo. Quanto mais cedo você começar, mais cedo colherá os benefícios desses aprendizados e se tornará uma peça-chave na equipe em que atua.

Entregando valor além do código

Amplie seu campo de visão, observe e encontre lacunas:

Agora que você já está dedicado à parte técnica e ao aprimoramento de suas soft skills, mas deseja contribuir ainda mais com sua equipe além das tarefas de codificação. Para alcançar isso, é importante respirar e expandir seu campo de visão. É comum nos envolvermos automaticamente em sprints e tarefas, sem realmente perceber o que está acontecendo ao nosso redor. Portanto, pare um momento e observe o que está acontecendo em sua equipe: as entregas do time, o desempenho de seus colegas, não apenas os desenvolvedores, mas também os designers, Product Owners, Project Managers, seu líder e outras áreas, como infraestrutura e dados. Preste atenção especial também às retrospectivas. Após essa observação, você identificará várias lacunas ao seu redor. Ao reconhecê-las, você começará a encontrar espaço para entregar valor além do código.

Atue nas lacunas:

Após ampliar seu campo de visão e observar tudo que está acontecendo ao seu redor, é normal que você encontre algumas lacunas, como por exemplo:

• A comunicação entre os integrantes da equipe não está muito boa;
• As tarefas estão com descrição incompleta ou confusa;
• Telas e elementos visuais estão despadronizados;
• O tempo de deploy da aplicação está demorando demais;
• Estou percebendo meus colegas desenvolvedores desmotivados;
• Precisamos compartilhar melhor os conhecimentos de front-end entre os desenvolvedores da empresa;
• As tarefas de front-end estão ficando bloqueadas com frequência durante a sprint;

Se você chegou até aqui, parabéns, já deu um passo importante. Agora, bora atuar nessas lacunas. Mas como começar?

Antes de começar a atuar é importante entender a priorização dessas lacunas e quais delas entregam mais valor.

Vou detalhar algumas maneiras pelas quais você pode atuar nos exemplos que mencionei acima:

• A comunicação entre os integrantes da equipe não está muito boa: Sugira criar um canal de comunicação mais rápido ou agendar chamadas em horários específicos para que os desenvolvedores possam se comunicar melhor entre si.
• As tarefas estão com descrição incompleta ou confusa: Comunique sua insatisfação ao seu gestor ou líder, trazendo esse ponto para ser discutido durante as reuniões de retrospectiva. Utilize as reuniões de refinamento para aprimorar as definições e descrições das tarefas.
• Telas e elementos visuais estão despadronizados: Reserve um tempo semanal para tratar desse assunto com a equipe de design. Levante essa questão durante as reuniões de planejamento ou de início de projeto. Compartilhe seu ponto de vista com os outros front-ends e sugira a criação de um design system ou padrões visuais.
• O tempo de deploy da aplicação está demorando demais: Tente identificar se existem bibliotecas que não estão sendo utilizadas e busque soluções para melhorar o desempenho da aplicação. Converse com o responsável pelo time de DevOps e trabalhem juntos em busca de uma solução.
• Estou percebendo meus colegas desenvolvedores desmotivados: Elogie mais seus colegas pelo trabalho que realizam, ofereça mais feedback à eles. Busque ter uma relação interpessoal melhor com eles e estimule-os a apresentar workshops ou a se envolver em tarefas mais desafiadoras.
• Precisamos compartilhar melhor os conhecimentos de front-end entre os desenvolvedores da empresa: Crie reuniões periódicas entre os desenvolvedores front-end. Aproveite para criar um canal de troca de conhecimentos, compartilhando soluções e problemas que você está vivenciando com eles.
• As tarefas de front-end estão ficando bloqueadas com frequência durante a sprint: Compartilhe isso com seu líder. Busque entender os motivos desses bloqueios e aproveite para evoluir outros aspectos da aplicação, como débitos técnicos e atualizações de bibliotecas.

Seja colaborativo:

Atuar nessas lacunas nem sempre é algo rápido e simples, e quando adicionamos as tarefas do dia a dia, acabamos ficando cansados e muitas vezes sem tempo para novas iniciativas. No entanto, podemos entregar valor além do código de outras formas mais simples, formas que estão bem diante de nós no nosso dia a dia. Estou me referindo a ser mais presente nas reuniões, ser mais opinativo, mais sugestivo.

Como mencionei anteriormente, é importante para nós, desenvolvedores front-end, estudarmos outras áreas relacionadas às nossas. E nessas reuniões de planejamento, de produto, de kickoff e nas cerimônias do time como um todo, é o momento ideal para participarmos, expressarmos nossas ideias, sugestões. Essa forma de contribuição é uma ótima maneira de entregar valor. É possível que a sua ideia seja a solução certa para determinado problema. Te garanto que ver uma ideia nossa ir para produção é tão satisfatório quanto ver nosso código sendo enviado para a master.

Colhendo feedbacks da sua atuação:

Agora que você já está liderando muitas iniciativas, colaborando com toda a equipe, é hora de colher os feedbacks sobre todos os seus esforços. Este é o momento ideal para entender o impacto das suas ações, identificar áreas em que você pode melhorar e reconhecer os pontos em que você teve sucesso. Peça feedbacks ao seu líder e aos seus colegas. É muito gratificante saber que conseguimos melhorar o dia a dia da nossa equipe.

Conclusão:

Identificar e atuar em todos esses pontos não foi fácil para mim e não aconteceu da noite para o dia. Foram anos de trabalho árduo, passo a passo, mas quando menos esperei, já havia alcançado um lugar que nunca imaginei no início da minha jornada. Entregar valor além do código é um passo muito importante para alcançar senioridade, nos aproximando de cargos estratégicos e posições de liderança. Ser capaz de entregar tarefas rápidas e de alta qualidade nos torna ótimos desenvolvedores, mas ir além do código nos torna peças-chave em qualquer equipe e empresa em que estivermos.

Aproveito o espaço para me apresentar…

Eu me chamo Lucas Porto e sou Team Lead Front-end na Mercafacil, uma empresa GPTW com missão de potencializar a conversão de vendas no varejo a partir da melhor experiência de consumo.

Nossos valores são:

• A partir das pessoas;
• Transparência em tudo;
• Impulsionados pela criatividade;
• Ser sempre melhor que ontem;
• Obcecados pelo WOW;
• Inteligência inspiradora;
• Criadores de experiências positivas.

Para quem se interessar, temos muitas vagas em aberto para nosso time de Engenharia!

Mercafacil

E para quem gostou desse artigo, temos muitos outros como:

• Atitudes que contribuíram com meu desenvolvimento no Q4 e que você pode tentar adotar também.
• 5 coisas que Dark Souls e Bloodborne me ensinaram sobre programação.
• De Suporte técnico à QA: Importância do protagonismo profissional, construção de uma nova mentalidade e baby steps para transição carreira.