Resumo do DEX18 - Parte 1

Minhas notas e percepções sobre o DEX18, um evento democrático, aberto, descontraído e interativo, propício para fluir a criatividade e boas ideias.

Will Matos
Mergo
8 min readAug 1, 2018

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O Design & Experience 2018 (DEX18) foi um evento de Design, onde foram discutidos diversos assuntos dentro do universo da experiência do usuário (UX). Esse é um tipo de evento que atrai designers, colaboradores e simpatizantes de UX Design. Fiz algumas anotações no Google Keep e quero relatar como foram as palestras.

Temas sobre inclusão e acessibilidade estão em alta nesse início de semestre, já que foi muito abordado no último TDC desse ano, foram debatidos no DEX18 a todo vapor, gerando muitas ideias interessantes.

A arena era 360 graus (em formato de similar a um estádio) e os palestrantes ficaram no palco central e em volta, a plateia se acomodou em pufes e cadeiras. Haviam cadeiras vazias e essas estavam ali para a platéia discutir os assuntos trazidos pelos palestrantes (que foram votados pela platéia para decidir a ordem das palestras).

O apresentador do evento Adriano Schmidt fez dinâmicas iniciais para aquecer nosso corpo e mente, e isso colaborou para criar um clima descontraído e animado por todo evento. Essas iniciativas trazem a essência do Design: ambientes democráticos, abertos, descontraídos e interativos são férteis para fluir a criatividade e boas ideias.

No DEX18, o público foi apresentado a 16 temas por diferentes especialistas, e podia votar na hora no seu assunto preferido. Depois, os 06 temas mais votados entraram na grade de programação do evento.

Empatia

O primeiro tema abordado pela especislista Tati Fukamati. Ela iniciou o tema falando sobre a empatia já que é quase um mantra para nós Designers que precisamos dessa bio ferramenta para entender os usuários.

Existe uma frase que comum no Brasil que diz para não fazer com os outros o que não desejamos para nós.

Porém, ela desmistifica esse dito popular na empatia. O correto é pensar em não fazer para os outros o que desejamos para nós. Não podemos tratar as pessoas igual a nós pois somos seres diferentes.

Existem dois tipos de empatia, a cognitiva e a emocional e há dois polos que exemplificam esses conceitos.

Um autista está em um polo. Especificamente na empatia emocional. São pessoas hipersensíveis aos ambientes e as pessoas. Elas sofrem muito quando estão em um ambiente de brigas ou algum tipo de choque emocional.

O segundo polo é a empatia cognitiva. Esse polo é identificado com mais intensidade nos psicopatas. Essas pessoas conseguem entender o outro de uma maneira lógica e até são capazes de prever os próximos passos das outras pessoas. São articuladores natos, mas não tem facilidade em desenvolver a empatia emocional.

No geral, as pessoas estão entre esses polos de uma forma mais equilibrada. E esse equilíbrio auxilia muito em conseguir uma empatia genuína com os outros.

Uma forma de conseguir empatia é através dos neurônios espelho. Eles são formadores de imitação entre as pessoas. Isso significa que entendemos as pessoas através de um sistema de espelhamento. Quando você sente a dor de alguém, na verdade está simulando o comportamento dela dentro de si.

Se essa imitação for utilizada com direcionamento é possível se colocar no lugar do usuário, entender suas dores, dificuldades, estresses e ansiedades dentro de uma jornada de uso do seu serviço, o que é essencial para projetar soluções que melhoram a vida deles.

O profissional de UX deve entender os usuários em variados contextos abstendo dos seus julgamentos pessoas, como um antropólogo ou sociólogo, pois as pessoas são diferentes em relação a cultura, hábitos, contextos regionais, situações econômicas, gêneros, etnias e crenças.

Sem aceitar as diferenças não é possível ter empatia. Portanto muita coisa foi discutida em relação a inclusão social e diversidade de gêneros e etnias nas empresas em prol de um organismo multicultural e criativo.

Além de ser observadores natos, os designers precisam ter os outros sentidos apurados para receber as informações dos usuários. Entender o contexto, o que é dito, visto e sentido em uma conversa com eles potencializa o entendimento dos seus desafios. É importante entender muito bem o problema antes de projetar qualquer solução.

Tati Fukamati mediando o painel sobre Empatia, um dos temas fixos do DEX18.

Design Sprints

O especialista Richard Jesus falou sobre Design Sprints no segundo painel do dia. Trata-se de uma metodologia desenvolvida pela Google Ventures, que busca integrar UX e Design Thinking e Agile com foco em produtividade e multidisciplinaridade para resolver problemas. Inicialmente essa metodologia foi implementada para resolver desafios de design em empresas de tecnologia digital, mas o conceito ampliou para outros segmentos.

Eu, Will Matos, participando do painel sobre Design Sprint no DEX18.

O livro Sprints a ideia é que o time do Sprint saia com uma resposta, positiva ou não em relação a um desafio. É importante aprender sobre uma ideia antes de implementá-la. Isso pode ser um divisor entre saber se a ideia pode ser desenvolvida ou pivotada.

A metodologia pode ser mesclada com outras. O importante entender o contexto e os problemas e conhecer outros métodos para entender qual a melhor abordagem.

Algumas pessoas mesclam o Design Sprints com técnicas do Lean Inception do Caroli, outras com Design Studio do livro Lean UX , mas o mais importante é o designer ampliar seu repertório de técnicas para colaborar no processo.

Eu por exemplo disse no evento que já utilizei o método The Three-Hour Brand Sprint duas vezes e os resultados foram muito bons para iniciar um projeto com conceitos de Branding.

Sabe quantas vezes devemos utilizar o Design Sprint?

Quantas vezes o nosso senso crítico permitir, porque ele serve para aprender rápido. Se sua equipe está em um impasse, se quer aprender algo em 2, 3, 4 ou 5 dias, o Design Sprints pode te ajudar. Contudo, vale a máxima, é possível adaptar, já que tempo e dinheiro são importantes.

Para um Sprint externo é muito difícil coordenar. É possível fazer imersões em em campo (etnográfico) e aplicar a metodologia, porém é preciso ter cautela, pois não é fácil administrar as dinâmicas em um ambiente não controlado.

Uma das hélices no DNA do Design Sprints chama-se produtividade. Existem muitos aprendizados nas dinâmicas e isso colabora para tomadas de decisão com base em testes com protótipos.

Não existe uma bala de prata nesse método e se precisar cortar testes para outro dia, tudo bem, contanto que seu aprendizado não se perca e por favor, não deixe de testar a prototipação, pois essa uma a parte fundamental no processo.

Richard Jesus mediando o painel sobre Design Sprint, 6º tema mais votado pelo público no DEX18.

Feminismo e UX

Talvez o assunto que mais ferveu a arena foi feminismo e UX, pois as discussões foram muito calorosas e emocionantes. Esse foi um assunto delicado e recheado de detalhes, iniciado pela palestrante Alda Rocha.

Segundo as discussões do dia, a síndrome de impostor assola a vida de muitas mulheres nas empresas de tecnologia. Elas demoram para aceitar que são Seniors, enquanto os homens já se impõem com mais facilidade. A maior parte das referências de sucesso do setor são de homens, C-levels de grandes corporações, sempre foram representados por homens e a falta de referência de sucesso no gênero feminino pode colaborar para elas sentirem dificuldades de se empoderar do seu verdadeiro papel e se suas competências reais.

O assunto do feminismo despertou uma questão fundamental, a diversidade. Transexualidade, mulheres afrodescendentes, mães e comunidades carentes entraram nessa discussão.

Os estereótipos e preconceitos de que uma mulher é importante em um time de UX não são a solução para o problema em questão. Existem brincadeiras de que Design é coisa de mulher, então homens designers são todos gays, mulheres são mais sensíveis e empáticas que os homens então “UX é a cara delas” e mesmo assim o mercado é predominantemente masculino.

O grande problema é que a mulher não precisa entrar em uma área por causa de um estereótipo e sim porque é um ser humano como qualquer outro que tem pontos fortes e fracos e que desenvolve a profissão igual aos homens. Não é preciso encaixar as mulheres, elas simplesmente são seres que merecem os mesmos direitos.

Transexualidade

Transexual não escolhe profissão. O preconceito é tão grande, que não sobra empregos descentes.

Elas sempre pegam o que tem de emprego no setor de tecnologia, isso acarreta em manter gaps técnicos, já que trabalhos ruins não ajudam a desenvolver nenhum profissional e isso dificulta ainda mais para as trans que tem que trabalhar dobrado para serem minimamente consideradas no mercado de trabalho.

Por falar em empatia, a “única” do evento disse que o Brasil é o país que tem menos empatia no mundo, já que é disparado o país que mais mata travestis no mundo e nós deveríamos incentivar essas profissionais dentro das empresas. 90% delas se prostituem e isso não é uma opção. A família rejeita, muitas são expulsas de suas casas e elas precisam sobreviver nesse mundo.

A diversidade nas empresas não é uma obra de caridade ou cotas é encarar realidades que colaboram por um ambiente criativo e cheio de pontos de vista diferentes, o que colabora para uma empresa ser inovadora e acima de tudo, encarar as pessoas como pessoas, sem preconceitos, sem máscaras, entendendo que existem dificuldades para algumas pessoas entrarem no mercado, mas sabendo que elas tem potencial para a saúde de uma empresa.

Um exemplo são os dados do Enem, onde muitos jovens que nunca tiveram oportunidade de ingressar em uma universidade tiram notas superiores aos que vieram de escolas particulares, portanto, existem mais fatores a serem analisados para colaboração dos funcionários dentro de uma organização.

O que estamos fazendo na nossa empresa para dar oportunidade para mulheres e trans? Além das mulheres, os próprios homens (que infelizmente opinaram pouco nessa palestra) podem incentivar os setores de recrutamento e seleção de suas empresas para trazer mais diversidade dentro da organização. Uma organização onde todo mundo é igual não inova e perde a oportunidade de ser criativa, bem vista e agradável para se trabalhar.

Alda Rocha mediando o painel sobre Feminismo & UX, 5º tema mais votado no DEX18.

To be continued…

Tenho muito mais assuntos para escrever, e estou finalizando as outras partes. Logo publicarei minhas anotações sobre o restante do evento. Aguarde :)

Quero dizer também que eu não fiquei no momento da competição de times no Quiz sobre UX com “torta na cara”, por isso quem quiser contribuir com algum relato da brincadeira para rechear mais ainda essa série de posts sobre o DEX18, meu email é reallywill@gmail.com

Público participando de dinâmicas no palco do DEX18

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